Capítulo Trinta e um

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|Catherine|

A tensão no castelo é sufocante, como um veneno que se espalha lentamente pelos corredores e aposentos. Cada pessoa que passa por mim carrega nos olhos o peso do medo, da suspeita, e eu sinto cada olhar cravado em mim. É como se, de alguma forma, a fuga de Cloud fosse culpa minha. Ninguém ousa falar comigo diretamente, talvez por medo da reação de Frederick, mas não preciso de palavras para sentir o julgamento pairando no ar.

Minhas mãos tremem levemente enquanto caminho pelos corredores, sozinha. Luz, minha única amiga verdadeira aqui, me disse que não devo me preocupar, que são apenas boatos, murmúrios sem fundamento. Mas como posso ignorar o fato de que sou filha de Louis de Bourbon, o antigo rei de Valois, o homem que tentou destruir Navarra? O homem que declarou guerra por causa de uma mentira arquitetada por Charles, meu tio.

Agora, o castelo está em chamas de incerteza, e todos parecem ver em mim uma possível traidora, mesmo que nunca tenham dito uma palavra. Será que, no fundo, Frederick também pensa isso de mim? Ele tem se afastado ultimamente. Toda vez que tento me aproximar, ele se esquiva. Será que, de alguma forma, ele me culpa pelo que está acontecendo? Será que, apesar de tudo que vivemos até chegar aqui, ele ainda me vê como uma inimiga?

Esses pensamentos martelam minha mente enquanto caminho, perdida em minha própria ansiedade. Frederick ainda não voltou das buscas de hoje, e a ausência dele só intensifica o turbilhão de sentimentos que me consome. Sinto como se estivesse afundando lentamente em um poço de incerteza e medo. O medo de ser rejeitada, o medo de ser culpada por algo que não fiz, o medo de que meu próprio marido possa me ver como uma estranha.

Então, algo me faz parar. Meus passos hesitam quando meus olhos captam uma cena mais à frente. Ao longe, vejo Frederick. Meu coração, que já estava acelerado, para por um segundo... e depois dispara de novo, mas dessa vez por um motivo completamente diferente.

Selin de Médice está com ele. A ex-noiva dele. Ela está agarrada ao braço dele de uma forma íntima, muito mais íntima do que deveria ser permitido. Eles estão conversando próximos, muito próximos. Meu sangue ferve de imediato. Sinto o calor subir pelas minhas veias como uma labareda incontrolável. As palavras entre eles parecem sussurradas, e não consigo ouvir o que dizem, mas não preciso. O modo como ela o toca, a proximidade, a inclinação dos corpos... tudo grita algo que eu não quero acreditar.

Estou queimando. Queimando de ciúme. Queimando de raiva.

Cada célula do meu corpo quer gritar, quer correr até eles e separar aquele casal com minhas próprias mãos. Quero afastar Selin dele. Quero tirá-la dali e dizer a todos que Frederick é meu. Que ele me pertence. Mas eu não posso. Não posso causar uma cena no meio do corredor, cercada por olhares julgadores, nobres que me detestam e me culpam pela guerra de Valois contra Navarra. Não sou mais ninguém aqui, sou apenas uma mera estranha em terras inimigas.

Sinto o coração acelerado e os músculos tensos de raiva contida enquanto volto, apressada, para os nossos aposentos. Cada passo que dou é um lembrete doloroso do que vi, e cada segundo em que estou sozinha no quarto aumenta o caos dentro de mim.

Alguns minutos depois, a porta se abre. Frederick entra, com o semblante cansado, os ombros tensos, o corpo visivelmente desgastado pelo longo dia de buscas. Mas nada disso importa para mim. Só consigo pensar na cena que testemunhei. No toque de Selin em seu braço, no jeito como eles estavam próximos. A raiva é como uma chama que arde dentro de mim, consumindo qualquer resquício de razão.

— Então é isso? — minha voz sai cortante, antes mesmo que eu perceba o que estou fazendo. Frederick levanta o olhar para mim, surpreso, mas não tenho tempo para explicações. — Eu não posso nem conversar com um simples soldado sem que você faça uma cena, mas você pode se agarrar com sua ex-noiva em público? Isso é o que você chama de respeito, Frederick?

Ele parece confuso por um momento, e então a surpresa em seu rosto se transforma em uma expressão fechada.

— Do que diabos você está falando, Catherine?

— Do que eu estou falando? Eu vi vocês! — grito, incapaz de segurar a fúria que transborda de mim. — Vi você com Selin, sussurrando, agarrado a ela como se eu nem existisse! — Minha voz treme de raiva e... dor. Porque, no fundo, é isso que dói mais. A sensação de que, para ele, eu talvez não importe tanto assim.

— Você está louca — ele rebate, a voz baixa, mas dura. — Nunca houve isso, Catherine. Nunca. — Ele dá um passo em minha direção, mas eu recuo, com o sangue fervendo nas veias.

— Louca? — Minha voz se eleva mais uma vez. — Eu sei o que vi, Frederick. Não estou inventando. Não sou cega. Eu vi a forma como ela te tocava. E você... você não fez nada para afastá-la.

O silêncio entre nós é denso, carregado de acusações não ditas. Nossas respirações são pesadas, rápidas, enquanto a tensão no ar cresce a cada segundo. Ele me encara, e posso ver a frustração nos olhos dele, mas há algo mais. Algo que está começando a transbordar em mim também.

— Por que você está agindo assim? — ele pergunta, a voz mais baixa, mas ainda tensa. — O que você quer de mim, Catherine?

Por um momento, fico em silêncio. A resposta está na ponta da minha língua, mas não sei como dizê-la. Não quero admitir. Não quero expor essa vulnerabilidade.

— Eu... estou com ciúme, Frederick — confesso finalmente, a voz quase um sussurro. — Ciúme de você.

Ele parece surpreso por um segundo, mas logo depois, algo muda em sua expressão. Uma faísca de reconhecimento, talvez.

— Ciúme de mim? — Ele repete, como se estivesse digerindo a ideia. — Bem, acho que somos dois então.

Aquelas palavras me atingem como um golpe. Eu paro, o coração batendo descompassado.

— O quê?

— Eu também estou com ciúme de você — ele confessa, os olhos cravados nos meus, sem mais disfarces.

Por um momento, ficamos em silêncio. As palavras não são mais necessárias. O que sentimos está evidente no ar, pulsando entre nós. O desejo, o ciúme, a frustração, tudo misturado em um turbilhão de emoções. Estamos tão próximos agora. Posso sentir o calor do corpo dele, a tensão no ar, o desejo que nos consome. Nossos rostos estão a centímetros de distância, nossas respirações se misturando.

E então... o mundo explode.

Frederick me puxa para um beijo feroz, intenso, e eu o correspondo com igual ardor. Nossas línguas se encontram em um duelo sensual, cada toque carregado de desejo reprimido. O calor entre nós é quase palpável enquanto nos devoramos com beijos e carícias.

Nossas roupas desaparecem pelo caminho com a ajuda de nossos dedos ágeis e desesperados. Quando caímos juntos na cama, é como se todas as barreiras tivessem sido derrubadas. Frederick me toma em seus braços, nossos corpos se movendo em uma dança de paixão, posse e loucura. Não há mais dúvidas, medos ou inseguranças. Só existe ele e eu, conectados, nossas almas entrelaçadas, nossos corpos queimando em uma noite de amor selvagem e feroz. Uma lembrança dos velhos tempos, do início de tudo entre nós...

E... aqui, nesse momento, ele é meu. E eu sou dele. Para sempre...


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