Capítulo 7

458 38 0
                                    

Me despedi de Aedon após ela me trazer para casa, já sob o céu liso, azul vivo e escuro da noite em Vênetos. Subi a escadaria longa de mármore salpicado em dourado, cumprimentei os guardas noturnos e passei pela grande e alta porta dupla feita de ouro, que concede passagem para dentro da Morada do Fogo e se move com magia.

O lustre de uma tonelada sobre o teto de andares acima do hall de entrada nunca deixa de iluminar o centro da construção alimentada pelo fogo de Edan, que enquanto ele viver nunca irá se apagar.

O centro da casa é o ponto de encontro para todos que a frequentam, e sob o hall há teto somente no último andar, todos abaixo são abertos permitindo a visão da entrada, nos parapeitos de madeira vermelha que compõe o corrimão das escadas.

Não há móvel algum no espaço circular aberto, apenas o mesmo piso da escada de entrada e o lustre pesado sobre nossas cabeças.

— Princesa. — Cumprimentam.

Um casal de nobres Grão-Feéricos passa por mim prestando reverência breve. Eu retribuo automaticamente sem saber ao certo o que essa palavra significa pra mim.

Eu não sou uma Princesa. Pela lógica, sangue e tradição sim mas a verdade é que eu não me sinto como uma, no fundo talvez nunca tenha de fato me sentido como tal.

— Princesa. — Força o tom de voz, se curvando exageradamente, por pouco sem encostar a testa no chão.

— Levante-se imbecil. — Dei um chute em seu joelho, sem me importar com o que os nobres ao redor pensariam do meu comportamento.

Alfard o fez, gargalhando de maneira sutil e maldosa, exibindo o sorriso bruto e ao mesmo tempo belo do Príncipe do Fosso.

— Devo ter feito a sua noite. — Levei as mãos até a cintura.

— Sabe que eu amo me divertir as suas custas. — Empurra o meu ombro.

— Claro, a sua vida não tem graça e vem se alimentar da minha.

Ele joga o corpo para trás de maneira sutil e leva a mão ao peitoral, deixando escapar uma gargalhada melodiosa que poderia deixar muitas fêmeas aos seus pés.

— Quanta educação. — Traz a mão para o topo de minha cabeça, bagunçando os fios de meu cabelo.

Contrai o nariz em uma careta breve, após isso nós dois rimos, sem conseguir conter as gargalhadas.

Houve uma época em que apenas Marion se mantinha por perto, ninguém me conhecia, nem se aproximava.
Então em mais um dia de lições como muitos outros, fui cumprir meus deveres como "Princesa" ao visitar o Fosso pela primeira vez e lá estava ele me olhando de cima para baixo ao lado dos pais em seu trono pequeno e particular, feito sob medida, julgando a mim como se fosse melhor que eu.

Esperei apenas que abrisse a boca e não permiti que dissesse nem mesmo uma palavra, mandei que calasse a boca. Ambos ficamos nos encarando por alguns segundos, nenhum adulto interferiu e após um período considerável nos encarando, ambos começamos a rir.

Aquelas foram as minhas primeiras gargalhadas sinceras em vinte anos.

— Está de saída?

Alfard passa o braço por volta do meu ombro e nos gira pelo hall, ao redor de nós mesmos, como um jovem macho bêbado.

— Sim. — Estala a língua — Meus pais me esperam para o jantar todas as noites, sua memória é tão fraca assim para que não se lembre? — Deu um breve riso nasalado e segundos depois, desmanchou qualquer feição em seu rosto — Kenna. — Me solta, se colocando a minha frente com pesar em seus olhos esmeraldas — Me desculpe, eu...

Sobre CortesOnde histórias criam vida. Descubra agora