Capítulo Sessenta e cinco

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|Catherine|

O frio úmido da floresta se infiltra nos meus ossos, e cada respiração é um esforço, uma luta para manter-me em pé e consciente. O cansaço domina meus sentidos, mas não posso parar. Olho para Selin ao meu lado, a respiração pesada, o rosto pálido e marcado pelo cansaço. Mesmo exaustas e famintas, com o corpo dolorido e coberto de feridas, continuamos a avançar, um passo após o outro, em meio ao silêncio opressor que envolve a floresta.

A cada passo, o peso do desespero ameaça me esmagar, mas tento ignorá-lo. A presença de Selin ao meu lado me dá forças para seguir, e sinto que, de alguma forma, ela se agarra à minha presença também. Só temos uma a outra agora. Finalmente, depois de horas caminhando sem rumo, avistamos uma clareira à frente, onde uma leve coluna de fumaça indica que alguém esteve por ali. Talvez caçadores, talvez alguém que possa nos ajudar. A visão renova nossas esperanças, e um brilho de fé surge em meus olhos e também nos de Selin.

Seguramos nossas mãos, sentindo o calor uma da outra. Por um momento, a dor, o medo, tudo parece menos pesado. Talvez, apenas talvez, possamos finalmente encontrar ajuda. Damos um passo à frente, rumo à trilha que surge além da clareira, quando um som cortante, agudo, irrompe o silêncio, e uma flecha passa perigosamente entre nós, enterrando-se em uma árvore próxima. O impacto é alto e seco, quase congelando meu coração.

Uma risada macabra ecoa pelo ar frio, e eu me viro com o sangue correndo gelado nas veias. Meu corpo trava, e, instintivamente, levo a mão ao ventre, sentindo todas as forças se esvaírem. É Henry. A insanidade em seus olhos e a satisfação em seu sorriso provocam um arrepio em cada fibra do meu ser.

– Achou que podia escapar de mim para sempre? – ele pergunta com uma voz carregada de ironia e crueldade, e lança outra flecha, dessa vez mirando em Selin.

Antes que eu possa sequer pensar, meu corpo reage, e eu me lanço sobre Selin, derrubando-a no chão para tirá-la da mira. Não vou permitir que ela sofra por algo que não lhe diz respeito. Ela cai ao meu lado, e eu a vejo se levantar rápido, puxando-me pela mão para trás de uma grande pedra.

– Precisamos fugir... – ela diz, os olhos azuis brilhando com determinação e medo.

Atrás de nós, Henry gargalha, um som sádico e desequilibrado que parece fazer a floresta estremecer. Ele caminha, com passos calculados, enquanto assovia uma melodia distorcida.

–Podem até tentar se esconder, mas sabem que não escaparão de um soldado treinado, não é? Quanto mais tentam, mais se tornam uma diversão para mim – ele grita, rindo, enquanto continuamos a nos encolher atrás da pedra.

Selin, firme, me empurra para a frente e sussurra com urgência.

–Corra, Catherine. Eu vou logo atrás. Você é o alvo dele e precisa colocar alguma distância.

Tento hesitar, mas seu olhar é feroz. Ela me empurra novamente, e começo a correr, mesmo sentindo que minhas pernas estão em chamas, mesmo que meus pulmões implorem por descanso. Meu corpo dói, mas eu corro, até que um som seco, um golpe, interrompe o ar, e logo tudo se silencia. O medo gela minha alma. Paro e me viro, mas Selin não está ali. Então, ouço a voz dele, carregada de escárnio e crueldade.

–Vai abandoná-la, Catherine? Vai deixar sua amiguinha bonita para trás como uma covarde? Ou será que vai se entregar, como deveria ter feito desde o início?

Paraliso. Meu corpo treme, minha visão se turva, e o pânico toma conta de mim. Por fim, vejo Henry aparecer entre as árvores, arrastando Selin pelos cabelos. Ela se debate, mas ele a segura com brutalidade. Suas mãos estão ensanguentadas, um corte profundo enfeita sua testa, e um olhar de dor e raiva emerge de seu rosto machucado, mas Selin não parece desistir de lutar contra algo muito maior do que ela.

–Corra! – ela grita, entre um golpe e outro. –Corra, Catherine! Encontre ajuda!

Mas meu corpo não responde. Meus músculos travam, o medo me paralisa enquanto vejo Henry sorrir com um prazer doentio.

– Uma amiguinha leal, hein? Vamos ver se ela é corajosa o suficiente para me enfrentar – diz ele, segurando Selin com ainda mais força.

Ele ri enquanto a atinge com um soco que ecoa em meus ouvidos, e Selin grita, o som se desfazendo em lamento e dor. Caio de joelhos, impotente, implorando para que ele pare, mas as palavras mal saem de meus lábios.

Com um movimento brusco, Henry a atira ao chão e desfere chutes impiedosos, que atingem suas costelas, pernas, braços, e sem piedade. Selin tenta se defender com as mãos, mas a cada golpe ela se curva ainda mais em agonia. As lágrimas enchem meus olhos enquanto imploro, incapaz de suportar aquela cena. Selin logo perde as forças e desmaia, o corpo inerte no chão, e Henry a pressiona contra o solo, seu pé esmagando o pescoço dela.

– Não! Por favor, Henry! – imploro, minha voz soando mais como um gemido desesperado do que um pedido.

Ele olha para mim, os olhos brilhando com uma satisfação cruel.

–Se quer que eu pare, venha aqui e me faça parar.

Reunindo cada pedaço de força que ainda resta, me ergo e caminho até ele, ajoelhando-me diante dele, as mãos tremendo.

–Por favor... Henry, pare...

Ele ri, um som animalesco, e, sem aviso, me golpeia no rosto com tanta força que eu caio ao chão. Meu corpo, exausto, quase não consegue se mover, mas ele não para. Com um chute nas minhas pernas, sinto o impacto dele como se fosse uma lâmina rasgando minha pele. Tento proteger meu ventre com as mãos, mas ele parece ainda mais determinado em me machucar ali, onde sabe que dói mais.

– Uma ingrata – ele diz, com a voz distorcida de ódio. – Rejeitou meu amor, e achou que poderia fugir de mim? Pois agora vai pagar caro por isso, sua estúpida!

Cada golpe é uma tortura, e cada palavra dele perfura minha alma. Tento proteger o bebê, encolhendo-me o máximo que posso, mas sua crueldade parece infinita. A dor se torna insuportável, um fogo que consome cada célula do meu corpo, e sinto as forças me abandonarem. Em algum lugar distante, enquanto meus olhos começam a se fechar de dor e exaustão, ouço uma voz... Forte, firme, trazendo uma promessa de salvação que parece mais como um delírio da minha mente delirante... É Frederick.

Então eu apago por completo sem saber de fato se aquilo é um sonho ou realidade.


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