Capítulo 43

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O espião ao lado de Nesta se ajeitou no assento, se inclinando de maneira sutil, com o olhar um pouco mais atento que antes. Suas asas farfalharam por fim, mas ele não pareceu se importar muito. Até que seu olhar finalmente encontrou o meu quando percebeu o que havia acontecido.

O restante deles ficou em silêncio, observando com atenção.

Em suas Iris beijadas pelo sol, há algo como apreensão e interesse. É nítido que não gosta desse jogo, mas algo como disposição ondulou em seu olhar intenso ao perceber que a base estava apontando para ele.

Adrenalina beijou minhas veias, ouvi meus batimentos acelerarem em seguida, tão fortes quanto os tambores de Vênetos, e por fim tentei esconder. Não tenho tanta certeza do meu êxito dessa vez.

— Ora ora. — Um sorriso travesso se delineou nos lábios de Cassian — O jogo realmente vira.

Apesar do seu deboche, me vi incapaz de desviar minha atenção de Azriel. É estranho, diante do seu entusiasmo comedido em um jogo que o desagrada só porque pode me fazer uma pergunta, sinto que quer me atacar.
E tudo porque conheço a verdadeira natureza de sua laia. Patético.

Ou melhor, porque não me dobrei a ele e seu amiguinho de bom grado, talvez pelo fato de ter conseguido me desvencilhar dele na casa na cidade. É infantil de qualquer maneira.

Sutilmente o illyriano de maior envergadura se inclinou, atribuindo uma força maior em seu foco, que fez com que um suspiro vacilante escapasse por entre meus lábios. Normalmente nem o mais famoso dos bárbaros me amedronta, mas esse guerreiro medíocre foi capaz de me fazer vacilar. É revoltante.
Existe algo na atmosfera de sua alma que transparece força o suficiente para bater de frente com meu fogo de maneira direta, um adversário a altura.

— Quem é você? — Sua voz soou límpida em seu timbre naturalmente grave, e intenso, envolta em sombras sussurrantes.

Senti a tensão materializada sobre a mesa e entre nós, dançando de maneira vulgar e provocativa como uma garota de bordel.

Ainda que a pergunta seja ambígua, entendi perfeitamente a sua dúvida, e o fato de não ter camuflado ela de maneira alguma e ter sido tão direto na frente de todos, expondo a dúvida real deles, me colocou contra a parede.
Nós somos aliados, eles têm motivos mais fortes para confiar em mim do que desconfiar, mesmo assim ainda restam questionamentos. Azriel é um espião, um mentiroso profissional e potencialmente patológico, por isso espera que todos a sua volta mintam como ele. É a prática com que tem mais familiaridade.

— O que quer dizer com isso? — Perguntei usando o tom da Princesa, firme e aveludado, naturalmente superior e intimidador. Sob a mesa, fechei as mãos em punho, tentando não demonstrar meu nervosismo através de meus gestos.

Em resposta, um sorriso implícito pintou seus lábios de maneira sigilosa, ainda mais imperceptivelmente seus olhos o acompanharam, demonstrando seu desdém a mim, e satisfação ao perceber que havia me deixado sem saída.

— Estou curioso sobre você. — Respondeu em tom formal — Contou a nós a história de seu lar, mas se incluiu nela minimamente. — Diversão comedida se fez presente em sua voz — Todos nós queremos saber.

Quis contemplar a reação dos outros, mas desviar meu olhar do seu seria admitir derrota. Então me mantive firme, me contentando com o olhar político da Princesa, porque o da guerreira deixaria explícito que eu mesma colocaria sua cabeça em uma bandeja de presente para mim mesma se pudesse.
De todos eles, o espião é com quem menos simpatizo.

De qualquer maneira, sua pergunta apresenta diversas respostas. Logo irá se arrepender de não ter sido mais objetivo.

— Sou uma fêmea integrante das forças de Vênetos, e estou viva há duzentos anos. — Foi a minha vez de expôr um sorriso satisfeito e até um pouco travesso de maneira sutil em meus lábios.

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