A Sombra do Passado [Completo]

Capítulo Setenta e dois

|Francesca|

Ao entrar no quarto de Catherine, encontro-a sozinha, sentada na ponta da cama, com as mãos pousadas sobre o colo e os olhos perdidos em algum ponto distante. Quando me aproximo, ela me encara, mas vejo uma tempestade de emoções em seus olhos. Ela mantém o olhar pesado, marcado pela dor e, principalmente, pela culpa.

-Não deveria ter deixado isso acontecer, Francesca. -ela murmura, a voz trêmula e sombria, como se estivesse confessando um crime. -Eu perdi o filho que Frederick tanto sonhava... Fui tão tola, tão cega...

Eu me sento ao seu lado e seguro suas mãos com firmeza. Não permito que ela escape desse momento, porque sei o que essas sombras representam e o peso que ela sente. Sei porque também carrego uma dor parecida.

-Catherine, escute-me. -eu começo, tentando escolher cuidadosamente as palavras. -Há coisas que fogem do nosso controle. Eu também já perdi um filho, embora não fosse casada como você, e não tivesse o apoio de um homem como Frederick. Eu enfrentei tudo sozinha, guardando um segredo o qual nunca pude contar a ninguém, como uma ferida que nunca se fechava dentro de mim.

Ela me encara, surpresa e um pouco confusa. Então, eu respiro fundo, tentando ao máximo domar o tumulto dentro de mim, e começo a contar um pouco do que vivi.

-Naquela época, durante o noivado de Felipe e Luz, houve um ataque... Você não estava aqui ainda, mas foi um dia em que o caos reinou. No meio daquele desastre, acabei perdendo o meu bebê. A dor foi brutal, Catherine, física e emocional. Mas eu precisei engolir tudo isso, esconder tudo. Naquele tempo, eu não tinha o conforto de ter alguém como Frederick ao meu lado para me consolar. Eu precisei superar sozinha, me manter de pé enquanto tudo parecia desmoronar ao meu redor.

Vejo seus olhos marejados, e ela abaixa o olhar, como se estivesse com vergonha da própria dor e das próprias atitudes que tomou no passado. Aperto sua mão mais firme.

-Você não está sozinha, Catherine. - digo suavemente, e vejo suas lágrimas caírem. -Dessa vez, você tem o apoio de Frederick, que te ama, e também tem a mim, tem a Luz, tem até Felipe. Você é parte desta família agora, e vamos enfrentar isso juntas. Não importa o que aconteceu, não importa como, o que importa é que você não precisa suportar tudo sozinha.

Ela me olha, o rosto molhado pelas lágrimas, mas vejo nela uma força nova, a compreensão de que pode se apoiar em mim. Aos poucos, ela se abre, deixando que a raiva e o ressentimento escapem, admitindo a si mesma que sente falta do apoio de Frederick, que quer superar isso e reconstruir seu futuro ao lado dele. E esse é o primeiro passo para que ela encontre paz.

-Você tem razão, Francesca. Eu quero superar isso, quero dar a Frederick a felicidade e amor que ele merece... Mas ainda me sinto tão... indigna.

Sorrio com ternura, inclinando-me um pouco mais para ela, para que entenda o quanto sou sincera.

-Catherine, o amor não se trata de merecimento, é sobre aceitação, sobre estar presente mesmo quando as coisas estão difíceis. Ter um amor assim é uma sorte, e você o encontrou. Frederick te ama com tudo o que ele tem e daria a vida por você. Acredite, nem todas nós temos essa sorte na vida.

Ela respira fundo e segura minha mão com mais força.

-Obrigada, Francesca. Obrigada por me lembrar de tudo isso. Prometo a você, e a mim mesma, que farei Frederick feliz. Vamos superar tudo juntos, como uma família deve fazer.

Eu a puxo para um abraço, sentindo-a desabar em meus braços, um sorriso suave em seus lábios enquanto as lágrimas ainda escorrem. Sinto que um peso enorme foi retirado do seu peito. Acaricio suas costas com gentileza, até que ela respire com mais tranquilidade.