Capítulo 20

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Por mais que eu quisesse muito, não consegui fechar os olhos. O céu ficou claro, não houve nenhum sinal se sol, parece até mesmo que esse se recusa a se mostrar para uma terra sem vida, e nos primeiros passos que dei para fora da cama percebi o quanto a magia de Eduna poderia me afetar.

Eu preferiria acreditar que meu peso triplicou a ponto de eu não aguentar suatentá-lo por causa do sono, mas quando o golpe de pequenas agulhas perfurou meu coração a cada fôlego que puxava, presumi que uma noite isenta de bons sonhos não causaria tal efeito.

Todo meu corpo dói, mas eu tenho que seguir, não posso me dar ao luxo de me afetar e descansar, tenho uma missão a cumprir.

Na parede, percebi, havia um armário embutido no gelo, então em instinto o abri. Pesada, dei poucos passos para estar próxima as diversas peças de roupa que ali estavam, luvas, calças, túnicas, camisas, vestidos, botas e até mesmo roupas íntimas.

Minhas pálpebras passaram a pesar toneladas no momento em que me levantei do calor confortável do colchão, então apenas peguei a primeira peça de roupa que estava a minha frente e com muita dificuldade a vesti.
Um vestido longo, de cor vinho, inteiramente fechado, presumo que para proteger quem o usa do frio. A gola do tecido era quente e alta, e a cintura no modelo, bem marcada.
Após significativos minutos para trocar as roupas que usava por essa, houveram o dobro deles para calçar uma bota.

Sim, provavelmente cada peça de roupa está encantada para me rastrear após o acontecimento de ontem, mas é aceitar esse presente maldoso ou continuar a sentir tamanho frio mórbido até me desmontar. Minha terra natal é Vênetos, um vento mais fresco faz com que eu agradeça pelo alívio, mas a temperatura desta terra está longe de se comparar ao mesmo.

Com extrema dificuldade me coloquei de pé, respirei profundamente algumas vezes procurando me acostumar com o incômodo nas batidas do meu coração e caminhei para a porta do quarto. A abri, sai do cômodo e então a fechei, me dando conta de que era alvo de olhos famintos segundos depois.

Olhei lentamente, mais contra a minha vontade do que condizente com o meu controle, para cada um deles e presenciei fúria natural de nascença. Estão preparados para servir sua Grã-Rainha, precisam apenas de um comando. Me olham como se eu fosse um pedaço de carne, então presumo que estariam mais que satisfeitos se tivessem que lidar comigo.

Me cansei dessa disputa por poder que não vai nos levar a lugar algum, apenas à redução do meu tempo, e segui andando caminho a frente. A dificuldade em suportar o meu próprio peso sobre meus pés se manteve presente.

Após poucos minutos andando pelos corredores de gelo do prédio real, me encontrei no pátio, o mesmo lugar onde mandei Alfard de volta para casa.

Olhei dois guardas a postos à porta do salão real, um a direita e o outro a esquerda, presumi que seria complexo me aproximar ao mesmo passo que me perguntei onde o príncipe do Fosso deve estar agora.
Desde sempre, da nossa maneira, cuidamos um do outro. Achávamos que tínhamos tudo sob controle, mas a reunião não saiu como esperado, o que me leva a pensar que fomos imprudentes e agora sem o dragão que monta, em que canto do mundo ele pode estar? Oceanos separam nossos reinos.

Suspirei de maneira dolorida e por consequência me curvei um pouco, levando a mão aberta ao peito como se fosse amenizar minha angústia. Deixei alguém muito importante pra mim a deriva, e ele pode se dar mal em níveis catastróficos.

Engoli as lágrimas que queriam se revelar e corrigi minha postura, continuar lutando mesmo ferida foi o que sempre me levou as minhas vitórias. Prestei então mais atenção nos guardas dessa vez do que antes.

Ambas as criaturas primitivas e geladas olham para uma direção fixa na parede a sua frente, o que significa que estão totalmente focadas em mim pela visão periférica considerando a atenção firme e redobrada em tal "ponto" desconhecido. Se parecem tão determinados em conhecer cada intenção minha, significa que uma questão importante está sendo discutida dentro do salão real.

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