Capítulo 41

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- O que é isso? - Perguntei ao passar o dedo pela superfície preta. Não senti um único revelo saliente sob ele.

- Fizemos um acordo. - Ela se virou, afastando os fios de perto da orelha, mostrando uma marca em formato de espiral - Implica que não pode ser quebrado.

Eu não posso deixar a Corte Noturna antes que Madja diga que estou totalmente recuperada. Um suspiro tenso irrompeu por entre meus lábios.

- Se alguma de nós quebrar, o que acontece?

- Não deveria se preocupar se não planeja quebrar. - Respondeu com serenidade - Eu não planejo.

- Nenhum de nós nunca pagou pra ver. - Rhysand se aproximou, um pouco menos apreensivo que antes. Por fim, envolveu a cintura da parceira com uma das mãos, e colocou a outra dentro do bolso da calça.

- Está resolvido. - Suspirou, passando a ideia pacata de conclusão.

Foi o sinal implícito para eu deixar o cômodo, então me afastei após a menção de um sorriso não tão amigável. Mesmo que mais civilizada, não deixa de ser uma forma de aprisionamento.

Minha mão repousou sobre a maçaneta quando uma voz estridente pediu para que eu voltasse e tirasse a história a limpo. Foi como um alfinete pontudo me espetando.

- Feyre. - Chamei sua atenção, ainda em frente a porta.

- Sim?

Pensei que não seria difícil mencionar os últimos acontecimentos para descobrir o que houve, mas me enganei. Pelo visto, a ideia de demonstrar vulnerabilidade é ainda mais assustadora quando aconteceu de fato e eu não posso fingir que não aconteceu.

- Ontem a noite. - Respirei fundo e apertei as mãos em punhos, na intenção de prosseguir sem transparecer minha vergonha - Deu a ordem para que seu espião me levasse até aquela casa na cidade?

Tive que me esforçar para não suspirar em alívio após as palavras finalmente saírem.

Sutilmente os lábios rosados na Grã-Senhora se entre abriram e ela assentiu, movendo o queixo em gesto positivo. Não hesitou ou deu algum outro motivo para insinuar que está mentindo, então fui obrigada a aceitar a história mesmo sem confiar nessa. Afinal de contas, o que posso fazer se não me lembro?

Mais uma vez me despedi, e deixei o cômodo.

***

Fui até o chalé onde Madja trabalha para atender ao seu pedido, na esperança de estar ao menos um pouco mais próxima da recuperação completa, mas as caras e bocas que fez não demonstraram otimismo.

A curandeira desfez os curativos e me levou até uma sala a parte, com uma banheira de água fumegante. As feridas causadas pelos espinhos estão horrendas, mas nada supera a cicatriz ainda em carne viva que o gelo de Malak provocou. É como se houvesse um parasita grotesco se alimentando de mim, tão imbatível que está até aparente.

Senti minhas vísceras se revirarem, e o sentimento de frustração chegou em seguida.

- Não fique olhando menina. - Se aproximou, colocando uma toalha em um dos ganchos - Será pior. - E então fez o mesmo com um vestido vermelho. Não pude ver exatamente como é devido a maneira como o pendurou, apenas a sua cor.

- Quanto lhe devo? - Perguntei com a voz baixa, adentrando a água quente e aconchegante.

- Está na conta dos Grão-Senhores.

- Quis dizer pelo vestido. - Por que Feyre seria tão gentil em me comprar um quando me vê como uma desertora?

- É presente do illyriano pomposo. - Disse ao se afastar - Apenas agradeça e descanse, está bem? - Ela não parou para se despedir, parecendo estar com pressa - Caso contrário vai ficar aqui pra sempre. - Sua voz soou distante, e o som dos passos cessou.

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