Capítulo Sessenta e nove

114 24 10
                                    

|Selin|

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

|Selin|

Me vejo diante da sensação de que estou sonhando acordada. Ferdinando segura minha mão pela primeira vez, e o toque dele é quente e suave, simples, mas também inegavelmente íntimo. Meus olhos começam a marejar; é como se meu coração acelerasse em um ritmo só para ele, como se minha vida inteira tivesse me levado a esse instante.

Ele é minha fraqueza e minha fortaleza ao mesmo tempo. Respiro fundo, tentando conter as lágrimas que se acumulam ao lembrar de tudo o que passei sozinha, com todos os segredos que ainda carrego até hoje.

-Eu... não queria ter sobrevivido. - confesso em um sussurro. -Eu sou tão... fraca. Não consigo fazer nada certo... -Minhas palavras falham quando as lágrimas finalmente escapam, caindo em silêncio pelo meu rosto.

Ferdinando me olha com uma profundidade que faz meu coração parar por um segundo. Ele não diz nada, apenas se senta ao meu lado na cama e, com o cuidado de quem carrega uma coisa rara e frágil, limpa cada uma das minhas lágrimas, uma a uma.

-Não diga essas coisas, senhorita Selin. -ele diz, a voz suave e firme. -Você é muito mais forte do que imagina. Você sobreviveu a um tormento do qual muitos não teriam saído com vida. Você merece viver, merece coisas boas.

Fecho os olhos, a mão ainda tremendo, e coloco minha mão sobre a dele, que ainda toca meu rosto. Eu me afundo no calor da presença dele, como se sua voz e seu toque fossem o único remédio para as feridas que carrego. Quando abro os olhos, a necessidade de me aproximar dele se torna irresistível. Me lanço em seus braços e o abraço com toda a força de quem teme perder o chão a qualquer instante. Enterro meu rosto em seu pescoço, sentindo o perfume que sempre imaginei, mas nunca tive coragem de chegar perto o suficiente para sentir. É um aroma que me intoxica, intensificando ainda mais o que sinto por ele, há tantos anos guardado em segredo.

Ele engole em seco, e por um instante sinto que ele hesita, talvez por não esperar essa reação. Porém, ele não me afasta de imediato, e eu tento absorver esse momento como se fosse o último, memorizando cada detalhe do corpo dele perto do meu. Ainda assim, o tempo parece escorrer rapidamente, e Ferdinando gentilmente desfaz o abraço e se afasta. Ele se levanta da cama, como se para retomar a compostura, e muda de assunto.

-O médico virá amanhã cedo. Você precisa descansar e se recuperar logo, senhorita Selin. -ele diz, com uma firmeza que não esconde a leve inquietação em sua voz.

Quando ele se vira para sair, estendo a mão, com o coração aos pulos.

-Por favor, volte amanhã.- peço baixinho, quase sem acreditar na coragem que encontrei para isso. -Há algo que preciso lhe contar. -Ele hesita por um momento, me observa como se pesasse cada palavra, e finalmente assente antes de sair do quarto.

A noite passa devagar. A antecipação me mantém acordada, pensando no que direi, em como confessar aquilo que guardei tão profundamente. Quando o amanhecer finalmente chega, tento me recompor para encontrar com o médico, que traz vários remédios e me examina. Não tenho lesões graves, ele me diz, e minha recuperação deve ser rápida. Tomo o café, mas quase não sinto o gosto. Mal vejo a passagem das refeições, e cada minuto parece mais demorado que o anterior.

A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora