Capítulo 23

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Com muita dificuldade abri os olhos, ação que demandou muito de minha própria força física e mental. Tudo dentro da minha cabeça está mole como uma gelatina, dolorido porque não deveria estar assim, e essa noite de sono que se passou tornou meus ossos flácidos, sem firmeza alguma, eu poderia facilmente não conseguir me manter de pé.

Nos primeiros momentos o cômodo pareceu girar lentamente, mas de maneira irritante sem completar uma volta, o que tornou toda a visão mais perturbadora.

Se movendo junto com o quarto, estava o primogênito sentado em uma poltrona de gelo, dormindo, de uma maneira estática, como se nem mesmo fosse um ser vivo, e sim uma estátua lapidada de gelo.

Gradativamente o cômodo começou a parar seus movimentos, percebi que havia algo que eu podia fazer para acelerar o processo. Puxei o ar profundamente pela primeira vez e senti cacos de vidro arranharem toda a minha garganta, não terminei a tarefa.

"Grão-Feéricos não são capazes de respirar apenas ao sobrevoar Eduna, criaturas com mente de aço enlouqueceram após poucos dias dentro de seu território, a dimensão de sua magia é algo que não podemos suportar."

As palavras de Edan ecoaram em minha mente oca, e naturalmente seria motivo para sentir medo, para cogitar a possibilidade de eu ter enlouquecido sob a magia insuportável de Eduna de uma vez por todas. Mas não. Edan disse essas palavras quando estava negando o plano de Marion, afirmando que nenhum de nós era capaz de enfrentar, de lutar contra Eduna. Provei a ele que estava errado antes, provarei a ele que está errado agora.

Retomei a tarefa, respirei profundamente e mais uma vez, cacos de vidro não só arranharam minha garganta como a perfuraram, mas eu mantive a posição, me mantive firme para poder avançar aos poucos ainda que doesse. É o que eu faria se estivesse ferida em um campo de batalha, de cabeça erguida até o trabalho estar feito.

Lutando não só contra a magia densa de Eduna, mas contra eu mesma, continuei avançando e sentindo aos poucos gosto de ferro em minha língua. Há sangue provavelmente, mas eu não me importo, prossegui até que me sentisse absolutamente aliviada e então próxima ao final da ação, puxei todo o ar que eu podia. Consegui, mesmo com a garganta toda lascada, e dor irradiando pelo meu corpo, eu cumpri a tarefa.

Vitoriosa, soltei toda a minha respiração devagar de olhos fechados, para me focar apenas nela e não me preocupar com mais nada. Essa parte foi menos dolorida.

Quando os abri, o cômodo estava totalmente parado, sem um mínimo movimento e as pálpebras pesadas que sentia determinadas a limitar minha visão, se estabilizaram o suficiente para me trazer alívio.

Mais uma vitória entra para minha lista extensa. Orgulhosa, me levanto, sabendo que haveria a possibilidade de eu cair portando agora ossos errantes, mas não parei diante de uma incerteza.

O primogênito à minha frente com certeza tem um sono muito pesado, não abriu os olhos até agora, nem mesmo com o som da batalha de minha respiração e a maneira firme como pisei sobre o chão.

Qualquer coisa com a mínima importância chama atenção, tem magia. A pergunta mais favorável no momento é: O que nesse quarto não exala magia?

Cautelosamente me aproximei em passos mansos, testando a mim mesma e esse estado físico temporário. A poltrona não estava tão distante da cama então me encontrei perto dele muito rapidamente e me inclinei, levando a mão até seu pulso para ter certeza...

A mão livre do herdeiro se direcionou ao meu rosto na intenção de um soco, então me abaixei, empurrando seu peito. Irredutível, o primogênito prendeu seus pés envolta de minha cintura e me levou para baixo com ele e a poltrona.

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