Capítulo Setenta e um

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|Frederick|

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|Frederick|

Depois de despedir-me de Francesca, sinto que parte da minha alma se acalma. Há algo em sua voz e seu olhar que parece aliviar a dor que me consome por dentro, mas apenas um pouco. Então eu a deixo com Catherine, em meus aposentos reais, a única coisa certa que consigo fazer no dia de hoje, a única decisão que me parece correta e que espero que isso nos ajude, a mim e a Cath, de alguma forma. Francesca entende o que Catherine sente, o vazio, a culpa. E sei que, de todas as pessoas, ela é quem poderá ajudá-la a encontrar uma forma de seguir em frente depois de tudo o que aconteceu.

Contudo, enquanto me afasto e caminho pelo corredor, percebo que o alívio que sinto é breve. Dentro do meu peito, a raiva começa a queimar, viva, pulsando com uma intensidade selvagem. Sinto o peso de uma dívida que não posso ignorar: o homem que feriu minha família, que levou meu filho.

Ele ainda respira, e cada fôlego que ele toma é uma ofensa para mim e para a humanidade. Sinto meus dedos tremerem de ódio, de uma sede fria e sombria que não posso e nem quero controlar. Se ele pensa que escapará, está enganado. Esta dor exige sangue... o sangue dele.

Com passos firmes e pesados, desço para a masmorra. Os soldados em guarda trocam olhares silenciosos, mas ninguém me questiona. Eles apenas obedecem ao meu comando para abrir as portas, e o rangido ecoa pelas paredes de pedra, denso e mortal. Uma brisa gélida se infiltra ali dentro, como se pressentisse o destino que Henry está prestes a encontrar.

Dentro da cela, ele me encara com olhos arregalados, o terror cintilando em sua expressão patética. Ele tenta erguer-se, mas as feridas o imobilizam, e o encaro com o desprezo que ele merece. Como alguém tão covarde ousou imaginar que poderia ferir minha família? Como um ser tão vil ousou tocar em minha Catherine?

A fúria toma conta de mim, e, sem hesitar, dou o primeiro chute em seu estômago, exatamente como ele fez com minha esposa. O impacto faz eco na pedra, e ele geme, encolhendo-se no chão como um verme podre. Tento não me perder no ódio, mas é impossível; a imagem de Catherine machucada, o grito abafado de desespero e o rosto pálido dela... tudo vem à minha mente, queimando minha alma com mais força do que nunca.

Ele tenta balbuciar algo, chamando-me de louco, acusando Catherine de ser uma traidora.

-Ela... ela está te enganando, seu tolo! Ela não é o que você pensa!

Não lhe dou a chance de continuar. Em um movimento rápido, agarro-o pelos cabelos e bato sua cabeça contra a parede com toda minha força. O sangue mancha as pedras frias, e ele solta um gemido fraco, tentando se desvencilhar. Mas não o deixo, não depois do que fez.

-Você nunca mais vai pronunciar o nome da minha mulher. -sussurro com a voz carregada de ódio. -Nunca mais!

Ele, no entanto, insiste, a expressão cada vez mais demente.

-Ela era minha. Ela deveria ser minha...

Essas palavras inflamam o que resta de controle em mim. Sinto-me perder qualquer vestígio de misericórdia, qualquer hesitação. Empurro-o ao chão, ignorando os gritos abafados e os movimentos inúteis para tentar escapar. Minha bota desce sobre seu corpo várias vezes, cada golpe um desabafo da ira que guardo no peito. E então, ajoelho-me sobre ele e começo a socá-lo sem piedade, meus punhos ressoando contra seu rosto, sua carne tornando-se apenas uma massa irreconhecível sob o impacto dos meus golpes furiosos e intensos.

Não ouço mais suas súplicas, não enxergo mais a cela ao nosso redor, vejo apenas o vazio deixado pela ausência do meu filho que não teve o direito de nascer, o rosto de Catherine devastado, o desespero que eu não consegui impedir... E, naquele momento, Henry deixa de ser um homem. Ele é apenas um símbolo da dor e da perda que trouxe para a minha vida.

Finalmente, quando meus braços já não suportam mais o peso dos socos e minha respiração está entrecortada, olho para ele, agora uma sombra do que era. Está desfigurado, a respiração fraca, o sangue escorrendo pela boca, e seu olhar revela que ele sabe que seu fim chegou. Levanto-me, e ele murmura algo ininteligível, mas ignoro. Sinto que minha decisão está tomada, e este é o último ato para pôr um fim a esse pesadelo. Com a mão firme, seguro o cabo da minha espada e a ergo sobre ele, meus olhos fixos nos seus.

-Uma vida por uma vida, Henry! -eu declaro, minha voz ecoando fria e decidida.

Ele abre a boca para dizer algo, mas, antes que qualquer palavra escape, minha espada atravessa seu peito com um golpe firme e certeiro, atingindo seu coração. Sinto o impacto, a resistência de sua carne se desfazendo sob a lâmina, e vejo a vida esvair-se de seus olhos, até que finalmente tudo cessa.

Por um instante, o silêncio é absoluto. Uma paz mórbida cai sobre mim enquanto a vida de Henry se apaga diante de mim. Respiro fundo e retiro a espada, limpando-a com movimentos automáticos. O sentimento de vingança saciada é amargo, mas ainda assim satisfatório. Ele pagou pelo que fez, e agora minha família está segura outra vez.

Sei que este não é o fim da dor, sei que a perda ainda latejará em mim, mas ao menos esse capítulo sombrio termina aqui, nas profundezas da masmorra. Não há mais nada que ele possa nos tirar. Olho para o corpo de Henry pela última vez antes de sair, sabendo que, mesmo em meio a todo esse ódio, consegui resgatar um pouco de paz para mim e para minha família.

Agora, posso voltar para Catherine.

Mesmo que ela ainda precise de tempo, mesmo que o luto seja longo, estou pronto para ser o homem que prometi ser, um homem que nunca mais permitirá que uma ameaça toque naqueles que amo. Quando deixo a masmorra, o ar parece mais leve, embora o peso em meu coração ainda persista. Caminho pelos corredores do castelo, cada passo uma promessa de que, daqui em diante, farei tudo o que estiver ao meu alcance para proteger o que resta do que construí com Catherine.


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