Capítulo 32

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Confusão dançou na feição misteriosa do macho mais alto entre eles ao trazer sua atenção até mim. Talvez não tenha sido informado dessa reunião, nem da minha chegada, pois se veste de maneira casual, usa uma camisa de manga cumprida feita de lã preta, calças aparentemente mais confortáveis que as dos outros dois, e uma bota de couro como a do soldado, mas a dele está mais bem cuidada.

Poderia presumir que ele e os outros tem algum tipo de parentesco, possuem um tom de pele bronzeada parecido, os fios negros, mas esses são um meio termo do corte de cabelo deles, nem tão formal quanto o do Grão-Senhor, nem tão rústico quanto o do soldado.
O que me chama atenção é que seus traços são diferentes, únicos, e eu deveria ignorar a sua presença agora e continuar minha saída, mas algo me manteve em frente à ele, analisando o desenho elegante com aura de mistério de seu rosto.

- É minha. - Apontou para mim, e o seu tom de voz suave como uma névoa escura fez com que os fios desgrenhados de meu cabelo preto se afastassem de meus olhos.

Meu peito deu um salto em consequência da adrenalina e da necessidade de fugir, diante desse empecilho.

As iris verdes em um tom iluminado de avelã se prenderam ao meu rosto em evidente análise, e sutilmente o segundo illiryano apertou os olhos, expressando curiosidade.

- A blusa - Contextualizou - ,é minha.

Um sentimento de frustração e uma pitada de raiva me acometeram, quis soltar os ombros mas não tive tempo pra isso.
Não acredito que isso seja sério. Esse macho interrompeu minha saída pela posse de uma blusa?!

- Está usando minha blusa. - Seu tom foi tranquilo apesar da aura naturalmente intensa e intrigante dele. Ao contrário da feição confusa que assumiu ao olhar o ambiente ao redor, quase como se estivesse buscando apoio pela disputa e tentando entender porque estou usando sua roupa.

- Ótimo, se me dá licença... - Fiz menção em me desviar dele com pressa, mas sua atenção se voltou para mim no mesmo momento. Em seguida se colocou à minha frente de novo, e dessa vez, o olhar intenso do illiryano foi cortante.

Ele fechou a porta, e se manteve firme na tentativa de extrair minha alma para ele enquanto me olhava como se estivesse prestes a abater a caça.

- Onde pensa que vai? - De pé em frente ao sofá, o soldado indagou, agindo como se eu fosse uma criminosa.

Suspirei, me dando por vencida.

- Vou voltar pra casa. - Respondi em tom firme.

Também mantive meus olhos presos aos dele. Se ele pensa que pode me intimidar, está enganado.

- Kenna. - ouvi o salto de Feyre tilintar até mim - O que é que não está nos contando? - Provavelmente ela se colocou ao meu lado, ainda assim insisti em ganhar a disputa em não titubear.

- Sabem de tudo sobre mim. - Assumo um tom calmo e firme, como se já tivesse vencido o jogo - Sei lutar, e evito as invasões de Daemati com exímia maestria.

A última parte da minha tentativa de intimida-lo foi mais direcionada à ela e Rhysand do que a ele, mas certamente foi eficaz evidenciar o quão boa posso ser com minha magia.

- Me desculpe. - Ela suspira, e me surpreende.

Eu estava esperando qualquer outra coisa, uma justificativa dizendo que poderia fazer o que quisesse por estar em sua casa, na Corte que governa. Mas não, em tom humilde ela se desculpou por ter tentado invadir minha mente. Nenhum daemati jamais faria isso.

Deixei a disputa de lado me lembrando de que não preciso provar nada a ele, e tornei minha atenção a Feyre, expressando um pouco da minha curiosidade.

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