Capítulo Quarenta e nove

102 28 2
                                    

|Frederick|

A praça pública começa a esvaziar, e o peso da justiça cumprida finalmente assenta sobre Navarra. O corpo de Charles Bourbon, ou o que restou dele, está sendo removido, e os soldados que estavam encarregados da segurança começam a dispersar a multidão. Eu observo as pessoas voltando para suas casas, algumas ainda gritando em celebração, outras simplesmente em silêncio, absorvendo o que acabaram de presenciar. Uma paz relativa começa a se instaurar nas ruas, mas não posso ignorar o fato de que esse é apenas o início de uma longa recuperação para Navarra.

Mas agora, com o verme morto e a justiça feita, meus pensamentos voltam para Catherine. A execução de Charles, por mais que tenha sido necessária, certamente deve tê-la abalado. Afinal, apesar de tudo, ele era parte de sua família. Não importa o quanto ele tenha sido um traidor, assistir à morte de um familiar, especialmente de forma tão vergonhosa, não é algo fácil de suportar. Preciso vê-la. Consolá-la.

Montado em meu cavalo, faço o caminho de volta ao castelo em alta velocidade. O vento frio de Navarra contra meu rosto não me traz nenhum alívio; o único alívio que espero encontrar é nos braços de minha esposa. Quando chego aos portões do castelo, desço do cavalo com pressa e corro pelas escadas, sem sequer cumprimentar os guardas. Meus pés quase não tocam o chão enquanto subo os degraus até nossos aposentos reais.

Abro a porta do quarto, o coração acelerado. Mas... o quarto está vazio. Minha respiração falha por um momento. Onde ela está? Tento não pensar no pior, mas minha mente já começa a entrar em pânico. Catherine deveria estar aqui, a salvo, como ordenei. O medo começa a se espalhar pelo meu peito, e de repente, todas as possibilidades, todos os perigos, inundam minha mente. Saio do quarto em um ímpeto, procurando Luz e Francesca, minhas únicas pistas. Ao encontrá-las no corredor, a tensão em meu rosto é evidente.

— Onde está Catherine? — pergunto, quase sem fôlego.

Luz e Francesca trocam olhares, confusas.

— Não sabemos — responde Luz, franzindo a testa. — Ela estava aqui até pouco tempo. Deve ter ido respirar um pouco de ar, Frederick. Está tudo bem.

Mas não está tudo bem. Algo dentro de mim grita que não está. O instinto que desenvolvi ao longo dos anos, lidando com traições e guerras, não me permite relaxar. Então eu começo a procurá-la em todos os cantos do castelo. Minha cabeça lateja com pensamentos sombrios, com o medo de que algo possa ter acontecido com ela. Se algo tivesse acontecido... Não. Eu me recuso a pensar nisso.

Mas quando finalmente termino de vasculhar o castelo sem sinal dela, o pânico se instala por completo. Estou prestes a sair, já considerando procurar por Catherine fora dos portões, quando a vejo. Lá está ela, subindo os degraus da escada, o rosto iluminado pela luz fraca dos candelabros. Seu olhar se arregala ao me ver, surpresa, como se não esperasse me encontrar ali, tão agitado, tão desesperado. Eu me movo antes de pensar, minha raiva misturada com alívio explode em um grito.

— Catherine! — O nome sai mais áspero do que pretendo, carregado com toda a tensão acumulada.

Ela não diz nada, apenas fica parada no degrau, os olhos grandes e assustados. Eu caminho até ela em passos duros e rápidos, e sem pensar duas vezes, a pego pelos ombros e a jogo sobre os meus, ignorando qualquer protesto que ela possa ter. Caminho de volta para nossos aposentos, a tensão em meu corpo se transformando em uma raiva que mal consigo controlar. Quando finalmente entramos no quarto, a coloco no chão e fecho a porta com um estrondo.

— O que você tem na cabeça, Catherine? — minha voz está baixa, mas cada palavra carrega o peso de minha fúria. — Eu te dei ordens claras para que ficasse aqui. O que era tão importante para que você se arriscasse a sair? Você sabe o que poderia ter acontecido?

Ela tenta falar, mas eu não estou pronto para escutar. Estou dominado pelo medo, pela frustração de quase tê-la perdido, mesmo que por breves momentos. Eu a encaro, esperando respostas, esperando uma explicação que acalme o turbilhão dentro de mim. Catherine respira fundo, seu olhar encontrando o meu com firmeza.

— Frederick, calma. Me deixe explicar.

— Não quero calma! — interrompo, minha voz mais alta do que deveria. — Eu quero saber o que passou pela sua cabeça!

Ela avança em minha direção e, com uma força surpreendente, me empurra para a cama, forçando-me a sentar. Fico ali, meio atônito, enquanto ela se coloca diante de mim, os olhos fixos nos meus.

— Eu fui ver minha mãe — ela começa, sua voz suave, mas firme. — Nós precisávamos disso, Frederick. Precisávamos encerrar esse ciclo de dor. Fomos assistir à execução. Não podíamos continuar com esse fantasma nos assombrando, nos forçando a viver com medo. Agora estamos livres, finalmente livres.

As palavras dela começam a fazer sentido, mas meu coração ainda não se acalma. O risco que ela correu, a desobediência... Eu passo a mão pelos cabelos, tentando processar tudo.

— Você se colocou em perigo — digo, a voz mais baixa agora, mas ainda carregada de emoção. — Não percebe o que poderia ter acontecido? Eu quase enlouqueci de preocupação.

Ela se ajoelha diante de mim, as mãos firmes nas minhas.

— Eu juro, Frederick, nunca mais vou te preocupar assim. — Sua voz é baixa e carregada de sinceridade. — Juro que vou ser leal, te amar, te respeitar. Vou ser a esposa que você merece. A mãe que nosso filho merece.

Meus olhos encontram os dela, e a intensidade de suas palavras começa a quebrar a barreira de raiva que eu ainda segurava.

— Eu nunca vou te abandonar. Nunca vou deixar você ir. — Ela aperta minhas mãos com força, os olhos castanhos brilhando com a intensidade de sua promessa. — Você sacrificou tanto por mim, por nós. E eu nunca vou esquecer isso.

E, de repente, tudo muda. A raiva, o medo, a preocupação, tudo se dissolve diante do amor que brilha nos olhos dela. Catherine sempre me surpreende, sempre encontra uma maneira de transformar minhas emoções mais sombrias em algo puro, algo bom.

Puxo-a para mais perto, as mãos ainda firmes nas suas, e então a beijo. É um beijo cheio de necessidade, de alívio, de amor. Eu a puxo para mais perto, sentindo o calor do seu corpo, o familiar toque de seus lábios contra os meus. Ela se rende a mim, como sempre faz, e no calor daquele momento, todas as palavras são esquecidas. Nós nos pertencemos, inteiramente, e completamente.


🗡🗡🗡

Olá, filhos da Luz! Deixe sua estrelinha e comentário!

Olá, filhos da Luz! Deixe sua estrelinha e comentário!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora