Capítulo 9

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Grande parte dos trabalhadores do Fosso já haviam partido para suas casas, mais para baixo do vulcão do que onde estamos e por fim, Corvic e Karak se despediram de nós, a matriarca com um beijo na testa dos filhos, e na minha.

Durante cinco minutos não me mexi, me mantive totalmente imóvel, enquanto Tihara e Alfard continuaram seus assuntos tranquilamente, como se nada houvesse acontecido. Porque para eles, de fato nada aconteceu.

Foi estranho para mim receber um beijo na testa, isso nunca havia me acontecido antes e a minha mãe... De certo nunca receberei um gesto carinhoso dela.

— Ficou entretida com as minhas habilidades? — Alfard cutucou a minha costela pra me salvar da minha própria mente. Seus olhos esmeralda reluziram, sua voz se arrastou no som da letra "s" e eu me perguntei se estava prestes a se transformar de novo.

Julgando pelo seu olhar, está mais preocupado com a minha atenção do que com a resposta.

— Vejo suas transformações desde que me entendo por gente.

Os dois continuaram esperando pelo fim do meu raciocínio.

— E a sua cobra nunca para de crescer. — Deliniei um sorriso malandro nos lábios e segurei a gargalhada para não estragar a piada.

Os irmãos caíram aos risos e após alguns segundos eu me permiti rir também.

Piadas de um teor sugestivo são as que mais nos divertem, por motivos óbvios. Somos eternas crianças com uma mente podre.

— Vê? É gigantesca.

O fato dele ter falado fora de sua seriedade foi o suficiente para mais alguns minutos apenas de risadas incessantes.

— Vocês dois não prestam. — Tihara levou a mão ao abdômen trincado, como se fosse fazer a dor proveniente do riso na região parar.

— Mas a cobra de seu irmão é de muito valor.

Alfard gargalhou ainda mais alto dessa vez, com a sua risada melodiosa e harmônica ecoando pela rocha vulcânica extensa. Nada condizente com a sua aparência robusta em músculos, rosto com traços brutos e olhar particularmente sedutor, ou de maneira mais precisa, traiçoeiro.

A risada de Tihara que não ouvia a tempos é a risada de uma verdadeira dama, carregada de delicadeza e feminilidade, também não condizente com a força de seus golpes. Machos ultrapassados e fêmeas que subestimam o próprio gênero jamais apostariam que a bastarda do Fosso tem tamanha habilidade na arte da luta.

— Não, mas falando sério agora. — Os risos da princesa diminuíram gradativamente — Sobre a minha postura. — Cruza as mãos a minha frente, pedindo uma opinião.

— Você resistiu bravamente. — Aponto para seus braços — Entendo agora o porquê dos músculos tão aparentes.

Não me surpreenderia se Alfard dissesse casualmente que se transforma para estimular a massa muscular da irmã.

— Obrigada. — Assume um tom lisonjeado, levando a mão ao peito de forma modesta enquanto olha para o irmão — Logo não será mais você o vencedor. — Provoca.

— Nos seus sonhos pequena. Nos seus sonhos.

Tihara virou os olhos, reprimindo o riso.

Alfard por sua vez percebeu e a encarou por alguns segundos com a expressão mais séria que poderia esboçar, eu por minha vez observei a cena no meio dos dois.

Alguns segundos se passaram e ela percebeu a intenção de fazê-la cair aos risos de novo e levou o seu desafio a sério, o encarou de volta simulando o rastejar de uma cobra conforme a maneira que mexia o pescoço na tentativa de usar o golpe do irmão contra ele mesmo. Na tentativa de fazê-lo rir.

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