Capítulo 31

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Eu tinha descansado um pouco no chalé, há muito tempo eu não paro pra simplismente descansar, sem nenhuma responsabilidade a ser cumprida. A experiência foi no mínimo peculiar. Surpreendentemente não foi tão desconfortável quanto eu pensei que seria, não soube identificar se foi a magia, mas aquela maca pareceu acolher o meu corpo durante o resto do dia, tanto que acordei apenas na manhã seguinte.

Sem dor, e sem chamados urgentes de Aedon, como se fosse o primeiro dia normal na minha vida depois de duzentos anos.

Quando eu acordei o cômodo estava vazio, mas não demorou muito para a fêmea Grã-Feérica aparecer.

De maneira um tanto cautelosa, ela passou lentamente pela porta com uma calça de couro pendurada em um dos braços e um par de botas de mesmo material na mão.

- Bom dia. - Após fechar a porta, ela parou distante de mim, me analisando. Pela feição pesarosa que assumiu, presumo que eu não sou a visão mais bela a ser vista.

Esbocei um sorriso educado, e a partir dele ela se aproximou.

- Trouxe para você. - Disse colocando as peças de roupa sobre o espaço livre na maca.

Em outras Cortes, provavelmente me amarrariam como um escravo e me conduziriam até seu Grão-Senhor da maneira que estava antes, um privilégio inesperado se permitissem o tempo de descanso.
Algo me diz que aqui, as coisas funcionam de uma forma diferente. Um Reino um tanto mais democrático talvez, assim como Vênetos.

- Muito obrigada.

- Eu vou acompanhar você até nosso escritório para que possamos conversar.

Tentei evitar a feição confusa ao questionar porquê teria que conversar com ela, quando me lembrei que se os pais do garotinho tem essa aura majestosa, no mínimo possuem uma influência grande sobre a Corte.

- Me chamo Feyre e sou a Grã-Senhora da Corte Noturna, meu parceiro é Rhysand, o Grão-Senhor.

Assenti sem objeções após ela responder minhas dúvidas e fiquei pronta.

***

- Sente-se. - A fêmea apontou para um dos sofás sofisticados dentro do cômodo chique, caminhando até seu parceiro em seguida.

Quando adentrei a mansão, fiquei maravilhada com as diferenças do Norte da ilha para Vênetos. A maneira como há a predominância da noite em todos os detalhes, mesmo durante o dia, me aqueceu o coração ao me levar de volta para a predominância do fogo para qualquer lugar que se olha em Vênetos.

O soldado illyriano de porte grande e traços brutos corrigiu a postura ao me ver, sério e atento. Feyre sentou-se ao lado de Rhysand, no maior sofá do escritório, azul escuro como os outros, sendo acolhida pelo estofado aconchegante.

- E então... - o macho não moveu um músculo, se manteve em sua postura imponente natural sem desviar os olhos de mim por um único segundo sequer.

Eu jamais costumo sentir medo de Grãos-Feéricos como eu, sejam eles Senhores, sejam eles Reis, mas a aura dele me impulsiona a respeitá-lo.

A fêmea apertou os olhos ligeiramente, deixando uma mínima fração de sua curiosidade transparecer.

Corrigi minha postura, honrando o título que nunca fez sentido para mim, com a certeza depois que tudo aconteceu, de que não abaixarei a cabeça de novo pra ninguém. Meu estômago se embrulhou no momento em que as memórias vieram a tona, por consequência minha cabeça latejou em pontadas doloridas. Como forma de fuga, prestei atenção ao ambiente ao meu redor, na esperança de lembrar a mim mesma que eu havia escapado, e os dias de tortura acabaram.

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