Capítulo Quarenta e dois

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|Frederick|

Os últimos dias têm sido difíceis, principalmente para Catherine. Eu vejo o quanto ela está abalada pelos recentes eventos, e isso me consome por dentro. Sei o quanto sua família a machuca, seu pai e tio, mas não posso permitir que ela se afogue nesse mar de culpa. Não agora, não enquanto ela carrega nosso filho. Eu fiz uma promessa a mim mesmo: vou protegê-la, mesmo que seja dela própria. E essa promessa é algo que eu jamais quebraria.

Hoje, o dia foi intenso. Passei horas resolvendo questões do reino, tentando manter minha mente ocupada e ao mesmo tempo com a atenção voltada para o bem-estar de Catherine. Quando finalmente consigo uma pausa, vou até o quarto, esperando encontrá-la um pouco melhor, talvez mais disposta, mas ao abrir a porta, meu peito se aperta. Lá está ela, sentada junto à janela, mas não está olhando para fora. O sol brilha do lado de fora, mas ela permanece na penumbra do quarto, os olhos baixos, os ombros curvados. É como se ela estivesse encolhendo diante de meus olhos, retraindo-se para dentro de um lugar que não consigo alcançar.

— Catherine... — chamo, mas ela nem se move.

Aproximo-me devagar, tentando conter a frustração que cresce em mim. Ela esteve assim o dia inteiro, mal tocou na comida e não saiu do quarto nem para respirar o ar fresco. Eu sei que ela está sofrendo, mas não posso vê-la desse jeito, não posso deixá-la se consumir dessa maneira.

— O que está acontecendo? — pergunto, a voz mais firme do que eu gostaria.

Ela finalmente levanta os olhos para mim, e o que vejo neles me deixa tenso. Não é apenas tristeza. É culpa. Uma culpa que não deveria ser dela.

— Não é nada, Frederick — responde, a voz tão baixa que mal consigo ouvi-la.

Mas eu sei que é mais do que isso. Caminho até ela, meu corpo carregado de uma tensão que tentei dissipar ao longo do dia, mas que agora se acumula outra vez. Eu a vejo murchando e sinto que estou perdendo-a. Isso não pode continuar.

— Cath, não minta para mim. — Minha voz sai mais áspera do que pretendo, mas não consigo evitar. — Você passou o dia todo aqui, sem sair para tomar ar, sem comer. O que está acontecendo de verdade?

Ela hesita, os olhos voltando para as próprias mãos, como se estivesse procurando uma desculpa. Mas não aceitarei mais desculpas. Coloco uma das mãos contra a parede ao lado de sua cabeça, forçando-a a me encarar.

— Fale comigo, agora.

Ela morde o lábio, nervosa. Sei que estou sendo duro, mas é o único jeito de tirá-la desse estado. Finalmente, as palavras escapam.

— Eu... eu sinto que tudo é culpa minha. Tudo o que minha família fez... e agora meu pai está preso, meu tio vai morrer... — Sua voz falha, e vejo os olhos dela brilharem com lágrimas. — Eu me sinto tão culpada, Frederick. Eles são sangue do meu sangue. Como posso não ser responsável?

Eu prendo a respiração. Ah, Cath... ela ainda não entendeu. Ela ainda não compreendeu que as ações de seu pai e de seu tio não definem quem ela é. Mas se há uma coisa que eu sei, é que preciso arrancar essa culpa dela, custe o que custar. Sem pensar, agarro suas mãos e as prendo contra a parede, firmes, mas sem machucá-la. Seu olhar encontra o meu, um misto de surpresa e confusão em seus olhos.

— Você vai parar com isso agora — digo, minha voz baixa e determinada. — Eu não vou permitir que você se afogue nessa culpa. Não vou deixar.

Ela tenta dizer algo, mas eu não dou espaço para discussões.

— Você não tem nada a ver com o que eles fizeram. Entende? Nada. — Me aproximo mais, o rosto próximo ao dela, fazendo questão de que cada palavra seja gravada em sua mente. — Você é minha agora. Você vai ser forte, por nós. Pelo nosso bebê.

Seus olhos estão arregalados, e por um momento ela parece perdida, como se não soubesse o que dizer. Mas eu não posso deixar isso passar. Não posso aceitar essa situação como está. Quero um compromisso.

— Diga, Cath. Prometa que vai voltar a ser quem você era. Forte. Viva. Sem essa culpa que não é sua.

Ela gagueja, a voz trêmula.

— Eu... eu vou tentar...

Eu aperto suas mãos um pouco mais contra a parede, não com força, mas o suficiente para fazê-la entender que isso não basta.

— Tentar não é o suficiente. Eu quero que você faça. Você vai ser forte. Vai lutar por nós, pelo nosso filho. Entendeu?

Ela hesita, o peito subindo e descendo rapidamente, mas então vejo a determinação em seus olhos começar a brilhar de novo, mesmo que apenas um pouco. Ela cede, finalmente.

— Eu prometo — ela diz, a voz mais firme agora, como a velha senhorita chaleira que me conquistou lá no início.

É o que eu preciso ouvir. Minha mão livre desliza até seu ventre, onde nosso filho cresce. Acaricio com suavidade, sentindo o calor de sua pele sob meus dedos, e finalmente, depois de tudo, a beijo. Um beijo profundo, selando a promessa que ela acabou de fazer. Ela se entrega, e eu sei que, pelo menos por agora, conseguimos vencer essa batalha interna.

No dia seguinte, quando estou saindo do quarto para mais um longo dia de reuniões e discussões no conselho, me sinto menos tenso como eu não me sentia há tempos. Cath está um pouco melhor, mais presente, e isso me dá esperança. Mas então, ao virar um corredor, encontro Felipe e Deklan esperando por mim. Algo nos rostos deles me faz parar.

— O que foi? — pergunto, sentindo um calafrio percorrer minha espinha.

Felipe troca um olhar rápido com Deklan antes de falar, o rosto tenso.

— Charles Bourbon... ele fugiu.

Minhas entranhas gelam. Por um segundo, sinto o mundo ao meu redor parar. Olho diretamente para Deklan, buscando alguma explicação através do olhar, querendo saber se isso também é obra dele. Mas dessa vez, ele meneia a cabeça negativamente, de forma discreta, como se dissesse "não fui eu". Felipe não percebe a troca silenciosa entre nós, mas eu sim.

Respiro fundo, contendo a explosão de raiva e frustração que começa a crescer dentro de mim. Charles está solto. A maior ameaça à nossa segurança, à segurança de Catherine e do bebê, está à solta. E alguém vai pagar por isso. Olho para Felipe, tentando manter a calma.

— Reúna todos. Agora.

O jogo mudou, e eu não vou descansar até resolver isso.


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