Capítulo Setenta e quatro

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|Selin|

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|Selin|

O silêncio da noite cobre o castelo com um manto de sombras quando sou surpreendida pelo som súbito da porta do meu quarto sendo aberta. Me viro, e o coração dispara ao ver Ferdinando parado ali, seu semblante decidido, uma mistura de determinação e algo mais sombrio, como um rei que não aceita respostas contrárias, mesmo após alguns dias sem nos vermos. Confesso que fugi e me escondi dele o quanto pude, mas agora já não dá mais.

Estou com uma camisola fina, e sinto um arrepio gelado percorrer minha pele ao perceber que ele tranca a porta. Tento manter a calma, mas minhas pernas fraquejam; ele se aproxima, e a tensão no ar é palpável, como se todas as palavras não ditas entre nós explodissem ao mesmo tempo. A cada passo, sinto meu coração pulsando, sabendo que fugir é impossível. Ele está diante de mim, a centímetros de distância, e sou forçada a encará-lo.

Ferdinando ergue a mão e segura meu queixo com firmeza, inclinando meu rosto para ele. Não há suavidade em seu toque agora, é um comando, um pedido de rendição. Meus lábios se entreabrem, mas as palavras me fogem; ele não espera por explicações e começa a dizer, com a voz controlada o que veio me dizer nessa noite.

-Você não vai mais fugir de mim. Precisamos resolver o que aconteceu entre nós.

Ele me puxa suavemente para a cama, fazendo-me sentar ao seu lado, enquanto ele permanece diante de mim. A proximidade é enlouquecedora, o perfume dele envolve meus sentidos. Me esforço para ignorar o desejo ardente que se espalha por meu corpo, mas é inútil. Estremeço. A tensão e a determinação dele tornam o ar denso e, enquanto ele fala, a fatídica notícia que tanto temia cai como um peso em meu peito... Ferdinando quer assumir a responsabilidade por mim, ele quer se casar comigo.

Meu coração vacila. Ele fala com uma objetividade cortante, como se quisesse fazer algo certo, cumprir o que espera de si mesmo e o que a sociedade espera dele. Mas sei que esse pedido não vem do amor. Não da maneira que o sinto, ardente e desesperado, em cada batida do meu coração. Luto contra as lágrimas que ameaçam cair, negando com a cabeça. Não aceito, não quero que ele manche o que vivemos com um casamento de obrigação.

-Eu não preciso que o senhor mude sua vida por minha causa. -digo, a voz entrecortada, segurando o olhar dele. -Você não deve nada a mim.

Ferdinando franze as sobrancelhas, seu rosto uma máscara de emoções contidas.

-Não posso deixá-la assim, desamparada, Selin. Precisa de um marido, alguém que proteja sua reputação agora que já não é mais... virgem.

Eu respiro fundo, forçando as palavras a sair.

-Não cabe ao senhor decidir isso. - murmuro, embora a dor em meu peito faça minha voz tremer.

Ele se aproxima ainda mais, suas mãos firmes em meus ombros, e meus lábios mal conseguem conter o desejo de o beijar. Ele abaixa a cabeça, nossas respirações se encontram, e sinto sua presença esmagadora, de forma imponente.

-Se acha que minha idade é o problema,-ele diz, com uma voz sombria, -encontrarei alguém adequado para você. Um homem nobre e mais jovem.

As palavras me rasgam por dentro. Como ele não vê? Como não percebe que não é a idade, mas o coração dele que me deixa em pedaços? Mas dizer isso em voz alta seria minha ruína. Então, em vez de admitir minha verdade, nego com toda a minha força.

-Não. Não me case com outro homem. -murmuro, e ele, frustrado, me encara, como se exigisse uma explicação.

Se ele soubesse... se entendesse o porquê de minha resistência... mas o peso da realidade que me assombra é algo que jamais poderá compartilhar. Meu pai, o Duque De Medice, o homem que me vendeu ao desprezo, jamais terá o prazer de me ver ao lado do rei. Jamais verá sua filha, que ele deserdou, alcançar o trono ao lado de um homem tão nobre. Seria minha melhor vingança, minha forma de mostrar que ele falhou. É então que uma ideia ousada invade meus pensamentos. Pego as mãos de Ferdinando, e, lutando para manter a voz firme, faço minha proposta.

-Se o senhor insiste em cuidar de mim... deixe-me ser sua amante. Um segredo apenas entre nós.

Ele tenta afastar as mãos, mas o seguro com firmeza. Sua expressão de surpresa revela mais do que ele gostaria, mas me lanço adiante, determinada, tocando-lhe o peito, enquanto minha voz mal passa de um sussurro.

-Eu posso ser o seu consolo nas noites frias, a sombra discreta que lhe trará algum descanso e conforto de todo o trabalho e exaustão da vida pública.

Ele me encara, os olhos estreitados.

-Selin, está fora de si? Por que eu aceitaria isso?

Aproximo-me ainda mais, deslizando as mãos por seus ombros, meu coração acelerado, e murmuro uma resposta com a voz doce e sedutora.

-Porque o senhor trabalha para tantas pessoas... Carrega o peso do reino nas costas... Então merece um refúgio, um calor feminino apenas para si, enquanto as pessoas não estão olhando.

As palavras saem com uma honestidade inesperada, e, antes que ele possa retrucar, sento em seu colo, colocando uma perna de cada lado, encurtando qualquer distância entre nós. Ele tenta protestar, mas o abraço com determinação, minhas mãos firmes em sua nuca, e o beijo, despejando nele o desejo reprimido, a dor, a saudade. Ele recua, caindo de costas na cama, e aproveito para me desfazer da camisola, expondo-me a ele com toda a vulnerabilidade que essa decisão exige.

Beijo-o novamente, com uma urgência que mal consigo conter, e ele me devolve o beijo, intenso e profundo, suas mãos passeando por todo o meu corpo. Deslizo as mãos sobre ele, despindo-o também, e cada toque meu revela a intensidade dos sentimentos que guardo em segredo. Entre um beijo e outro, me ouço dizer, quase sem ar, o que tanto quero.

-Permita que eu seja apenas uma dama de companhia para uma das princesas durante o dia... e sua leal súdita na cama à noite.

Ele parece hesitar, mas nossos corpos já falam a mesma linguagem, uma dança de emoções reprimidas, uma conexão que nossos corações entenderam antes mesmo de nossos lábios se encontrarem. Ele me segura com firmeza, nossos corpos se unem em um ato de paixão pura, com uma urgência de uma alma que ama além da razão, mesmo que eu seja a única que sente esse amor pairando entre nós.

Me agarro a ele, e ele a mim, e alcançamos juntos o ápice da paixão, em uma noite que sei que permanecerá comigo para sempre. Porque, embora ele não me ame da forma que desejo, seu toque e sua presença são o que me sustentam. E isso, por enquanto, é tudo o que eu preciso e o que me basta.


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(Falta 1 capítulo + Epílogo)

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