Capítulo 48

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Meus ombros despencaram em alívio e frustração ao mesmo tempo. Por breves segundos deixei de senti-lo, percebendo minha vitalidade me abandonando e deixando a fraqueza assumir.

— Não deveria ter agido tão rápido. — Suspirei, sem a capacidade de falar nitidamente.

Mesmo sem olhar pra ele, pude ver em minha mente o olhar confuso e severo me repreendendo.
A fraqueza não fez menção em sair, mas uma segunda sensação se juntou à ela, arrepios sazonais e frescos, relaxantes. Estranhamente, nas regiões em que as sombras do illyriano se fizeram mais presentes.

— Preferia que eu deixasse ele te transformar em um pássaro?

Sua afirmação me deixou confusa, ele conhece uma história que eu não conheço, mas pela primeira vez não deixei transparecer. Isso porque os arrepios delicados passeando pela minha lombar, meus ombros, e a região da tatuagem formada pelo acordo, tomaram uma parte maior da minha atenção.

— Ele não iria me machucar.

— Confiou na palavra dele? — Não foi uma pegunta genuína, mas soou pacata.

— Eu tinha tudo sob controle. — Molenga, consegui tornar minha atenção até ele, encontrando sua feição reprovadora até mim.

A firmeza em meus músculos se esvaiu por completo, meu corpo tombou para frente e não pude empedi-lo. Bateria com a testa no peitoral do espião, se ele não tivesse avançado para me suportar em seus braços.

— Estou vendo. — Soou irônico e rispido ao mesmo tempo.

Sua voz ressou próxima aos meus lábios, de modo que pude sentir o hálito fresco do espião neles. Os arrepios continuaram.

Gostaria de protestar, mas não duvido da sua capacidade de me deixar cair no chão, então deixei que ele me levasse até o sofá. Me colocou deitada nele, me ajeitando como se eu tivesse perdido os movimentos permanentemente.

— Já chega. — Dei um tapa leve em sua mão, enquanto essa esticava minha perna. O orgulho em mim impediu que eu deixasse ele continuar.

A presença das suas sombras relutantes em deixar minha pele atrapalha meu julgamento, de modo que seu toque não me gerou a indiferença que pensei que sentiria. Tampouco sua respiração contra a minha anteriormente.

Isso me rendeu uma demonstração clara de impaciência da sua parte, quando suas sobrancelhas se contraíram, e sua postura assumiu tensão. Humor esguio e pequenino ondulou em minha mente, me trouxe a vontade de rir, mas me contive.

— Como eu ia dizendo. — Suspirei, em estado de repouso — Tinha tudo sob controle, poderia descobrir qual acordo com Eduna se não fosse pela sua intervenção heróica. — Zombei, com certo grau de raiva em minha voz. Baixo pela influência sorrateira do restante de sua magia.

Bruscamente seu rosto evidenciou surpresa com suas sobrancelhas erguidas no momento em que ele cruzou os braços, indignado.

— Se não fosse pela minha intervenção heróica, poderia não estar mais aqui. — Ligeiramente, elevou o tom de voz.

— Vocês e seu péssimo hábito de acreditar que eu preciso de proteção. — Deixei a cabeça cair sobre o braço do sofá, frustrada.

— Não se sinta especial, teria feito por qualquer um. — Voltou para seu tom de voz sério e indecifrável, como um verdadeiro espião de respeito. Quase como se de repente, o assunto tivesse perdido a importância.

Minha mente me levou até Erone, e com certa melancolia repousando em meu peito ao ver seus olhos nublados em minha mente como uma lembrança em névoa, dentro de seu olhar isento de qualquer emoção, os comparei.

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