Capítulo Vinte e Nove

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|Frederick|

A água escorre quente pelo meu corpo, mas nem mesmo o calor relaxante é capaz de acalmar os pensamentos que turbilhonam na minha mente. O contato recente com Catherine, o toque de sua pele, o cheiro inebriante dos seus cabelos... Tudo isso está me consumindo, me puxando para um lugar onde a razão não existe, onde o desejo reina absoluto. Preciso desse banho para esfriar a cabeça, para conter o impulso irracional que me faz querer tomá-la em meus braços e não a soltar jamais.

Fico debaixo da água mais tempo do que planejava, esperando que, quando sair, o cansaço do dia tenha vencido minha Cath e ela já esteja adormecida. Assim, posso retornar à cama sem a tentação de seus olhos me encarando com aquela intensidade que só ela tem. Meu coração ainda bate descompassado quando finalmente termino o banho. Respiro fundo algumas vezes antes de voltar ao quarto, tentando me acalmar.

Quando saio, a cena me desarma. Catherine está dormindo, os lábios entreabertos, a respiração suave. Os cabelos castanhos se espalham pelo travesseiro como uma moldura delicada ao redor de seu rosto sereno. Esse rosto, tão pacífico agora, é o completo oposto da energia que ela costuma exalar quando está desperta. Minha senhorita chaleira, com sua língua afiada e suas provocações constantes, parece agora tão delicada, como... um sonho.

Me deito ao lado dela, e dessa vez não consigo resistir. Envolvo seu corpo com meus braços, puxando-a para junto de mim, como se a pudesse prender em um casulo protetor, onde nada nem ninguém a tocasse. O cheiro dela é um golpe nos meus sentidos, desperta algo feroz e possessivo dentro de mim, um instinto primal que me faz querer protegê-la a qualquer custo. Não apenas ela, mas o filho que acredito estar crescendo em seu ventre. Este é o meu mundo, penso, este momento em que somos apenas nós três, longe de todas as intrigas, longe do caos do reino.

Beijo sua testa, permitindo que um raro gesto de carinho escape, e sinto meu corpo relaxar. O cansaço finalmente me atinge, e me deixo adormecer, ainda mantendo Catherine apertada contra meu peito.

***

Na manhã seguinte, o castelo parece estar em chamas. Acordo com batidas fortes e urgentes na porta dos meus aposentos. Meu corpo desperta de imediato, tenso, preparado para a batalha. Catherine ainda está adormecida ao meu lado, seu corpo quente contra o meu. Não quero acordá-la. Puxo o cobertor para cobrir seus ombros e a instruo a ficar quieta quando ela desperta assustada, com os olhos arregalados de surpresa ao me ver tão sério.

Levanto-me com rapidez e, instintivamente, pego minha espada. Os batimentos do meu coração aceleram com a preocupação crescente. Penso em Catherine e no meu filho que carrega, e nada mais importa além de protegê-los. Abro a porta com cautela, preparado para qualquer coisa, mas não é um inimigo que me espera do outro lado.

— Felipe? — Digo, ao ver meu irmão mais novo, ansioso e pálido.

— Fred, é o nosso pai. Ele está convocando uma reunião de urgência no salão do Conselho. Precisa ir agora — Felipe responde com uma pressa que raramente demonstra, o que só aumenta minha inquietação.

Fecho a porta sem mais perguntas e começo a me vestir rapidamente. Não explico nada a Catherine, apenas lanço um olhar tenso e preocupado, mas tento disfarçar o receio que me toma por inteiro. Ela me observa com curiosidade e talvez um pouco de apreensão, mas permanece em silêncio, entendendo que a urgência da situação não permite explicações. Minhas mãos trabalham rápido, ajustando as vestes e a espada à cintura. Não há tempo para hesitações.

Assim que estou pronto, parto em direção ao salão do Conselho. Ao chegar lá, o ambiente está carregado de tensão. Vejo olhares preocupados entre os conselheiros e nobres presentes. Há burburinhos que cessam no momento em que adentro a sala. Meu pai, o rei Ferdinando, está em pé, no centro, com uma expressão grave. Ao seu lado, Deklan Fraser, o príncipe herdeiro de Inverness, e futuro noivo de minha irmã Francesca. A presença de Deklan só reforça a gravidade da situação. Algo está profundamente errado.

Tomo meu lugar ao lado de Felipe e de meu pai do lado oposto, e noto que todos aguardam ansiosos as palavras de meu pai. O rei finalmente toma a palavra, e o silêncio é imediato.

— Senhores, o reino de Navarra passou por provações que ainda ecoam em nossos corações. A última guerra contra Valois foi uma tragédia que nos marcou profundamente, um conflito que ainda nos custa caro. Estamos em um processo de justiça, de julgar e punir os responsáveis, mas devo lhes dizer... — Ele faz uma pausa, sua voz pesada, o olhar varrendo a sala, vendo o impacto de suas palavras em cada um dos presentes. — Os problemas ainda não terminaram.

Meu coração se aperta. Algo mais está por vir.

— Hoje, recebemos notícias alarmantes — continua meu pai. — Uma prisioneira crucial, uma das maiores traidoras de nosso reino, escapou.

O murmúrio volta a crescer entre os conselheiros. O ar parece pesado, como se todos estivessem tentando processar o que o rei acabou de dizer.

— Cloud, a ex-dama de companhia da princesa Francesca, fugiu da prisão do castelo.

As palavras atingem a sala como um golpe. Francesca, minha irmã, fora traída por alguém que considerava como sua melhor amiga, uma mulher que, secretamente, entregou informações estratégicas ao reino de Valois durante a guerra. Cloud estava no centro de um esquema que quase nos destruiu por completo, e sua fuga agora é uma ameaça que ninguém esperava. Meu corpo se tenciona. Francesca... Ela já passou por tanto com essa guerra, e agora a sombra do passado retorna para assombrá-la. Então meu pai continua.

— Não sabemos como ela escapou, mas as buscas já começaram. Esta mulher é extremamente perigosa. Ela traiu nossa confiança e pode estar planejando algo ainda pior agora que está à solta.

Olho para Felipe, que parece tão perplexo quanto eu. Minha mente corre a mil. Como isso pôde acontecer? Quem facilitou essa fuga? E, mais importante, o que Cloud planeja agora que está livre?

Felipe, meu irmão mais novo e sempre o mais pacífico na maioria das vezes, se levanta abruptamente com o rosto transtornado.

— Precisamos encontrar essa mulher, antes que ela cause mais danos. Isso não pode ficar impune.

Concordo internamente com ele. A traição de Cloud quase custou a vitória de Navarra na guerra contra Valois. Sua fuga não pode ser ignorada.

— Concordo — digo, tomando a palavra pela primeira vez. — Temos que mobilizar nossas forças imediatamente. Cloud não deve escapar novamente. O reino de Navarra já sofreu o suficiente com suas traições.

A expressão de meu pai é sombria, mas ele assente.

— Que todos se preparem. Este é apenas o começo, temo. A guerra pode ter terminado, mas as cicatrizes ainda estão abertas, e nossos inimigos estão mais próximos do que imaginamos.

O salão do Conselho mergulha em um silêncio sombrio, enquanto todos absorvem a gravidade da situação. O que era para ser um período de reconstrução e paz está se tornando uma corrida contra o tempo. A raposa traiçoeira fugiu, e agora, mais do que nunca, precisamos proteger tudo o que amamos. Olho para meu pai, para Felipe, para Deklan, e sei que devemos nos preparar para a batalha que se aproxima.

Mas enquanto o conselho se desfaz, minha mente volta para Catherine, para o filho que acredito estar crescendo dentro dela. Não importa o que venha, minha prioridade é mantê-los a salvo. Cloud pode tentar nos destruir novamente, mas desta vez, eu não deixarei que aquela víbora soturna toque em um fio sequer de cabelo de qualquer pessoa da minha família.


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