Capítulo Quarenta e oito

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|Catherine|

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|Catherine|

As ruas de Navarra parecem mais leves enquanto voltamos para a casa. O peso que carregávamos por tantos anos, a ameaça que Charles representava, desapareceu. Minha mãe e eu andamos lado a lado, envoltas em nossas capas, mas desta vez, há um alívio silencioso entre nós. Uma paz que quase não reconheço, mas que se acomoda lentamente em meu peito. Não falamos durante o caminho de volta. Não precisamos. A presença dela ao meu lado, segura, finalmente livre, é o suficiente.

Quando chegamos à antiga casa de Luz, onde minha mãe e meus irmãos estão escondidos e protegidos, retiro meu capuz e respiro fundo. O aroma familiar de madeira queimando e o calor que vem da lareira nos acolhem. As crianças, adormecidas em um canto, encolhidas sob cobertores, respiram em paz. Elas não sabem o que enfrentamos hoje, o quão perto estavam de viver uma tragédia maior, de perder tudo. Esse pensamento me faz parar por um momento, observando-as. Uma sensação de gratidão me invade, por terem sido poupadas de todo esse horror.

Minha mãe, Marjorie, tira sua capa com movimentos suaves e silenciosos. Ela caminha até a lareira, seus olhos suavizando ao ver as crianças. Seu olhar percorre a cena com um misto de ternura e tristeza, como se estivesse finalmente aceitando que tudo isso havia terminado, mas carregando ainda as cicatrizes do que vivemos.

— Eu vou preparar algo para você, mamãe — digo, tentando aliviar o cansaço que vejo em seus olhos.

Mas ela balança a cabeça com firmeza.

— Não, querida. Sente-se. Eu mesma farei um chá para você. Faz tanto tempo que não cuido de você como deveria.

Eu hesito, querendo argumentar, mas a determinação em sua voz me cala. Aceito seu pedido e me sento em uma cadeira perto da lareira, observando enquanto ela se move pela pequena cozinha, seus gestos cuidadosos e familiares, como se estivesse resgatando uma antiga rotina de quando ainda éramos uma família intacta.

Em poucos minutos, minha mãe volta com uma bandeja simples, mas que carrega um significado profundo. O aroma do chá quente invade a sala, e ao lado, há um prato de biscoitos, aqueles que ela costumava fazer para mim quando eu era apenas uma menina. O cheiro doce e reconfortante é quase insuportável de tão nostálgico.

Ela coloca a bandeja diante de mim e me observa com aquele olhar maternal que eu conheço tão bem. Ao pegar um biscoito, a textura macia se desfaz na minha boca, e antes que eu perceba, meus olhos estão cheios de lágrimas. O sabor me transporta de volta à infância, antes de todo o caos, antes de Charles, antes de Navarra.

Eu tento falar, mas minha voz falha, engasgada pelo choro que agora rola livremente pelo meu rosto. Minha mãe se ajoelha ao meu lado, me puxando para um abraço apertado. Ela cheira a chá e a carinho, e por um momento, sinto-me novamente como uma garotinha buscando consolo em seus braços.

— Eu sinto tanto, minha filha... — ela sussurra, a voz quebrada. — Sinto tanto por não ter sido a mãe que você merecia.

Eu me afasto o suficiente para encará-la, balançando a cabeça veementemente.

— Não, mamãe. Não diga isso. Você fez tudo o que podia. Tudo o que foi possível.

Mas ela apenas sorri, um sorriso triste, mas cheio de compreensão.

— Você será uma mãe muito melhor do que eu fui. Mais forte, mais sábia. Você não cometerá os mesmos erros que eu cometi.

Ela estende a mão e toca meu ventre, onde a pequena vida que carrego se move silenciosamente dentro de mim. Seus dedos são gentis, e seu sorriso se suaviza enquanto ela murmura:

— Estou tão feliz por você, Catherine. Um bebê... Você vai ser uma mãe incrível. Como está se sentindo?

Eu respiro fundo, sentindo uma onda de emoções me invadir.

— É difícil, mamãe. Toda essa tensão... Eu só consigo continuar de pé por causa de Frederick. Ele me dá força, me mantém segura em todo momento.

Seus olhos brilham quando menciono Frederick. Ela me segura pelas mãos com uma firmeza surpreendente e, de repente, há uma seriedade em seu olhar que nunca vi antes.

— Catherine, você tem sorte. Mais sorte do que jamais imaginou. Frederick... Ele é um homem raro, um homem que te ama de verdade. Não importa o que aconteça, você não pode deixá-lo. Não pode deixar escapar um homem como ele, não importa o que vocês enfrentem.

Fico em silêncio, absorvendo suas palavras. Vejo a sinceridade em seus olhos, o peso da sua gratidão, e sei que ela está certa. Frederick é mais do que um marido, mais do que o pai do meu filho. Ele é a rocha que mantém nossa família unida, mesmo quando tudo parece desmoronar.

— Você sabe, minha filha — continua ela, a voz baixa e carregada de emoção —, se não fosse por Frederick, nós estaríamos mortas. Eu, você, seus irmãos... E até seu pai. Mesmo que Louis esteja preso para sempre, ele teve a vida poupada, algo que ele não merecia. E tudo isso... foi por causa de Frederick.

Suas palavras pesam sobre mim como uma rocha. Eu sempre soube que Frederick havia feito o impossível para proteger minha família, mas só agora entendo a profundidade desse sacrifício. Ele arriscou tudo por mim, por nós. E minha mãe, com seus olhos cheios de lágrimas, é a prova viva desse milagre.

— Nunca deixe esse homem ir embora, Catherine. Ele é mais valioso do que você imagina. Não importa o que vocês enfrentem, lembre-se de que ele enfrentou o inferno por você. E por nós. — Ela me aperta contra si novamente, seu abraço quente e reconfortante.

Eu fico ali, nos braços de minha mãe, sentindo o peso de suas palavras. Ela está certa. Frederick é tudo o que eu poderia desejar e mais. E enquanto sinto a pequena vida se mexendo dentro de mim, uma nova determinação cresce em meu coração. Não importa o que venha pela frente, eu nunca deixarei esse homem escapar. Ele é minha força, meu futuro, e o pai do meu filho.

Quando finalmente nos soltamos, ambas mais leves, sinto que algo em mim mudou. O ciclo de medo e sofrimento realmente chegou ao fim. Não sou mais aquela mulher quebrada e assustada. Agora sou mãe, esposa, e mais do que nunca, sinto-me pronta para enfrentar qualquer desafio que venha, sabendo que tenho Frederick ao meu lado. Eu olho para minha mãe, que me observa com carinho. Ela sorri, como se soubesse exatamente o que estou pensando.

— Estamos livres, minha filha — diz ela suavemente. — Finalmente livres... por causa de Frederick.

Eu sorrio de volta, segurando firme a mão dela. Sim, estamos livres. E agora, podemos voltar a viver outra vez.


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A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora