Capítulo Trinta e nove

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|Frederick|

Depois do duelo com Deklan Fraser, a tensão que parecia sufocar meus ombros finalmente se dissipa. Saber que Cloud está morta, que aquela ameaça não paira mais sobre nossas cabeças, é um alívio que eu nem sabia que precisava sentir com tanta urgência. Deklan, com seu jeito insolente e despreocupado, me deu uma espécie de paz, ainda que de uma forma abrupta e inesperada. Me despeço dele com uma última provocação, um sorriso discreto puxando o canto de minha boca, e com a promessa de mantermos o segredo da morte de Cloud apenas entre nós.

— Vamos manter isso apenas entre nós, certo? — digo, estreitando os olhos enquanto ajeito minha espada de volta à bainha.

Deklan sorri, aquele sorriso de quem sempre parece saber algo que os outros não sabem.

— Entre nós, Frederick. E só nós. — Ele faz uma leve reverência, quase zombeteira. — Afinal, não queremos mais ninguém se metendo em nossos assuntos... familiares.

Reviro os olhos. Não preciso de mais provocações, mas ele continua, porque, claro, Deklan Fraser nunca sabe a hora de parar.

— Ah, mal posso esperar para voltar a Inverness logo. Levar sua irmã como minha mulher... — Ele pausa, e o brilho malicioso em seus olhos é inegável. — Quem sabe te dar alguns sobrinhos bem agitados. Tenho certeza de que Francesca vai adorar...

Minha mão já está coçando para dar um soco naquele sorriso arrogante, mas me controlo. Respiro fundo e me forço a virar as costas. Ele ri, alto e sem remorso, enquanto eu sigo em direção ao castelo. Sua risada ainda ecoa nos meus ouvidos quando o deixo para trás, mas agora estou mais tranquilo. Deklan, por mais irritante que seja, salvou minha vida duas vezes. Uma durante a guerra entre Navarra e Valois, quando fui ferido e ele me levou delirante até a antiga casa de Luz em que Catherine estava morando, e na qual ela cuidou de mim. E depois, no ataque ao castelo, quando infiltrados invadiram a primeira sessão de julgamento dos crimes de guerra cometidos por Valois contra Navarra. Ele me tirou de uma situação de quase morte enquanto eu protegia Cath, e nos levou para a passagem secreta mais próxima. Eu não admito em voz alta, mas devo muito a ele.

Com Cloud fora do caminho, o fardo em meu peito alivia, e, embora me recuse a expressar isso em palavras, sei que Deklan é um amigo. Um aliado. Alguém em quem posso confiar para proteger Francesca, e, no final, isso é o que mais importa para mim.

No meio do caminho, começo a sentir o peso real do embate que tivemos. Minhas pernas estão mais cansadas do que imaginei, e meus músculos estão doloridos. Respiro fundo, percebendo que talvez tenha exagerado no esforço. Não é fácil lutar com raiva, e Deklan sabe como despertar essa emoção em mim como ninguém.

Chego aos meus aposentos reais, desejando uma banheira quente e um momento de descanso. Mas, assim que abro a porta, sou surpreendido por Catherine, que anda de um lado para o outro, seus passos rápidos e agitados. Seus olhos se arregalam ao me ver, e ela corre em minha direção, com uma expressão de preocupação que raramente vejo nela.

— O que aconteceu com você? — ela pergunta, a voz aflita, suas mãos começando a me apalpar, procurando algum ferimento que não existe.

— O que você acha que aconteceu? — respondo, tentando parecer mais exausto do que realmente estou, o que não é difícil com o cansaço real pesando sobre mim.

— Frederick! — Ela quase grita, apalpando meus braços, depois meu peito, depois meu rosto, seus olhos fervilhando de preocupação. — Você está machucado? Você está sangrando? — Suas mãos percorrem meu corpo, procurando algo que, claro, ela não encontrará.

Ela está tão envolvida em sua preocupação que não percebe meu sorriso discreto. Tenho uma ideia e, sendo o homem que sou, aproveito o momento. Deixo minha cabeça pender um pouco para o lado, fingindo uma fraqueza que claramente não sinto.

— Eu... acho que me esforcei demais... — murmuro, levando uma mão ao peito, simulando um desconforto.

Ela arregala ainda mais os olhos e se aproxima, a preocupação genuína dominando seu rosto.

— Meu Deus, Frederick, o que você fez? Você deveria estar descansando, e não... — Ela para, e antes que possa terminar a frase, solto um suspiro profundo, dramatizando minha exaustão.

Ela se inclina para me ajudar a me sentar na cama, as mãos ainda me examinando em busca de algum sinal de ferimento. Mas, quando ela está perto o suficiente, dou o bote. Em um movimento rápido, seguro-a pela cintura e a puxo para mais perto, prendendo-a contra o colchão com meu corpo. Seu grito de surpresa se mistura com uma risada, mas antes que ela possa protestar, meus lábios encontram os dela em um beijo profundo, quente e urgente.

Sinto-a relaxar sob mim, mesmo que tenha ficado irritada com minha brincadeira inicial. Suas mãos, que antes me examinavam em busca de machucados, agora seguram meus ombros, puxando-me para mais perto, entregando-se ao momento.

A raiva, o medo, a tensão que antes consumiam minha mente parecem evaporar, deixando espaço apenas para o desejo. Catherine tem esse efeito sobre mim, ela sempre consegue me acalmar e me agitar ao mesmo tempo. E agora, depois de tudo o que aconteceu, tudo o que eu quero é estar com ela, sem os fantasmas do passado pairando sobre nós. Quando finalmente nos separamos, ambos sem fôlego, ela me olha com uma mistura de irritação e diversão.

— Você me enganou, Frederick. — Ela tenta soar zangada, mas o sorriso em seus lábios a trai.

— Eu precisava da sua atenção... — respondo, minha voz baixa e rouca. — E parece que funcionou.

Ela revira os olhos, mas suas mãos permanecem firmes nos meus ombros, como se não quisesse que eu me afastasse. — Você é impossível.

— Eu sou seu impossível. — A provocação sai mais suave do que eu esperava, mas há verdade nas palavras.

Afasto uma mecha de cabelo do rosto dela e a observo por um instante. Sua preocupação sincera, seu jeito de cuidar de mim, mesmo quando não preciso, faz meu coração bater mais forte do que nunca.

— O que houve? — pergunto, ainda a segurando firmemente contra a cama. — Por que tanta preocupação?

Ela morde o lábio inferior, hesitante. — Com tudo o que está acontecendo, não posso evitar me preocupar. — Seus olhos me observam com cuidado, como se ainda estivesse tentando entender se estou realmente bem. — Achei que algo ruim poderia ter acontecido.

Sorrio, tentando acalmá-la.

— Estou bem, Cath. De verdade. Nada vai me derrubar.

Ela não parece convencida, mas, pelo menos por enquanto, decide confiar em minhas palavras. E enquanto a beijo novamente, sinto o peso da responsabilidade, do reino e da guerra se afastar, pelo menos por este breve momento. Tudo o que importa agora é ela, é nós dois, é nosso bebê... o meu herdeiro.


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