Capítulo 12

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— Um presente.

Podia sentir o olhar doce da guerreira sobre mim.

— Uma punição. — Corrigi, dizendo entre dentes conforme afiava a ponta de minha espada.

Em anos nunca liderei uma só missão, jamais fui líder em nada, meu forte é a espada e como a manuzeio. Edan sabe disso, colocou esse peso em minhas costas para que eu desista, foi baixo.

— Um desafio.

A voz de minha mentora revela que acabou de chegar nesse momento, atrás de mim.

Parei um pouco, colocando a pedra vulcânica que usava de lado, sobre a estrutura de barro da janela.

A casa alta, abandonada no centro da cidade, feita de barro e tijolos de argila, o único lugar onde se é possível ver todo o território sem estar voando. Nós três sempre viemos aqui, quando ficar na Morada do Fogo já não era mais tão confortável.

Não me surpreende que ela tenha nos achado, ou melhor, decidido aparecer hoje. Provavelmente Marion sempre soube de nossas fugas, mas o passado nunca exigiu a ela uma interrupção.

Eu e Alfard estamos sentados sobre o barro da base da janela, eu com as pernas para fora e ele com os joelhos dobrados próximos ao corpo. Tihara esteve de pé por todo esse tempo, aparentemente preocupada com a minha concentração na lâmina.

— Ele está intrigado.

— Está com raiva.

— Principalmente intrigado. — enfatiza — Acredite, a raiva de Edan é controlada, não te delegaria essa função por birra. —  encosta o ombro na parede, olhando para mim — Está curioso pra saber o que mais é capaz de fazer.

— Ele espera que eu fracasse, por isso me delegou a missão.

— Ele espera, ou você?

Minha atenção estava distante, mas após o fim de suas palavras ela voltou fervorosamente para o presente.

— Não irei fracassar.

Não posso, é questão de honra mas mais que isso, necessidade. Fracassar em Eduna, significa sentenciar Vênetos a uma eternidade com uma única maçã podre dentro do cesto que com o tempo contaminará as demais, não posso permitir.

— Tem tudo que precisa, então. — se afasta, como se a questão estivesse resolvida.

Não a acompanhei, mas ela sumiu do meu campo periférico de visão e eu presumi que estava intencionada a ir embora.

— Planeje com cuidado os nossos passos, comandante. — Um arrepio tomou conta de minha espinha — Boa sorte.

Suas palavras estão na lista das últimas que eu precisava ouvir nesse momento. Não tenho a opção de fracassar, mesmo não tendo a mínima experiência em liderar, e não porque a falha me diminuiria aos olhos do Grão-Rei mas principalmente porque há muito em risco.

O arrepio se estendeu para o restante das periferias ao redor do meu corpo e meus dedos apertaram a estrutura da casa abandonada com força, fazendo alguns farelos caírem quando meus dedos afundaram o material velho e esse se desmontou um tanto.

— É engraçado ver você duvidando de si mesma. — O tom de Alfard foi divertido, apesar da calma em sua voz. Está contemplativo, com o olhar distante e o esboço de um sorriso fraco nos lábios. — Hoje eu vi você fazendo algo que eu tinha certeza que era impossível sem muita dificuldade.

Não pude evitar me virar para ele, curiosa, esperando pela sua conclusão de raciocínio.

— Enfrentar um Grão-Rei já é loucura, mas Edan. — Um riso incrédulo e fraco escapou por entre suas narinas — Ele é o Destruidor de Mundos... — Apenas citar o nome da fera adormecida o leva a estremecer — Não há uma alma viva que não tema sua força e você simplismente... — Eleva os braços, movimentando esses sem rumo e de maneira desgovernada, sem saber bem para onde olhar — Foi insano.

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