Capítulo 46

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— Como consegue ser tão mentirosa? — A curiosidade em seu tom de voz foi pouca em comparação com a revolta comedida nele, ainda assim foi o suficiente pra me fazer parar.

A essa altura do campeonato, já percebi que estava fazendo hora para que sua Corte me encurralasse. Ainda assim diante de mim, apenas ele permanece. Por algum motivo eles não vieram, confiaram plenamente em seu potencial e aqui estou, provando que tomaram a decisão certa. Um suspiro frustrado escapou, com sorte baixo o bastante para que ele não tenha ouvido.

Ou estão aqui, mas resolveram permanecer nas sombras. Há mais probabilidade da primeira opção ser a correta, levando em consideração a tentativa de me provocar. Consegue mais tempo pra que eles cheguem, se o espião acreditasse mesmo que estão aqui, não se esforçaria tanto.

Posso respondê-lo e dar a ele o que tanto quer, evidências dos mistérios sobre mim que querem tanto desvendar, ou simplesmente fingir que não é comigo.

Talvez eu devesse assumir a postura da princesa, com a noção de que não existe ninguém acima de mim, o famoso complexo de deus, e com isso ignorar qualquer tentativa de me desestabilizar. Frustrando seu plano.

O problema é que eu nunca fui a princesa, e o ego de um soldado é grande, especialmente quando somos tão excepcionais no que fazemos. Sua provocação me atingiu em cheio, funcionou exatamente como ele queria, senti suas palavras de afronta como uma lâmina dolorosa agredindo minha honra, e mesmo sem a necessidade de me provar, como pode ele questionar minha integridade sendo quem é? Sem ao menos me conhecer profundamente?

— Qual foi a mentira que contei? — Simulei curiosidade, sem tornar minha atenção a ele.

Ficar de costas para um adversário é perigoso, mas diante de mim está uma dragoa bem atenta. Meu coração pesa com a ideia do que aconteceria com ele se ela precisar me proteger de um ataque. Eu sei o quanto seu fogo pesa em minhas morais, mas dragão não tem moral, tem instinto.

— Mentiu ao firmar o acordo com Feyre, não manteve sua palavra.

Chamas ascenderam em minhas veias, rugindo para chamar a atenção apesar do potencial ainda sutil. Me senti mais agitada por consequência.

Das duas, uma. Ou ele é muito hipócrita, ou muito ingênuo.

— Espera mesmo ter nossa confiança com essa atitude? — Dessa vez a curiosidade em sua fala soou genuína.

— Jamais pediria pela confiança de vocês, especialmente quando não conquistaram a minha. — Respondi em um tom ligeiramente mais rispido, na menção de prosseguir.

— Então admite que não é confiável? — Uma sombra desacreditada dançou em seu questionamento.

As chamas em minhas veias rugiram mais alto, então não pensei mais no quanto estava sendo formal ou não.

— Seus governantes firmam um acordo sob magia, do qual eu não posso escapar, que implica na minha permanência nessa terra. — Tomei a iniciativa de tornar minha atenção até ele — Meu Reino está em guerra, eu sou um soldado, a mais espetacular guerreira viva, e a justificativa para a minha permanência, e o acordo que firmaram, é a minha recuperação. — Finalmente me voltei totalmente para o illyriano — Apesar de agir como um garotinho, é mais esperto do que isso para entender que as equações não batem.

O illyriano travou a mandíbula, evidenciando a raiva em ouvir meus insultos.

— Feyre e Rhysand se sentem responsáveis por você, a partir do momento que provou não estar do lado do continente, consequentemente não estar aqui para nos destruir, e principalmente após salvar a cidade e seu filho. Que equação não bate?

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