Capítulo 28

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As asas de Aedon bateram tão fortes sobre o mundo abaixo que uma corrente de ar direta e vertical atingiu o centro da cidade, fazendo uma verdadeira bagunça.
Objetos de peso mediano voaram por toda a parte, e alguns feéricos esguios também.

Erone sacrificou muito pra que todos os seres torturados estivessem finalmente livres, inclusive eu, por isso não culpei a mim mesma por estar com o primogênito até agora na minha mente, mesmo que ele tenha sido um adversário irritante por toda a minha vida.

Aedon sempre teve o vôo excepcional, absolutamente formidável, tanto em velocidade quanto força e precisão, Khorse fez total questão de interferir nisso.

A dragoa sofreu um tranco violento e não foi capaz de avançar mesmo batendo as asas incessantemente, me virei para saber do que se tratava e vi a imagem da responsável por Eduna na estatura de uma pequena formiga, com os braços estendidos.

Uma espécie de choque se espalhou por todo o meu corpo quando os primeiros grunhidos de Aedon começaram e eu me dei conta do que ela estava fazendo. O mesmo que fez comigo naquela atmosfera gelada que me imobilizou.

Vamos Aedon, você é uma criatura mais forte do que qualquer magia. Ainda assim, a fêmea não conseguiu se mexer, pelo contrário, senti seus músculos generosos por baixo das escamas se retraírem e os grunhidos se transformaram em rugidos de dor.
O choque dentro de mim se intensificou, descargas elétricas dolorosas agrediram todo o meu corpo e eu tive certeza absoluta no momento em que não senti nenhuma parte de mim, que estava prestes a partir.

A magia congelante de Khorse não apenas imbolizava Aedon agora, mas a puxava para baixo também, como na tarde em que chegamos aqui. Dessa vez, não é apenas a magia da terra morta por conta própria, mas sim o peso de voar sobre uma com a soma do poder da realeza dominando o seu ser. O que ela poderia fazer?

Mesmo insistente, a fêmea começou a ceder aos poucos, lutando muito e bravamente para se manter no céu, mesmo que sua cauda estivesse cada vez mais próxima do caminho do solo.

Fui submetida a tortura por cinco dias, senti a pior dor que já senti em toda a minha vida, a cada manhã eles conseguiam fazer com que aquela sensação piorasse, me surpreendendo mesmo que eu pensasse que não havia maneiras de ficar pior.
Fiquei tão fraca que não posso dizer com certeza se delirei, pois não dormi e vi e ouvi coisas que um ser em sã consciência não perceberia. Em contrapartida também não posso afirmar que estive em sã consciência.
Foi um período muito longo submetida a golpes que secaram minha vitalidade até a última gota, me trouxeram o anseio de arrancar os meus músculos e órgãos do meu corpo para que aquela dor parasse mas se o fizesse, não teria mais um corpo pois ele doía por inteiro intensamente.

Senti queimar dentro de meu peito chamas novas e assassinas, implorando pra eu vingar as almas que sofriam de maneira ainda mais cruel do que a realeza Eduna provocava a eles.
Jamais me vi como um ser cruel e sádico, mas eu me tornei, ganhei instintos cruéis de vingança consumindo o meu ser e contemplei uma certa escuridão fervente dentro de mim, se revelando.
Eu me odiei, por ter deixado que as dores físicas me impedissem de lutar, de realizar aquilo que nasci pra fazer, por enxergar dentro de mim mesma e encontrar uma chama maligna e sedenta por sangue, um ser totalmente alucinado pelo anseio de levar toda a nobreza a pagar. Odiei cada parte de mim, me perguntei no que eles haviam me transformado e senti vontade de rugir, cuspir fogo, explodir em chamas e levar o mundo todo comigo, e por fim senti nojo, me odiando infinitamente mais.

Talvez Eduna tenha quebrado o meu espírito, tenha o forjado em algo parecido com o deles, sabendo que eu preferiria morrer a me assemelhar às suas almas. Com tudo isso, ainda não estou pronta para abrir mão de descobrir, ir até o fundo para ter certeza de que a minha essência ainda pode estar lá, descansando, se recompondo para mais do que está por vir.

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