Capítulo 40

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Uma pressão intensa e esvoaçante repousou sobre minha espinha mais uma vez, exatamente como aquela antes de adentrar o escritório, e curiosamente roubou minha atenção. Brincalhona, pareceu se esquivar por dentro de cada osso, em carícias travessas e convidativas.

Meu coração pareceu despencar dentro do meu peito, um suspiro alto e claro escapou brusco por entre meus lábios, e meus ombros caíram. Eu desisti, e me rendi a aquilo que tinha que ser feito.

Quando abri os olhos, minha atenção caiu sobre o illyriano ao me lembrar de suas palavras. Assim como o restante deles, seus olhos intensos estão em mim, atentos e até um pouco curiosos, implicitamente suplicando para que eu fique ao seu lado, apesar da postura confiante. A respiração silenciosa mas instável revela sua inquietação pelos ombros salientes que sobem e descem rapidamente.

Apesar do alívio breve e repentino, as palavras do illyriano e as da voz doce e feminina, minha decisão não veio por nenhuma dessas razões, mas sim porque é o certo.

- Eu amo mais ao meu povo do que a mim mesma. - A quebra do meu silêncio fez com que a atenção de todos dobrasse - Vênetos é o meu lar, cada feérico lá faz parte da minha família, mato e morro por eles. Sempre serão minha prioridade.

Pela visão periférica vi o queixo de Feyre baixando bruscamente, levando toda a sua postura com ele. Em segundos, estava curvada com o rosto escondido pelos fios castanhos claro do cabelo.

Sei que sempre fará a coisa certa, não poderá evitar, faz parte do seu ser.

No mesmo momento em que as palavras ecoaram, a memória de minha mãe veio a tona. Sensibilizada, não poderia deixar que ela sofresse mais pela incerteza.

- Se iremos lutar lado a lado, é importante deixarmos tudo bem às claras. - Respondi com serenidade, em consequência do alívio brusco que lavou minha alma após dizer essas palavras.

Me virei até o espião, porque dessa vez a curiosidade partiu de mim, no desejo de saber a como reagiria. Sua feição assumiu uma aura mais leve, ouso dizer que ele dispensou a típica personalidade misteriosa por alguns segundos, e sendo ainda mais radical, posso ter percebido o canto de seus lábios se abrindo na menção de um sorriso. Internamente torci para que ele terminasse a ação, porque seria genuíno. Um sorriso aliviado tal qual o sopro fresco e denso que me acomete, e eu adoraria ver.

Quase frustrada, tornei a atenção até os Grão-Senhores, procurando pela sua reação.

Lentamente Feyre corrigiu a postura, fechou os olhos e inspirou no mesmo ritmo, tomando quase todo o oxigênio do cômodo, para expirar em tamanho alívio, que desfez-se de sua postura formal de Grã-Senhora.

Sutilmente, Rhysand agiu da mesma maneira, mas tomou o cuidado para não fechar os olhos. Em uma espécie de sorriso orgulhoso e vitorioso, os lábios de Cassian se repuxaram unilateralmente, e em seguida ele tornou a atenção para a parceira que com olhar leve, revelou também seu alívio, repousando a cabeça em seu peito por fim.

A fêmea de cabelos loiros se segurou o bastante para não bater palmas, mas quando eu terminei de falar ela se encostou no sofá bruscamente e pude ouvi-la sussurrar com entusiasmo "Isso!"

A menção de um sorriso se formou nos lábios da fêmea na outra ponta do sofá, a de baixa estatura com fios curtos e negros. Deduzi por esse projeto de comemoração que ela está satisfeita.

- Não é tão ruim assim afinal, ladrazinha. - Sussurrou ao passar por mim, e ir para o lado de Rhysand.

O hálito fresco de sua boca adentrou os fios do meu cabelo como um ladrão, e repousou sobra minha pele, me pegando desprevenida. O arrepio causado por ele não poderia ser evitado.
Me contive em um sorriso breve e nobre, como aqueles que dou nas reuniões do Conselho, ou quando seguro ao máximo minhas risadas junto a Alfard durante essas, apenas para disfarçar a reação indesejada e insignificante.

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