Capítulo Sessenta e sete

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|Catherine|

Lentamente, o mundo vai tomando forma diante dos meus olhos. As pálpebras pesam, e uma dor lancinante parece me dominar por inteiro. Minha cabeça lateja, e sinto o corpo fraco, cada centímetro de mim parece feito de chumbo. Toco a cama com a ponta dos dedos, tentando me situar. Mas onde estou? Tento me erguer, mas uma pontada aguda no abdômen me obriga a deitar novamente. Os fragmentos de lembranças surgem como estilhaços, cada um mais cortante que o anterior. A angústia aperta minha garganta, e eu me vejo de volta ao terror.

Em um impulso, tento me mover, grito de desespero ao lembrar do rosto frio e cruel de Henry. Meu peito aperta, o pânico toma conta de mim, e um soluço escapa. Mas então, uma presença familiar, um toque quente e reconfortante pousa em meu rosto. Abro os olhos com esforço e vejo aqueles olhos azuis que sempre foram meu porto seguro. Frederick. Sua voz suave e firme, cheia de preocupação, me embala enquanto ele segura meu rosto.

– Está tudo bem, Catherine, eu estou aqui... você está segura agora. Você está em casa. – ele sussurra, com um tom de urgência e ternura.

Meus soluços aumentam, e finalmente me permito respirar. Meu corpo relaxa, ainda que as lembranças insistam em me atormentar. Estou em nossos aposentos. Em casa. Frederick me abraça com força, e é como se o mundo se desmanchasse ao meu redor. Seguro-o com desespero, apertando-o contra o peito, e as lágrimas vêm em uma torrente incontrolável. Meu corpo inteiro treme, meus ossos, frágeis, não suportam o peso do que vivi, e o choro toma conta de mim de forma convulsiva.

– Eu... eu tive tanto medo, Frederick. Eu... eu pensei que... pensei que nunca mais voltaria. – Minha voz sai entrecortada, quase um sussurro.

Ele acaricia meus cabelos, o rosto marcado pelo cansaço e pela dor, e murmura, com a voz falhando, em meu ouvido.

– Eu sinto muito... sinto tanto por não ter chegado antes, por não ter conseguido protegê-la. Nunca mais... nunca mais deixarei você sozinha. Nunca mais tirarei os olhos de você, eu prometo.

Suas palavras são como um bálsamo, mas a culpa começa a crescer dentro de mim, pesada e cruel. Meu peito aperta e, como uma confissão amarga, deixo as palavras escaparem.

– A culpa é minha, Frederick. Eu... se eu tivesse contado toda a verdade, se eu não tivesse sido tão tola... aquele traidor... eu confiei nele, e tudo isso... tudo isso é por minha causa. – A dor corta de dentro para fora, e cada palavra que sai parece ferir ainda mais meu coração.

– Não... – ele tenta interromper, mas minha voz ecoa como um grito de desespero.

– Como fui burra, Frederick! – A voz falha, quase sem força, e sinto algo estranho, uma dor que cresce no ventre, intensa e esmagadora.

Frederick me fita, o semblante marcado pelo medo, e sussurra, apreensivo.

–O que foi, Cath? O que está sentindo?

A dor me consome, e um grito escapa dos meus lábios, involuntário, enquanto me encolho sobre o colchão, tentando suportar o que agora é quase insuportável. O médico é chamado às pressas, seus passos rápidos e o semblante sombrio quando entra no quarto só aumentam o meu desespero.

– Por favor, o que está acontecendo com minha esposa, doutor? – Frederick grita, a voz marcada por desespero e angústia.

A resposta é fria, cortante, cruel como uma lâmina invisível, quando ele responde cheio de temor.

–Ela está perdendo o bebê, Vossa Alteza.

Sinto o chão desaparecer, e uma dor indescritível atravessa meu corpo e minha alma. Um grito rasga minha garganta, enquanto Frederick segura minha mão com força, seu rosto uma mistura de incredulidade e dor. As lágrimas escorrem pelo seu rosto, e ele as ignora, segurando minha mão com mais firmeza, como se pudesse me salvar da dor, como se seu toque pudesse impedir o que está por vir.

A cada espasmo, a cada pontada, sinto como se partes de mim estivessem sendo arrancadas. Grito, grito até minha garganta queimar, e não há nada, absolutamente nada que possa diminuir a dor. Fecho os olhos com força, tentando bloquear tudo, mas é impossível. Frederick está ao meu lado, mas o peso do que está acontecendo é insuportável. Não posso... não posso suportar perder nosso filho. Não posso... não quero.

O médico, se mantém firme e determinado, e se concentra no que precisa ser feito. Eu sinto que o tempo se arrasta, que a dor nunca vai cessar. Cada segundo é uma eternidade. Ouço o soluço baixo de Frederick, como se ele fosse apenas um menino perdido, tão despedaçado quanto eu. Aperto sua mão com a pouca força que ainda tenho, tentando encontrar consolo, mas não há alívio... não há paz, não há nada além da dor avassaladora.

Finalmente, o silêncio cai sobre o quarto. Um silêncio pesado, sombrio, um silêncio que carrega a pior das realidades. O médico se levanta, suas mãos cobertas de sangue, e murmura que terminou. Ele sai em passos pesados, deixando-nos com a nossa dor, com a perda que acaba de devastar nossas vidas para sempre. Não consigo me mover, não consigo sequer chorar. A dor física já se foi, mas o vazio... o vazio é profundo e desesperador.

Frederick está ao meu lado, mas nem sua presença parece capaz de preencher o abismo que se abriu entre nós e a nossa felicidade. Nossos olhares se cruzam, e vejo o mesmo desespero que sinto refletido em seus olhos. Ele me puxa para mais perto, seus braços ao meu redor, mas o toque que sempre foi meu refúgio agora não consegue me proteger da dor que sinto.

Ficamos assim, unidos pela dor, presos a uma tristeza que parece infinita. Fecho os olhos, e uma lágrima solitária escapa, marcando meu rosto. Frederick segura minha mão, a voz quase inaudível, quebrada pelo luto.

– Ele... ele era nosso filho, Cath.

Essas palavras ecoam no quarto, soando como uma sentença cruel. Nosso filho se foi. A esperança, o futuro que havíamos sonhado... tudo desmoronou. Não há nada que possamos fazer para mudar o que aconteceu. Sinto a dor consumir cada pedaço de mim, uma dor que sei que nunca vai se dissipar completamente. Nos braços de Frederick, deixo o cansaço e o luto me dominar, perdida em um mar de silêncio, um silêncio que fala mais alto do que qualquer palavra, um silêncio que carrega a profundidade irreparável da nossa perda.



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(Faltam 10 capítulos)

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