Capítulo Cinquenta e um

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|Catherine|

Após o rei me ajudar a ficar de pé, ainda sinto meu corpo trêmulo e muito fraco diante das fortes emoções que me tomam por completo. Ele limpa meu rosto com delicadeza, passando os dedos firmes pelas minhas lágrimas ainda quentes. A ternura em seu olhar me desmonta. Ele sorri, como se eu fosse uma criança necessitando de consolo, e suas palavras me atingem com a força de um vendaval suave.

— Catherine, você é como uma filha para mim agora... — diz o rei Ferdinando, sua voz carregada de uma sinceridade que nunca ouvi nem de meu próprio pai. — A família real de Navarra é o seu lar, para sempre.

Meu coração se enche de uma mistura caótica de emoções. Gratidão, alívio, amor e, acima de tudo, um profundo reconhecimento. Tudo que ele fez por mim, pela minha família... por nós... É muito grande e intenso. Antes que eu perceba, meu corpo se move por conta própria e eu não penso muito bem antes de agir como uma louca. Em um impulso que sei ser completamente imprudente, lanço meus braços ao redor do corpo de rei Ferdinando, abraçando-o com toda a força que ainda consigo reunir em meus membros frágeis. Meus braços tremem, mas não consigo me segurar.

Ele ri, um riso caloroso e surpreso, e me abraça de volta com a firmeza e o calor de um verdadeiro pai. Não de um rei distante ou severo, mas de alguém que se preocupa genuinamente, alguém que ofereceu mais bondade à minha família em tão pouco tempo... mais do que o meu próprio pai, Louis Bourbon, fez em toda a sua vida. O vazio que sempre senti em relação ao meu pai biológico parece se preencher exatamente neste abraço de agora.

— Perdão, alteza — digo, corando de vergonha ao me afastar, sorrindo constrangida. — Fui levada pelo impulso...

— Não precisa se desculpar — ele responde, ainda sorrindo, com os olhos brilhando de afeto. — O gesto foi mais do que bem-vindo.

Ainda me sentindo um pouco envergonhada, corro em direção à minha mãe. Seus braços estão abertos, e caio neles, soluçando. Ela segura meu rosto com mãos tão familiares, tão queridas, e sinto seu corpo tremer junto ao meu. Nossas lágrimas se misturam enquanto nos abraçamos, o alívio da libertação finalmente nos alcançando.

— Minha filha — diz Marjorie, a voz embargada, mas cheia de orgulho. — Você é forte. É mais forte do que jamais imaginei.

Ficamos ali, abraçadas, até que o rei nos dá espaço, retirando-se discretamente para nos deixar sozinhas. Marjorie me guia até uma cadeira próxima, onde nos sentamos lado a lado, ainda de mãos dadas.

— Ele é um homem bom, Catherine. Melhor do que jamais poderíamos esperar. O rei... — ela balança a cabeça, os olhos se enchendo de lágrimas novamente. — Ele vai enviar Narcise, o melhor homem de confiança dele, para me ajudar em Valois. Acredito que com o tempo, tudo ficará em seu lugar.

— Estou tão feliz por você, mãe. — Meus olhos ainda estão marejados, mas o sorriso em meu rosto é sincero. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que as coisas realmente vão ficar bem.

Marjorie aperta minhas mãos, suas palavras suaves, mas cheias de emoção. — Parto hoje. Sei que vou sentir sua falta, mais do que posso expressar, mas saber que você está em boas mãos é o que me dá forças, querida. Nunca mais precisarei temer pelo seu futuro.

Meu coração aperta ao ouvir isso, mas ao mesmo tempo, há um conforto na certeza de que ela está certa. Frederick e sua família me acolheram como uma das suas. E minha mãe... finalmente terá uma vida digna, sem mais fugas, sem mais medo. A sensação de paz começa a tomar conta de mim, mesmo que isso signifique nos despedirmos.

Saímos juntas para o jardim, onde meus irmãos estão esperando. Ao vê-los, meu coração quase para. Os rostos deles, tão familiares, carregam uma mistura de alegria e tristeza. Corro até eles e os abraço com força, um a um, beijando seus rostos e segurando suas mãos, como se não quisesse deixá-los ir nunca mais.

— Cuide da nossa mãe — sussurro para o mais velho deles, apertando sua mão com força. — Ela precisa de vocês agora mais do que nunca.

Ele assente, os olhos marejados de lágrimas, mas firmes. — Vamos cuidar dela, Catherine. E você... cuide de si mesma, e do nosso sobrinho ou sobrinha.

As palavras dele me atingem com uma doçura inesperada. Engulo o nó na garganta, tentando manter a compostura, mas a emoção é avassaladora. Abraço-os todos mais uma vez, sentindo o calor de cada um como uma despedida dolorosa, mas necessária. Finalmente, minha mãe se aproxima para me dar o último abraço. Ela segura meu rosto com ambas as mãos, o olhar carregado de ternura.

— Você sempre será minha menina, Catherine. Mas agora você tem sua própria vida, sua própria família. Eu estou orgulhosa de você.

— E eu, de você, mãe — sussurro, com a voz embargada.

Ela me beija na testa, e sinto seu carinho, seu amor, em cada gesto. Quando nos afastamos, sei que aquele momento ficará gravado em minha memória para sempre. Meus olhos os seguem enquanto eles entram na carruagem que os levará de volta a Valois. A dor da separação é quase insuportável, mas também há esperança. Eles estão indo para uma nova vida, uma vida que eu nunca pensei ser possível outra vez.

A carruagem começa a se mover, e meu coração parece ser puxado junto com ela. Aceno de longe, tentando manter a compostura enquanto a carruagem se afasta, mas meu corpo começa a tremer, e as lágrimas caem livremente. Frederick aparece ao meu lado, e sinto sua mão forte apertando minha cintura, me dando suporte para não cair ao chão. Mas então... meu corpo não consegue mais suportar a avalanche de emoções, e minha visão começa a turvar. O mundo ao meu redor gira, gira... e sinto minhas pernas fraquejarem.

— Frederick... — murmuro, a voz fraca, enquanto tudo ao meu redor se desfaz em escuridão.

Antes de perder a consciência, sinto os braços de Frederick me envolverem com força, sua voz distante chamando meu nome, e então, tudo se apaga num piscar de olhos.


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