Capítulo 63

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Ficamos o restante da noite jogando conversa fora, rindo como bobos da corte, sem dispensar mais uma garrafa de vinho ou copo de Whisky. No momento em que acompanhei os dois até a porta, não tenho certeza do lugar em que bati o dedinho do pé, mas sei que aconteceu, e sob o efeito eletrizante do álcool nem senti dor direito.

As estrelas no céu noturno parecem se multiplicar sob minha visão afetada, como se os pontos a cima fossem sua parcela azulada e escura. Nesta e Cassian seguiram caminho a fora se segurando um no outro, ainda rindo e cantando feito jovens apaixonados. O humor não pretende se esvair do meu corpo tão cedo, por isso nem tentei segurar mais os risos.

Fechei a porta cambaleando enquanto vejo a parede do Hall e o restante da casa, turvos. Ainda tropeçando nos próprios pés e rindo sozinha de nossas piadas, houve um momento da noite que se enraizou em minha mente, se recusando a sair.

"Depois disse que seguiria empenhado em não deixar encoberto o mínimo dos detalhes sobre você, que não desistiria ainda que lutasse contra ele e está pronto pra briga. E até agora, isso é tudo."

A frequência incessante de risos diminuiu, e aquela chama apreensiva e eufórica ao mesmo tempo, querendo se mostrar desesperadamente e ainda assim se escondendo, retornou. Queimando de maneira ainda mais avassaladora que antes, alimentada pelo combustível alcoólico.

Um suspiro cheio irrompeu por entre meus lábios, e mais uma vez ri melodiosamente, leve o bastante para pular e acreditar que levitaria. As chamas intensas envolveram meu peito e em segundos me encontrei tremendamente descontentada. Azriel deveria estar aqui, para eu jogar na cara dele que independente das suas ambições jamais conseguirá me vencer. Seria tremendamente engraçado, e imaginar a cena, vendo a sua feição incrédula e desafiada me provocou risos altos e robustos, fazendo meu abdômen doer conforme os segundos se passaram.

Ele provavelmente colocaria as mãos na cintura, e sua postura tão impecável que chega a ser irritante, teria se curvado um pouco pela descrença de meu desafio. Parte do seu ego estaria abalado, então um sorriso brusco e sutilmente ofendido se revelaria, seguido de um riso repleto de ironia.

Assim começariamos a discutir, visando provar que temos mais poder do que o outro, a disputa nunca acabaria, nós nos afastariamos pelo cansaço ou pelo aborrecimento, mas nenhum dos dois admitiria derrota.
Mais alguns risos escaparam desenvoltos enquanto imaginava a cena, podendo ver seu rosto nítido diante de mim. Pele sem uma única imperfeição, traços retos e tão nobres que poderia ser um Príncipe, os lábios parcialmente cheios, com coloração viva que evidencia sua vitalidade, a mandíbula marcada na medida certa, o queixo impecavelmente reto, os fios negros de seu cabelo indeciso quanto a sua textura, as sobrancelhas retas, longas e cheias sem uma única falha, compondo o desenho de seu rosto como se fosse uma obra de arte feita pelo pintor mais habilidoso do mundo.

Um cansaço físico me acometeu depois de passar tantos minutos rindo sem parar, por consequência segui caminho até a direção da escada. Parei de rir feito boba, já que seus traços não carregam humor nenhum, e chegam me causar até certa revolta.

Como pode existir um macho que seja tão elegante e esteticamente perfeito como ele? Esse illyriano não possui uma única imperfeição, no rosto ou no corpo. Até mesmo a linha de expressão singular e rara que se revela de vez em nunca compõe sua aura envolta em sensualidade. É injusto, ninguém deveria ser tão encantador como ele.

Surpreendentemente consegui subir os degraus sem cair da escada, mesmo com a escuridão do andar de cima e as pernas bambas. Em consequência, um suspiro brusco e irritado irrompeu, seguido de um riso breve e incrédulo. Até mesmo quando estou apenas pensando nele, faz com que nada saia dos trilhos mesmo quando naturalmente saíria. Por acaso é uma espécie nova de illyriano que nasceu com a aparência de um deus?

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