Capítulo 19

234 25 0
                                    

— Sou garantia, não prisioneira.

O som do seu riso desdenhoso foi evidente.

Me perguntei se eu deveria prosseguir, tendo a suspeita de que ele me interromperia de novo. Então como precaução, esperei mais alguns segundos, buscando com todos as minhas habilidades de rastreio um único sussurro de suas escamas peçonhentas sobre o gelo.

Nada. O peso em minhas costas se desvencilhou de mim, os ruídos do solo pararam, até mesmo o própria ar gelado parou de murmurar sobre sua presença indecifrável repleta de poder. Nada, e eu sentiria, sempre senti. Alfard não está mais por perto.

Foi quando respirei profundamente em alívio que percebi o erro que cometi, derivado da minha distração. Havia ficado tempo de mais, para procurar, intensificar e por fim ter certeza, o silêncio absoluto vindo do Príncipe cruel deixou mais que claro que ele havia percebido e jamais deixaria passar.

— Gosta mesmo de ambientes abertos. — Seu tom de voz carregado de tensão e mordacidade lenta, aterrorizante, confirmou minhas certezas.

Apenas deixar o pátio e seguir para os meus aposentos seria o mais prudente, mas eu poderia corrigir isso, consertar a suspeita que deixei pairar no ar.

Lentamente, adotando o seu exemplo, me virei para ele, em silêncio, preocupada apenas em manter meus olhos presos aos dele de maneira firme e insistente.

— Interrompo, irmão?

A voz séria e grave do primogênito viajou até meus ouvidos e me estremeceu, tive de olhar para ele imediatamente.

O macho vestido em uma túnica de seda preta, que deixa a mostra parte do seu peitoral, se aproxima descalço, cautelosamente, olhando para nós dois com olhos semicerrados, feição minimamente curiosa e mãos entrelaçadas sobre sua lombar.

— Eu que te pergunto. — Ainda não havia voltado minha atenção para um ser tão insignificante com uma figura tão marcante, de maneira frustrante, a minha frente — Perdeu o sono irmão?

Os olhos cinzentos e turbulentos do príncipe se entrelaçaram aos meus, enigmáticos e misteriosos.

— Infelizmente não. — Estava falando com Malak, mas mantendo sua atenção sobre mim — O dever chamou.

Chamou?

— Chamou? — Simula surpresa.

Erone ficou quieto de imediato, empenhado a caçar a essência da minha alma em meus olhos. Completamente concentrado.

— Tive de corrigir maus soldados. — Finalmente levou a atenção ao irmão, permitindo-me focar na conversa novamente — A eles não lhes foi ensinado que não é prudente ameaçar um dragão. — Tenho a impressão, de que não está apenas relatando um acontecimento — Principalmente sendo uma criatura de gelo, enfrentando um dragão de fogo.

Aedon pousou violentamente contra o bastão de gelo alto e esse desmontou. As quatro patas bateram contra o pátio, que não só estremeceu como também trincou em um ruído. Gelo maciço, de toneladas, rachou sob o peso da dragoa.
Malak não pôde evitar olhar para ela, que não se importou em expressar seu típico gesto de simpatia e mostrou todos os dentes em sua boca, grunhindo em seguida para sanar qualquer curiosidade do príncipe cruel em relação a ela.

— Se não te incomoda, Princesa. — Erone trouxe os olhos para mim de novo, lentamente — Peça que Aedon permaneça com os demais dragões, para evitar sustos desnecessários. — O Príncipe disse cada palavra da maneira mais pausada possível.

Eu sei ler bem os sinais.

Assenti, movendo o queixo positivamente e não fui capaz de desviar minha atenção. Há muita tensão entre nós para que eu ouse ficar desatenta de novo por um único segundo. Poderia pagar caro por um mero errom

Sobre CortesOnde histórias criam vida. Descubra agora