Capítulo 13

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— Será uma audiência.

Estávamos reunidos em volta do mapa que o salão projeta do piso, devido a magia da Morada do Fogo.

— O plano não mudará muito do que Marion sugeriu.

Levo meu dedo indicador para o território menor e esbranquiçado de Eduna.

— Vamos entrar os quatro pela porta da frente, mas distantes o suficiente para adotar uma rota de fuga. — Traço uma linha para sentidos opostos na periferia da frente do Reino — Se formos atacados ou qualquer coisa der errado, devem adotar suas devidas rotas de fuga e avisar Edan.

Olhei de maneira enfática para eles, quando reservei alguns segundos para me concentrar em cada um, tornando a mensagem ainda mais importante.

Alfard estava extremamente focado, pegando cada palavra como sagrada, Marion prestava atenção dentro de uma feição enigmática que analisava meu plano procurando por críticas, assim como uma aula qualquer, e Gretan por sua vez apenas não levou a mão até a testa em frustração pelo mínimo de respeito. Mas as vezes há coisas que o nosso corpo fala por nós.

— Vão questionar a nossa visita sem aviso. — Gretan aponta, de braços cruzados, sem parecer muito entusiasmado com o que viria a seguir.

— Uma visita urgente para não deixar qualquer assunto pendente.

O Conselheiro do Rei virou os olhos.

— Temos de passar a impressão de que estamos preocupados em fazer a coisa certa.

— E nós estamos. — Disse o macho mal humorado, entre dentes.

— Não na perspectiva deles.

Ele se calou.

— Vamos pedir educadamente pelas crônicas e se demorarem a vir, teremos nossa resposta.

— O que fará Comandante, se Eduna prendê-los em seu Reino e não houver maneiras de nenhum de vocês me avisar sobre o ocorrido? — Indaga, parecendo guardar um certo rancor pelas gotas de sangue derramadas.

Desafio. Pela sua postura e o tom ácido, continuo sem apostar que seja, mas minha mentora o conhece a mais tempo que eu e é uma melhor opção considerando que o momento pode ficar tenso a qualquer segundo.

— Farei o que faço de melhor: Lutar.

Gretan deixou escapar um riso frouxo.
— Eduna não se limita a armas, usa magia, a mais covarde e cruel delas. Podem nos moer como casca de amendoim. É uma missão suicida. — Direciona-se levemente ao irmão, rogando uma última vez.

— Sinto muito, Conselheiro, que pense tão pouco assim de si mesmo.

Sua atenção se voltou para mim e a sua feição se fechou ainda mais, mesmo parecendo não ser possível juntar mais fervorosamente as sobrancelhas e trincar seu maxilar.

— Meu Conselheiro está certo, Eduna usa de artimanhas complexas.

Evitei que meus ombros caíssem em um esforço gigantesco.
Se ele disser que não aprova mais essa missão, eu irei sozinha.

— O que farão se Eduna entregar a vocês as crônicas em um tempo aceitável, relatada da maneira que os favorece? Como saberão que não é tudo apenas uma ilusão?

— Não afirmo que posso enfraquecer Khorse, mas certamente algum deles estará com seus escudos desarmados. — Alfard deu um passo a frente, e seus olhos reluziram como se respondessem a um chamado — Posso obter as informações necessárias.

Ter um daemati por perto é muito vantajoso. Mais ainda se ele for um metamorfo venenoso.

Edan se manteve em silêncio, nos encarando com uma feição modesta e os olhos distantes enquanto pensa.

— Muito bem. — Mexe seu queixo positivamente apenas uma única vez — Estão perfeitamente preparados então.

Nenhum de nós respondeu. Seu tom já deixa bem claro por si só que ele não está nada contente com essa história, bem menos com toda a sua nobreza tendo em sua memória a maneira como sua sucessora o venceu.

Parte de mim se pergunta se seu orgulho é maior que seu dever para com o povo. Se deseja que dê errado só para nos ver fracassar, quando ele deveria ser o primeiro a desejar nosso êxito nesse plano.
Esse homem algum dia já amou alguma coisa?

— Estão liberados para partir.

Marion prestou uma breve reverência se curvando o mínimo possível e se retirou sem olhar para trás.
Edan não se importou com nossas próximas ações, virou as costas e caminhou calmamente na direção de seu trono de ouro.

Meus olhos dourados e os esmeraldas de Alfard se cruzaram, primeiramente para termos certeza de que ambos estávamos cientes da tensão que ronda esse salão, de como não há mais para voltar atrás e da pressão que fica mais pesada em nossos ombros a cada minuto.

Percebi quando caminhavamos, quase ao sair da sala que Gretan havia ficado, sem mover um músculo.
Mais uma vez tentará fazer com que a missão não aconteça, mesmo nos últimos momentos dos preparativos, e sinceramente se ele realmente planeja isso, ficará para trás. Devo admitir que meu tio é um macho persistente, mas apenas para as coisas erradas, e isso é irritante.

— Conselho reunido no pátio em dez minutos.

Não me dei ao trabalho de olhar para trás, me dirigir diretamente a ele, Gretan saberia. Melhor que isso, ficaria furioso por estar recebendo ordens de uma ''criança". Para ele, e aparentemente para Edan também, serei para sempre um ser incapaz de pensar de maneira eficiente. Por isso, não há remorso nenhum em meu peito quando o coloco em situações tão delicadas para os demais telespectadores e principalmente para si mesmo, quando o submeto de maneira explícita as minhas ordens, um ser de intelecto inferior para diante da sua visão.
Quanta humilhação.

Deixei o salão, as portas atrás de mim se fecharam com a própria magia da Morada do Fogo, emitindo um barulho mais alto que o normal dessa vez.

— Kenna.

Alfard chamou minha atenção, espreitando.
Não pude evitar apertar os olhos e medi-lo adotando uma feição curiosa. Não é de seu feitio apesar de sua natureza.

De maneira típica, seu queixo baixou gradativamente e ele passou a me olhar de baixo para cima com malícia, peçonha. Até o momento, nenhuma maneira que não seja natural a Alfard fazer.

Mas de maneira um tanto inesperada para o momento, admito, lentamente seus lábios se repuxaram para os cantos e toda a sua feição se tornou ardilosa. Por fim, seus olhos brilharam com calma, enfatizando cada detalhe de suas íris.

— Eu tenho um plano a parte em mente.

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