A Sombra do Passado [Completo]

Capítulo Cinquenta e oito

|Catherine|

O pânico toma conta de mim como uma maré avassaladora. Eu me debato com todas as forças, tentando me livrar do aperto cruel de Henry, mas ele é muito mais forte. Cada movimento meu parece insignificante contra a força de um soldado bem treinado como ele. Ele me arrasta como se eu fosse uma boneca sem vida, ignorando meus chutes e socos desajeitados. Sinto-me impotente, prisioneira de um pesadelo que se desenrola rápido demais para que eu possa reagir.

A escuridão da noite apenas intensifica meu medo. Estamos nos aproximando da área externa do castelo, nos estábulos. O ar úmido e o cheiro de feno me cercam enquanto ele me empurra sem cuidado para dentro. Meu coração martela tão alto que mal consigo ouvir meus próprios pensamentos, e a realidade da situação me atinge com força total: estou nas mãos de Henry, e ele é um louco.

Antes que eu possa gritar, Henry me amordaça com um trapo velho e sujo. O cheiro agridoce me faz engasgar, e meus gritos são abafados, reduzidos a gemidos desesperados. Ele me amarra com cordas grossas, apertando meus pulsos e tornozelos com força brutal. A dor lateja por todo o meu corpo, e as cordas mordem minha pele, cortando a circulação. Eu me debato ainda mais, mas a resistência só faz com que as cordas se tornem ainda mais dolorosas. As lágrimas escorrem dos meus olhos, quentes e impotentes.

Henry acaricia meu rosto com uma expressão perturbadora. O toque de seus dedos me enoja profundamente, e meu corpo inteiro se contrai em nojo e repulsa. Seus olhos estão cheios de algo doentio, uma obsessão que nunca imaginei ver em alguém que eu considerava ser meu amigo.

— Somente assim... — ele murmura, os olhos fixos em mim enquanto me olha como se eu fosse um prêmio que ele finalmente conquistou. — Somente assim poderemos ser felizes juntos, Catherine.

Eu me debato ainda mais, lutando contra as amarras, contra o horror de tudo o que está acontecendo, mas é inútil. Ele me joga dentro de uma carroça velha, coberta de feno. O cheiro de terra e palha seca me invade, me fazendo tossir. Ele cobre meu corpo com o feno, escondendo-me como se eu fosse uma carga qualquer, como se eu não fosse uma pessoa com uma vida, uma família, um marido, um filho a caminho. Meu coração dispara com a realização do que está acontecendo. Ele está me levando embora. Está me sequestrando.

A carroça começa a se mover, os cavalos trotam pesadamente enquanto Henry a conduz para fora do castelo. Posso sentir as rodas balançando sob mim, o feno se agitando ao meu redor. Meus pensamentos estão em turbilhão. Tento gritar, mas a mordaça impede qualquer som real. Tento me mexer, mas as cordas apertam meus membros com uma brutalidade que me faz gemer de dor. O desespero cresce a cada minuto, e a sensação de impotência é esmagadora.

Com o passar do tempo, o som do castelo desaparece e o ambiente ao redor muda. O barulho das rodas de madeira rangendo no chão de pedra agora ecoa na terra macia da floresta. O frio da noite se infiltra em mim, e eu tremo de medo e exaustão. Henry continua dirigindo a carroça, impassível, enquanto me leva cada vez mais para longe da minha casa, do meu marido, da minha vida. Tudo o que conheço está desaparecendo na distância, enquanto o som das folhas farfalhando e dos animais noturnos enche o ar.

Minhas lágrimas escorrem incontroláveis. Estou presa, indefesa, incapaz de escapar. Cada minuto que passa me afunda ainda mais no desespero. Sinto meu corpo estremecer de frio e cansaço. O medo é tão profundo que parece sufocar o ar ao meu redor. O que vai acontecer comigo? E se ele realmente me levar para longe e eu nunca mais ver Frederick? Meu filho... meu filho precisa de mim. Essa é a única coisa que me mantém consciente, me dá forças para continuar lutando.

Depois de longas e tortuosas horas, a carroça finalmente para. Henry desce com passos firmes, e o som de suas botas esmagando a terra me enche de terror. Ele tira o feno que me cobre e me arranca da carroça como se eu fosse um objeto qualquer, jogando-me sentada no chão frio. Meus músculos estão rígidos, doloridos de tanto tentar me soltar.

Ele me olha com aqueles olhos insanos, cheios de uma determinação assustadora. Seu olhar me examina com uma intensidade que me faz tremer ainda mais. Estou apavorada. Nunca o vi assim, nunca imaginei que ele pudesse se transformar em alguém tão perigoso, tão cruel.

— Você nunca mais vai ver o príncipe. — As palavras dele são um veneno, e meu coração se parte ao ouvi-las. — A partir de agora, você é minha, Catherine. E vai me obedecer. Vai me seguir, porque você me deve a sua vida.

Eu sacudo a cabeça, as lágrimas ardendo nos meus olhos. Tento gritar através da mordaça, mas tudo o que sai é um gemido abafado. Ele se aproxima, seu rosto a centímetros do meu, e sua mão agarra meu rosto com força, me fazendo gemer de dor. Com um movimento rápido, ele arranca a mordaça, e o ar frio entra em meus pulmões como uma lufada de desespero. Ele segura minha cabeça com força, forçando-me a olhar para ele. Seus olhos estão selvagens, fora de si.

— Você vai me amar, Catherine. — Ele sussurra, sua voz baixa e ameaçadora. — Você vai me amar com o tempo. Eu vou te ensinar a me amar, tenha certeza disso.

O horror das palavras dele me faz tremer ainda mais. Eu sei que nunca poderia amar alguém assim. Ele tenta se aproximar, seus lábios a centímetros dos meus, e a bile sobe pela minha garganta. Não posso deixar isso acontecer. Com todas as forças que me restam, reúno o que sobrou de minha coragem e lhe dou uma cabeçada forte, usando toda a raiva, o medo e o nojo que sinto. Sinto o impacto reverberar por minha cabeça, mas é o suficiente para afastá-lo.

Henry grita de dor, cambaleando para trás, e vejo o ódio crescer em seus olhos. Por um momento, penso que consegui escapar, mas então, ele vem até mim com fúria. Sua mão pesada voa em direção ao meu rosto, e o impacto é brutal. O tapa me atinge com tanta força que me faz girar, e a dor explodindo no meu rosto é seguida pela escuridão. Sinto a beirada da carroça bater na minha cabeça, um golpe seco e terrível, e então, tudo fica escuro. E a última coisa que penso antes de desmaiar é em Frederick. 

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