Capítulo 51

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Empunhei a espada contra o pescoço do espião, vendo sob mim a sua boca se mexer, mas escutando apenas os batimentos intensos e agressivos do meu coração. Sem a intenção de fazê-lo, continuei empurrando a espada cada vez mais firmemente contra sua garganta, mesmo dizendo a mim mesma para parar.

Azriel assumiu uma feição suplicante, suas belas iris iluminadas estão aflitas, e cheias de pontinhos de mesmo tom, só que mais escuro, evidenciando a intensidade de emoções que não é capaz de esconder. Disse a mim mesma pra parar, mas meu braço não obedeceu o meu comando.

Senti o toque firme das mãos grandes do espião em minha cintura, me empurrando para trás de maneira urgente e forte, enquanto seu pescoço já começava a ficar vermelho. Levei a atenção de volta a seus traços, e então encontrei borrões sem nehuma nitidez, como se estivesse embriagada. Senti que não estava certo, eu deveria vê-lo nitidamente, mas não consigo, é como se tivesse se tornado uma lembrança distante.

A firmeza de seu toque continuou se intensificando, de maneira que passou a se sobressair dentre o restante dos estímulos tentando chamar minha atenção. Por breves momentos a pouca iluminação da floresta sombria se tornou total escuridão, e nesses fragmentos da ausência de luz, cada mínimo detalhe intrigante e convidativo de seu rosto voltou a ser nítido.

Minha visão começou a oscilar entre o momento atual e a memória da noite passada muito rapidamente, fazendo eu me perguntar se é real, ou estou sonhando de novo. Posso estar sonhando com isso agora, enquanto ele me imobiliza para que eu não possa machucá-lo.

Nos momentos em que seus traços vinham a tona nitidamente, vi seus lábios médios perfeitamente desenhados em seu rosto, absurdamente próximos a mim. Então o borrão bronzeado da cor de sua pele, a visão turva e cambaleante. Dentro da cena mais clara, seu toque forte arrebatando o restante do meu foco, quase como se estivesse gritando meu nome. Eu quis responder, gritar o seu de volta, mas senti como se estivesse sem voz, como se alguém a tivesse roubado.

A cena escurece, seu olhar misterioso e intenso volta a dançar em minha mente, evidenciando a linha fina de sua pálpebra, os cílios compridos apesar de pouco espessos, as iris beijadas pelo sol em uma beleza verdadeiramente admirável, e a apreensão dentro delas.

Quando a cena voltou a assumir mais claridade do que antes, senti meu braço dormente, nos segundos seguintes um barulho abafado, e um impacto relativamente doloroso contra minhas costas. Não fui capaz de identificar o que aconteceu, mas mesmo o pressionando sobre ele, senti como se tivesse caído.

Percebi um suspiro brusco irromper por entre meus lábios, algo áspero e pontudo roçar minhas costelas em processo de cicatrização sobre a camisa fina, e meus batimentos agredindo o meu peito em alto e bom som.

O ambiente escureceu, voltei a contemplar o rosto perfeitamente desenhado do espião, com a mandíbula fortemente marcada, em aspecto elegante como o restante de seus traços masculinos e ainda assim, nobres. Diferente de seu amigo general, ou até mesmo o Grão-Senhor, ele parece pertencer à realeza, ter nascido pra isso, o macho mais sofisticado que já vi em toda minha vida.

E então clareou, revelando a imagem turva de um corpo robusto sobre mim, mais distante do que estava quando a cena era escura, com a cor preta pela extensão do que parece ser o tronco, e fragmentos da cor de sua pele, também beijada pelo sol.

Novamente, tudo se tornou escuridão, então vi mais uma vez o desenho impecável de seu tronco exposto, cada músculo belo e bem fortificado, e de maneira curiosa, suas iris assumiram a dominância de minha mente de novo em pouco tempo, ofuscando seu corpo. Rodeada por sombras, mas intocada por elas, um pouco esverdeadas e amareladas ao mesmo tempo, iluminadas apesar da aura escura que as ronda, como se possuíssem vida própria.

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