|Catherine|
O sol já desponta pela janela, mas meus olhos mal se mantêm abertos. Não consegui dormir de verdade a noite inteira. Os pesadelos, sempre o mesmo: Henry, a escuridão do corredor, suas mãos me segurando, o medo de Frederick descobrir e me acusar de algo que eu nunca faria. Estou completamente exausta, mas continuo fingindo que durmo, incapaz de enfrentar a realidade.
Sinto Frederick se mover ao meu lado. O calor de seu corpo se afasta quando ele se senta na beirada da cama. Meu coração acelera. Ele não pode perceber que estou acordada. Não agora. Sinto seu olhar em mim e prendo a respiração, tentando parecer o mais natural possível. Ele se inclina sobre mim, sua mão gentilmente afastando uma mecha de cabelo do meu rosto antes de beijar minha testa com delicadeza.
— Ah, minha dorminhoca... — ele murmura com um tom de carinho e bom humor. — Esses hormônios da gravidez estão te deixando cada vez mais preguiçosa. Nem se dá ao trabalho de acordar para se despedir de mim.
A cada palavra que ele diz, sinto uma pontada de culpa. Sei que ele está apenas brincando, mas a dor em meu peito é quase insuportável. Ele não faz ideia do que aconteceu, do que estou escondendo. Frederick se abaixa mais, e sinto seus lábios tocarem minha barriga levemente arredondada. Um arrepio percorre meu corpo, mas não de prazer. O medo ainda me consome. Ele murmura algo baixinho, conversando com nosso filho, como faz todas as manhãs.
— Papai vai cuidar de vocês. — Ele ri suavemente. — Fiquem bem enquanto eu estiver fora.
Ele se levanta, e o silêncio toma conta do quarto novamente. Só depois de ouvi-lo fechar a porta do quarto atrás de si, me permito respirar fundo, enchendo os pulmões com ar como se estivesse me afogando. Passo as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas que se acumularam enquanto fingia dormir.
Levanto-me lentamente da cama. Cada músculo do meu corpo dói, não só pela exaustão, mas pelo peso do medo que carrego desde ontem à noite. Meus pensamentos estão uma bagunça. Não sei o que fazer, o que dizer, como agir. Apenas sei que preciso continuar fingindo que está tudo bem, mesmo que isso me destrua por dentro.
Visto-me mecanicamente, sem prestar muita atenção no que escolho. Minha mente está distante, revivendo cada detalhe da noite anterior. A traição de Henry, a forma como ele me encurralou, o pavor que senti ao perceber que alguém que eu considerava amigo poderia ser tão perigoso. E, pior ainda, o medo de como Frederick reagiria se soubesse.
Decido passar o dia sozinha, evitando qualquer contato com as pessoas que amo. Não posso encarar Luz, nem Francesca. Ambas notariam meu estado e fariam perguntas que eu não estou pronta para responder. Então, passo longas horas no jardim, com Rufus ao meu lado, o cachorro da família que, pelo menos, não me exige nada além de uma companhia silenciosa.
O tempo passa devagar, e eu me perco em pensamentos sombrios, tentando desesperadamente encontrar uma solução, uma forma de esconder tudo isso. Mas quanto mais penso, mais me afundo no desespero. Não consigo comer, nem sinto fome. Minha mente está consumida pelo medo e pela culpa. Rufus lambe minha mão como se quisesse me confortar, mas nada parece aliviar o peso que carrego.
Quando o sol começa a se pôr, decido voltar para o quarto. Meus passos são lentos, minha cabeça está pesada. A dor latejante que começou pela manhã agora é uma dor excruciante, e minha visão começa a embaçar. Cada passo que dou é um esforço, e a fraqueza me domina. Apoio-me nas paredes do castelo enquanto subo as escadas, tentando manter o equilíbrio.
Estou a poucos metros do corredor que leva ao meu quarto quando sinto algo horrível. De repente, uma mão pesada e áspera cobre minha boca, abafando qualquer som que eu possa fazer. Um braço forte envolve meu corpo, prendendo meus braços contra meu corpo com brutalidade. Meu corpo é erguido do chão com uma facilidade aterrorizante, como se eu fosse uma boneca de pano.
Meu coração dispara. Tento gritar, mas o som não sai. Tento me debater, mas os braços que me seguram são duros como ferro. O pavor toma conta de mim, e sinto minhas pernas tremerem de medo.
— Cala a boca — uma voz grave e fria sussurra em meu ouvido, me fazendo gelar até os ossos. — Não faça nenhuma gracinha, ou vai se arrepender.
Estou sendo arrastada, levada por um caminho que não reconheço, e tudo o que consigo pensar é que estou em perigo. Um perigo que não consigo enfrentar sozinha. Frederick! Onde está Frederick? Como ele pode me salvar se não sabe o que está acontecendo? Minha mente se recusa a acreditar no que está acontecendo, mas então, ao ouvir aquela voz de novo, reconheço com horror quem é o meu sequestrador.
— Henry...? — Tento murmurar contra a mão que cobre minha boca, mas o som sai fraco, abafado pelo pânico.
Ele não responde, apenas me arrasta para longe, por corredores escuros que eu nunca explorei. O castelo, que estava se tornando meu lar, agora parece um labirinto de perigos e sombras. Minhas pernas se debatem no ar, mas é inútil. Ele é muito mais forte, muito mais determinado.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, o pavor me consome, e minha mente se enche de pensamentos aterrorizantes. O que ele quer? Por que está fazendo isso? Tentei me convencer de que poderia esquecer o que aconteceu ontem, mas agora sei que Henry está disposto a ir muito mais longe do que eu jamais imaginei. Me sinto sufocada pelo medo. Não posso fugir. Estou completamente à mercê dele. Cada segundo que passa parece uma eternidade, e o pânico se intensifica a cada passo que ele dá.
Minha visão escurece brevemente, mas me forço a manter a consciência. Preciso encontrar uma forma de escapar, de me salvar. Mas como? Ele me carrega como se eu fosse nada, um peso leve em seus braços monstruosos.
— Por que está fazendo isso? — tento perguntar novamente, minha voz mal sendo um sussurro abafado.
Ele não responde. Apenas continua a me carregar pela escuridão, sem dar sinais de parar. Sinto o desespero tomar conta de mim. Onde ele está me levando? O que vai fazer comigo? Preciso escapar, preciso encontrar uma forma de sobreviver. Mas o medo me paralisa, e cada pensamento lógico desaparece diante do terror que me envolve. Eu estou nas mãos de Henry, e ele não parece disposto a me soltar. O castelo, que antes era o meu refúgio seguro, agora parece uma prisão escura e desconhecida. E o homem que uma vez considerei como meu grande amigo... agora se revela meu maior pesadelo nessa vida.
🗡🗡🗡
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A Sombra do Passado [Completo]
Roman d'amour[livro 2] Série Amores Reais Frederick, príncipe herdeiro do trono de Navarra, não é como seus irmãos mais novos Felipe e Francesca. Considerado um homem de caráter duro e personalidade intransigente, não aceita nada além da verdade, como também é m...