|Catherine|
Acordo com o coração leve, algo que não sinto há muito tempo. As sombras do passado, que por tanto tempo me atormentaram, parecem finalmente ter se dissipado. A noite de amor e reconciliação com Frederick foi como um bálsamo. Sinto a presença dele dentro de mim, não apenas como marido, mas como aquele que verdadeiramente se comprometeu comigo, com nosso futuro, com nosso filho. Prometi a ele que farei valer a pena sua devoção e sacrifícios. Não vou desapontá-lo.
Tateio a cama ao meu lado, esperando encontrar seu corpo quente, mas meus dedos tocam apenas os lençóis frios e vazios. Uma pontada de preocupação se instala em meu peito. Onde ele está? Meu estômago, que até agora estava calmo, dá um nó repentino, e sinto uma onda de náusea subir pela garganta. Saio da cama às pressas e corro para o banheiro, segurando-me na pia antes que meu corpo ceda ao enjoo. Vomito, e logo me sinto fraca, tonta. Apoio as mãos no mármore frio, tentando recuperar o controle.
— Não, não agora... — murmuro, enquanto minha mão instintivamente vai até minha barriga. Frederick. Eu preciso encontrá-lo.
Levanto-me devagar, sentindo ainda uma leve fraqueza. Eu tento me apressar, mas cada movimento parece exigir mais esforço do que deveria. Tento me vestir, ajeitando-me com lentidão, lutando contra a exaustão que parece dominar meu corpo. O enjoo passa, mas a preocupação permanece. Será que Frederick ainda está zangado por eu ter saído do castelo sem a sua permissão? Será que ele não me perdoou completamente?
Saio dos aposentos reais e começo a caminhar pelos corredores em busca dele. No meio do caminho, sou interrompida por Felipe. Ele se aproxima de mim rapidamente, o olhar preocupado enquanto segura meu braço com firmeza, mas gentileza ao mesmo tempo.
— Catherine, você está pálida. O que houve? — Seus olhos sondam meu rosto, buscando respostas que não sei se posso dar.
Felipe é diferente de muitos príncipes que já conheci. Quando o conheci, confesso que carregava todos os preconceitos possíveis sobre a realeza. Mas ele provou ser alguém justo, um bom homem, um marido devoto para Luz e um pai amoroso para Felix. Ele e Luz me acolheram no castelo e na família de uma maneira que nunca poderei retribuir, e sou muito grata por isso.
— Estou bem, só... um pouco tonta — respondo, tentando parecer mais forte do que realmente me sinto.
— Você não parece nada bem — insiste ele, a mão ainda firme em meu braço, me guiando suavemente. — Eu estava indo ao seu encontro. Venha, deixe-me levá-la a um lugar.
Minha mente começa a rodopiar. Aonde ele está me levando? E Frederick, onde está? Apreensiva, paro por um momento e olho para ele.
— E Frederick? Ele está... chateado comigo?
Felipe sorri, um sorriso gentil e reconfortante.
— Não se preocupe. Frederick está esperando por você. Vou levá-la até ele.
Embora suas palavras me tranquilizem um pouco, não consigo afastar a sensação de que algo importante está prestes a acontecer. Meus passos são lentos, mas constantes, enquanto ele me guia pelos corredores até chegarmos ao gabinete real do rei. Ao entrar na sala, Felipe fecha a porta atrás de mim, e o som do trinco ressoando me faz sentir como se uma sentença estivesse sendo selada.
Olho ao redor, meu coração acelerando com cada rosto que encontro. Lá está o rei Ferdinando, sentado com sua postura majestosa. Frederick, meu marido, está ao lado dele, com uma expressão que não consigo decifrar. Minha mãe, Marjorie, está ali também, suas mãos retorcidas no colo, os olhos carregados de uma tensão silenciosa. Meus joelhos tremem, e quase não consigo me manter de pé. Faço uma reverência ao rei, tentando disfarçar o pavor que só cresce dentro de mim.
— Majestade... — murmuro, minha voz tremendo mais do que gostaria.
O que está acontecendo? Por que todos estão aqui? Minhas mãos começam a suar enquanto lanço um olhar rápido para minha mãe, depois para Frederick. Ele não diz nada, e isso me deixa ainda mais nervosa.
— Catherine, mandei chamá-la porque precisamos conversar — diz o rei Ferdinando, sua voz suave, mas com a gravidade que não posso ignorar. Meu coração acelera, batendo forte no peito.
Tento manter a compostura, mas as palavras dele me atingem como uma tempestade.
— Após uma longa conversa com Frederick — ele começa —, decidi que Marjorie Bourbon deve retornar a Valois com seus filhos. Eu estou restituindo o reinado de Valois à sua mãe. Todos os bens, terras, títulos e direitos da família Bourbon serão devolvidos somente a ela.
Minhas pernas perdem toda a força, e eu caio de joelhos no chão, o impacto reverberando em todo o meu corpo. Meu coração parece parar por um segundo, e lágrimas enchem meus olhos. Eu esperava o pior. A morte, a condenação, o exílio, qualquer coisa... mas isso? Isso é misericórdia. Isso é perdão... Algo que eu nunca pensei que nossa família fosse receber.
As lágrimas transbordam, e antes que eu perceba, estou prostrada aos pés do rei, minha testa tocando o chão. Soluço, incapaz de controlar a enxurrada de emoções que se derrama de mim.
— Obrigada majestade, obrigada... — murmuro, entre soluços, repetindo as palavras como um mantra, sem conseguir parar. Minha alma está tão cheia de alívio, de gratidão, que mal consigo respirar.
Frederick se ajoelha ao meu lado, tentando me erguer, mas eu resisto.
— Não, Frederick... eu preciso fazer isso — digo com a voz rouca de choro, ainda de joelhos, incapaz de acreditar no que está acontecendo.
Minha família será restaurada, minha mãe e meus irmãos poderão viver em paz novamente, e tudo isso é por causa da bondade do rei... e do homem que eu amo. O rei, vendo minha aflição, desce de sua cadeira e se ajoelha à minha frente, algo que jamais pensei que um rei faria. Ele acaricia meus cabelos com uma ternura que quebra ainda mais o meu coração.
— Levante-se, Catherine — ele diz suavemente. — Você pertence a Navarra agora. Seu irmão será o próximo a herdar o trono de Valois. Tudo o que espero de você é que permaneça aqui, ao lado de Frederick, e seja uma boa esposa para ele e uma boa mãe para o meu neto.
Suas palavras são como um bálsamo para minha alma. Eu choro ainda mais, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto a promessa de uma nova vida, uma vida digna e honrada, toma forma diante de mim.
— Eu farei tudo o que for necessário... tudo — consigo dizer, a voz fraca e entrecortada pelo choro.
O rei me ergue com cuidado e sorri, dizendo apenas: — Bem-vinda à família, Catherine.
E naquele momento, pela primeira vez em muitos anos, eu realmente me sinto paz.
🗡🗡🗡
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A Sombra do Passado [Completo]
Romance[livro 2] Série Amores Reais Frederick, príncipe herdeiro do trono de Navarra, não é como seus irmãos mais novos Felipe e Francesca. Considerado um homem de caráter duro e personalidade intransigente, não aceita nada além da verdade, como também é m...