Capítulo 1

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Os feéricos acreditam que o mundo foi criado através de um caldeirão em uma época onde esse não passava de um borrão de sombras, no centro ou nos arredores, isso não importa, mas acreditam que foi assim.

Sentada sob o céu fortemente azul, observando a luz gloriosa do sol ser ofuscada de vez em quando pelas asas grandiosas deles, chego a conclusão que não há como um caldeirão ter criado criaturas tão magníficas, tão gigantescas, ferozes, brutais, selvagens, lindas, mas principalmente com todas esses atributos somados à habilidade de cuspir fogo. Nem mesmo tal caldeirão possui tamanho poder. Não, há de existir outra explicação.

— Ainda pensando em suas teorias? — A voz de minha mentora atinge os meus ouvidos conforme se aproxima, gerando em mim familiaridade.

Não em tom desdenhoso, ou frustrado, mas sim, contemplativo.

— São extraordinárias demais.

Dragões.
Em cada escama um encanto fervente e distinto, nos olhos uma luz mais forte e mais brilhante até mesmo do que a do próprio sol, dentes afiados e grotescos, capazes de ofuscar a luz do dia de tão enormes, com asas igualmente gigantes e velozes, que cortam o própio vento a cada movimento gracioso de seu vôo. Um rugido que estremece os ossos, alma e coração de fogo, tão puro e intenso que se externaliza deles como o fogo primordial do mundo, extremamente letais e perigosos e mesmo assim, tão extraordinários, belíssimos.

— E você os trouxe a nós.

— Trouxe.

Aedon rugiu aos céus, maior que qualquer outra criatura existente, até mesmo que os demais dragões, com a exceção de apenas um. Seu rugido é tão impotente, poderoso, que me arrepiei ao ouvir tamanha majestade.
Escamas e olhos vermelhos, pele impenetrável, asas que podem cobrir cidades, a única fêmea com chifres mesmo que pequenos, portando o rugido mais forte que já ouvi e o fogo mais fervente e poderoso que já senti sobre minha pele, mesmo que eu não tenha queimado.

— Mas eles não são meus, não são seus. — Me levanto — Não pertencem a ninguém. — Levo minha atenção até Marion.

A fêmea Grã-Feérica de pele marrom terracota, um tanto mais escura que a minha pele bronzeada, fios castanhos e lisos até o busto, diferentes dos meus longos fios negros volumosos e lisos até o quadril, olhos puxados de íris alaranjadas, um tom distinto da cor âmbar nos meus em formato nada semelhante aos dela, nariz afinado, parecido com o meu, lábios espessos e mais intensamente marrons, possuindo apenas o tom distante da coloração avermelhada dos meus, rosto oval e queixo pontudo, sem muito em comum com a minha mandíbula ligeiramente marcada no rosto de mesmo formato, me olha em silêncio, com a sua feição relaxada que mais se assemelha a desprezo do que calma.

Alguém que não a conhece, se sentiria humilhado apenas em olhar para ela, apesar dos pelos finos que compõem a sua sobrancelha as vezes a tornarem inexpressiva. Nunca fui boa em esconder meus sentimentos com tanta maestria quanto ela, possuindo em meu rosto as sobrancelhas escuras, bem cheias, rente aos meus olhos e ligeiramente próximas uma da outra me rendendo uma feição constante de fúria mesclada a malícia.

Sempre com a postura mais impecável de todas e o nariz empinado de maneira orgulhosa, superior, era difícil de desvendar Marion. Por duzentos anos eu tentei, e mesmo sendo ensinada pela fêmea mais sabia do continente, nunca consegui.

— Você cresceu.

Conhecendo a anciã adornada dos pés a cabeça com joias douradas, vestido longo e alças clássicas em tom barroso, por tanto tempo, sei que essa é a maneira mais afetuosa que ela tem de dizer que se orgulha.

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