Capítulo 18

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Em Eduna o céu é constantemente escuro, nublado, reflete o gelo da terra e baixa seu tom. As nuvens jamais o abandonam.

Eu e o Conselho, tínhamos chegado poucas horas após o almoço e com a atmosfera desse Reino, me coloquei debaixo das mantas de pelo espesso de Tarkult. Os feéricos de Eduna parecem estar acostumados com graus drasticamente abaixo da linha nula, mas ainda assim, em meus aposentos especificamente, há diversas mantas e eu não hesitei em usá-las. Mesmo não sofrendo pelo frio como sofria antes, em plena dor, não deixou de incomodar.

Sou soldado desde que me entendo por gente, sei que não devo dormir em território inimigo por isso. Passei horas olhando para o teto, planejando exatamente o que faria primeiro e como sairia daqui sem deixar evidências.

Não pretendo fugir de Eduna, muito pelo contrário, eles me escolheram como sua garantia e agora eu os escolho como a minha. Nada melhor do que usar da artimanha deles contra eles mesmos.

Manter alguém em quem não confia dentro de suas terras? Mais que isso, dentro da morada real de Eduna. Vão desejar nunca terem feito isso, mas não por agora, sua conta chegará de maneira tardia. Se tem algo que aprendi com meu amigo rastejante é que o prato mais saboroso é aquele que é apreciado lentamente.

É exatamente por ele que devo deixar meus aposentos o mais rápido possível, e usar a noite como minha aliada. Tinha de encontrá-lo, talvez ele nem mesmo saiba que Marion e Gretan partiram, assim como os outros dois vão relatar baixa dele porque não voltou. Tihara, Corvic, Karak, sua família ficará devastada.
O maior desejo do Fosso será declarar guerra.
Eu preciso encontrá-lo e mandá-lo de volta antes que o pior aconteça. Não podemos correr esse risco agora, não quando eu acredito em minha mentora, Marion nunca faz nada por acaso. Edan e Gretan vão pensar em algo junto a Alfard pois vou encontrá-lo hoje, e enviar ele de volta para Vênetos.

Mais uma vez minha mentora estava certa, "certos males vem para o bem". Sempre enxerguei em mim mesma vocação para ser uma espiã, é hora de testar minhas especulações na prática.

***

Durante toda a tarde e a noite, ninguém me perturbou. Soldados Edunos trocaram turnos em frente a porta do meu quarto, isso me levou a calcular milimetricamente a maneira como deixaria meus aposentos temporários, sem que me vissem. Se alguma daquelas coisas berrar, teria que matá-las e seria um enorme gasto de energia para a primeira noite, mas principalmente de tempo.

Monitorei e ouvi suas trocas e calculei vinte segundos para a chegada de outros soldados. Seria impossível deixar os aposentos sem ser vista mesmo durante meros segundos, então eu teria de ser vista... Até não ser mais.

Por que evitá-los se posso usá-los ao meu favor? Um soldado é ensinado a lutar com as armas que tem, sejam elas lâminas indestrutíveis ou apenas seus próprios punhos.

Havia pensado em algo que poderia funcionar, que valeria o risco se fosse levar Alfard para casa. Não poderia ousar fazer nada se ele corresse risco, poderiam usá-lo como uma consequência para me punir. Não há apenas um fator que seja positivo em deixar que ele permaneça em Eduna.

Com algumas de minhas articulações doloridas pelo longo período em que permaneci deitada, empurrei o vidro milimétrico da pequenina janela do cômodo e passei a chamar a atenção da dragoa pelo laço de magia entre mim e Aedon.

Venha.
Seria mais eficiente simular uma fuga, ou a tentativa de uma e distrair a guarda real com isso.
Venha.

Eles enviariam toda a sua guarda, sou valiosa demais agora para que me percam de vista. Se eu fugisse, Vênetos poderia demorar séculos até determinar a data do juramento e da entrega de parte do território.

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