Capítulo 14

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Frio, ventania mórbida e gélida percorreu todo o meu corpo no momento em que avistamos o pequeno ponto branco no meio do oceano.

Senti vontade de mandar Aedon parar, porque nem mesmo o fogo em minhas veias poderia aquecer o meu exterior. O vento chegaria mais violentamente se nós parassemos de maneira brusca, então prossegui.

Em Vênetos não há a produção de roupas mais fechadas ou tecidos mais pesados, então o máximo que pude fazer por mim mesma foi sobrepor casacos finos que tinha em meu armário, e nem mesmo uma junção generosa deles foi capaz de me manter aquecida.

Meus dentes começaram a bater uns contra os outros e o meu corpo começou a tremer, conforme mais próximos de Eduna ficávamos.

O céu passou a escurecer da metade do oceano para cá, e quanto mais chegamos perto, mais escuro e sombrio ele se torna. A Terra Morta, não concede vida ou beleza a nada.

Senti que todas minhas articulações congelaram, pude sentir gotas de umidade congelando sobre minha trança, meu aglomerado de casacos ficou totalmente gelado e senti a pior sensação física em minha vida. É equivalente a um milhão de adagas perfurando a sua pele lentamente, cada mínimo centímetro de seu corpo golpeado por lâminas cruéis.

Meu peito pesou em apreensão quando percebi que estávamos prestes a entrar em seu território, saindo de uma vez por todas do oceano, e entrando na costa de Eduna.

Um segundo foi o suficiente para sentir uma tonelada sobre mim e Aedon, até mesmo seu vôo se tornou mais baixo, mais lento devido ao seu peso. O golpe da atmosfera brutalmente fria se intensificou, senti minha pele formigar, meus órgãos reclamarem doloridos, e meus ossos tremerem.

Um bolo se formou em minha garganta e de repente respirar se tornou mais difícil, foi como se o vento sufocasse minhas narinas em ar gelado e cruel. Pude jurar que meu cérebro cresceu em questão de segundos e se tornou mais pesado dentro de minha estrutura craniana, assim como toda a estrutura óssea de meu corpo resolveu comprimir aquilo que estivesse por perto.

Aedon grunhiu, e eu podia jurar que estávamos caindo, mas ainda assim ela se manteve persistente, batendo as grandes asas vermelhas contra a enxurrada de frio e magia que nos acometeu.

Sentir meus ossos chacoalharem bruscamente nos confins do meu corpo é consequência da temperatura típica da Terra Morta, o que não se trata do mesmo quando sinto todos os meus órgãos sendo amassados feito massa de trigo, e a cada fôlego puxado, a sensação de pequenas agulhas perfurando meu canal nasal. Não, isso é magia.

Meus olhos desceram involuntariamente, me permitindo ver reunidos a costa seres feitos de pele, osso e magia, sem um único tecido sobre sua superfície azulada. Tão altas quanto tarkults, criaturas imensas cheias de pelo marrom em volta de si, que se locomovem sobre quatro patas, possuem uma arcada dentária assustadora e chifres de no mínimo quarenta centímetros ao lado de cada pequena narina.

Rostos naturalmente contraídos ao centro, caninos que não cabem dentro da própria boca, fios ralos e brancos sobre a cabeça congelada que poderiam ser capilares, segurando em cada uma de suas mãos uma enorme lança de gelo gigantesca enquanto nos observavam, vidrados, sem perder um movimento sequer.

— Vão nos atacar!

A voz de Gretan foi abafada pelo vento forte, e em seguida o Conselheiro subiu vôo, sem se afastar do território.

Dei o comando através de magia para que Aedon subisse também, o que gerou mais grunhidos ainda vindo dela, revelando que talvez fosse difícil demais lutar contra a magia que parece determinada a levar qualquer coisa ao chão. Ou melhor, Aedon especificamente.

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