Capítulo 59

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Cassian se sentou na ponta da cama, enquanto eu permaneci onde estava antes, mas agora estou sobre as mantas.

Senti o aroma dos cookies assando lá embaixo, e automaticamente me lembrei da ceia que Azriel preparou para mim. Ele teve ajuda, mas a intenção foi dele, e até hoje sinto a necessidade de agradecê-lo, especialmente depois de ter sido tão dura.

Estava me sentindo pesada, me encontrar com Khorse sem preparar o meu psicológico antes, trouxe a tona todas as feridas que sofri de uma vez só, me lembrando da sua feição desdenhosa ao me encarar, diante de inúmeros feéricos desamparados. Não deveria descontar nele, afinal o que sofri não foi culpa sua, ainda assim eu o fiz. O espião me deixou com raiva, agindo como se minha urgência para partir fosse mera futilidade, então explodi.

Ele deve ter se sentido arrependido para fazer o que fez, então é minha vez de me redimir.

— Por que não nos disse que iria fazer um procedimento arriscado com Madja? — Perguntou, soando amigável, mas confuso, carregando uma feição de mesma aura — Poderia ter pedido apoio.

— Está tudo bem. — Respondi, um tanto distraída enquanto olhava para a porta.

O espião já deve ter voltado pra essa casa, não deixaria alguém em quem não confia permanecer nela por tanto tempo sozinha, sem a sua supervisão.

Em relação a pergunta de Cassian, não menti. Somos aliados sim, mas não é necessário que eu seja sua família assim como o resto deles é. Me contento com sua amizade, não irei obrigar ninguém a firmar laços fortes de lealdade comigo. Não poderia tirá-los de seus afazeres porque estava temendo o uso da magia alheia, seria até mesmo vergonhoso.

— Tem certeza? — Perguntou, com o tom de voz mais firme.

Assenti, movendo o queixo positivamente simplismente, sem tirar os olhos da porta.

— Bem, se era apenas isso... — Me levantei determinada, na intenção de descer e encontrar o Azriel para dizer que sou grata pelo que fez, e nada do que passei é sua culpa. Mas Cassian me interrompeu.

— Onde vai com tanta pressa? — Expressou curiosidade, sem autoritarismo, o que me deixou ligeiramente intrigada diante da mudança de seus modos.

Ainda duvidando um pouco, tornei atenção até ele para ter certeza de que não está apenas encenando, e tive minha confirmação quando olhei em suas iris também cor de avelã, e vi até um pouco de diversão junto a descontração nelas.

O illyriano se inclinou, sem tirar os olhos de mim, claramente tentando esconder a curiosidade que deixou transparecer demais. Julguei inocente contar parte da história pra ele, talvez até se divirta um pouco.

— Tenho alguns assuntos a tratar com seu amigo.

— Rhysand? — Perguntou, apertando os olhos.

Movi o queixo negativamente.

— O espião. — Respondi, com certo desdém.

A feição do general brutamontes se suavizou, em seguida ele corrigiu a postura, pensativo.

— Az ainda não voltou. — Respondeu, em alerta comedida.

Minha determinação se esvaiu, deixando uma carcaça perdida, com a pergunta: o que fazer agora?

— Tem certeza? — Assumi feição confusa — Deve estar realmente atarefado se está fora por dois dias consecutivos.

— As tarefas de Azriel exigem bem mais que apenas dois dias. — Se levantou, desajeitado feito um cachorro grande que não tem noção do próprio tamanho — Ainda que estivesse fora por apenas dois dias, o que não é o caso. — Se espreguiçou, alongando a coluna com as mãos sobre a lombar.

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