Capítulo 65

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Seu toque em volta de mim foi tão intenso, que poderia me impedir de cair de um penhasco ainda que já estivesse no meio do caminho. Esperei pela falta do fôlego, mas surpreendentemente a firmeza absurda dos seus braços não roubaram minha respiração, mas a proximidade de nossos corpos o fez.

Em contrapartida, se antes a tarefa de respirar já havia se tornado difícil, agora parece impossível. Minha respiração escassa está escapando de segundo a segundo em um mínimo fio de fôlego. Com a mudança da sua postura devido a nossa diferença de altura, seu peitoral ficou rente a região dos meus seios, o que fez com que os batimentos antes em equilíbrio, não se limitassem apenas a sintonia, mas também sincronia ao bater tão próximos um do outro. Senti a intensidade do seu coração reverberando no meu, ao mesmo tempo que esse assumiu constância em uma intensidade inédita até mesmo pra mim. Estranhamente, como se estivessem conversando, e meus batimentos estivessem respondendo aos seus ao mesmo tempo que os seus respondem aos meus. Em uníssono.

Antes senti a urgência de me desvencilhar, minha razão havia vencido e provado que esse abraço era de alguma forma inapropriado, incerto, então minha emoção se levantou e lutou contra ela bravamente, assumindo o controle da situação por uma atitude dele. Aquilo que poderia destronar minha racionalidade se levantou e agiu, dando cobertura à minha imprudência. E simples assim, rapidamente, de um momento a outro, não pareceu mais incerto.

Seu toque pareceu assumir aura aconchegante, como se fossem mantas espessas barrando a entrada do frio, ou um escudo em batalha. Me senti acolhida, protegida, e envolvida pelos seus braços, com o queixo em sua clavícula e com o seu na minha, absolutamente nenhum mal poderia me atingir.

Rente ao meu pescoço exposto, senti a movimentação da corrente de ar da sua inspiração contra minha pele, Azriel puxando o ar vagarosamente contra ela, como se pretendesse continuar apenas inspirando pelo resto do dia. Em seguida, senti os músculos da região de seu trapézio e ombros relaxando completamente. Antes, estavam envolvidos em suavidade, mas agora se eu o soltasse, cairía no chão pois praticamente descarregou seu peso sobre mim. E eu nem me incomodei.

Meu peito agitado, batendo intensamente em equilíbrio com o seu pareceu suspirar em alívio, a chama que antes estava bastante hesitante, agora parece um pouco menos, apreensiva pela presença do espião e principalmente sua proximidade mas ainda assim, sem autocontrole o suficiente para não dançar por toda minha alma. E por fim, de maneira surpreendente, me senti bem dentro do seu abraço.

E verdadeiramente quis abraça-lo. Não porque me libertou da minha culpa ou pagou minha dívida por mim, mas sim porque havia acabado com o sofrimento daqueles feéricos, todos eles. Cassian tinha razão, Azriel é mesmo um macho nobre.

O familiar rugido reptiliano traiçoeiro que conheço bem ressoou nos céus como um trovão, se não fosse pelo corpo do espião me envolvendo teria me esquivado, pois toda a tranquilidade se esvaiu ao ver um dragão Eduno passando por cima de nós. Senti a temperatura da ponta de meus dedos baixar.

— Não tenha medo. — Sussurrou o espião, interrompendo o pânico ascendente prestes a se espalhar pelo meu ser. Em seguida começou a se afastar gradativamente, quase como se não quisesse fazê-lo.

Primeiro retirou as mãos da minha lombar lentamente, e o sentimento de inquietação pela chegada do dragão Eduno se misturou a sensação frustante da chama baixando. A ausência da sua proximidade.

— Acho que vai gostar de saber quem me ajudou a resgatar Eduna. — Então ainda mais lentamente, recolheu os braços para si, me permitindo sentir cada segundo dos músculos robustos roçando minha cintura por cima do tecido da camisa. Fez com que eu me esquecesse do motivo pelo qual estamos nos desvencilhando, por alguns segundos.

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