Capítulo 17

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Uma parte de mim está gritando, se contorcendo, desesperada para acabar com isso. Mas não posso, não sem obrigá-los a declarar guerra, pois depois que eu começar os meus insultos da maneira mais indelicada possível, não serei capaz de parar.

— Uma audiência será marcada na capital.

Os rugidos incessantes em minha alma diminuiram o volume, e meus batimentos seguiram o mesmo ritmo.
Khorse se encolheu um pouco. Tão sutilmente, que talvez Marion nem tenha percebido.

— Na Morada do Fogo, você replicará esses mesmos juramentos e após isso demarcaremos seu pedaço em nosso território.

A feição da Grã-Rainha gradativamente assumiu aura confusa.
Aquela parte furiosa dentro de mim ficou um pouco menos, a ponta dos rugidos se tornarem grunhidos estressados.

— Seu antecessor pode ter lidado com tolos séculos atrás, mas essa era acabou. — Marion baixou o olhar, ouso dizer até um pouco cínica — Ou acreditou mesmo, após o relato orgulhoso de trapaça de seu antigo Grão-Rei que faria acordos em sua terra? Sob sua magia e proteções? — Um riso escapou fraco por entre suas narinas — Suas crônicas evidenciam que não se pode confiar em um Eduno quando não podemos ver suas cartas na mão, portanto a cerimônia será em Vênetos.

A Rainha fez menção em falar, mas minha mentora a interrompeu.

— Não proteste, seria ultrajante, ofensivo.

E ela sabe que sim, principalmente após o desdém proferido ao nosso povo naquelas malditas pedras de gelo. Ofensas resultam em guerras.

— Além disso, suspeito.

Khorse não ousou dizer uma palavra, se calou mantendo a postura naturalmente nobre e superior.

Minha ansiedade não se esvaiu com a minha raiva.
Alfard precisa chegar, ou há um grande risco de Marion determinar o dia da proclamação em Vênetos nesse exato momento.
Não é o fim do mundo, o pior dos destinos para o nosso Reino, ainda. E o problema está nessa palavrinha.

Me recuso a acreditar que algo tenha acontecido com ele, seria difícil em sua forma Grã-Feérica e impossível dentro de sua metamorfose, eu sei que ele não corre perigo, então por que está demorando tanto?

— É justo, senhora da Superfície. — Me diverte um pouco saber que ela está se mordendo por dentro — Mas apenas porque Vênetos não cometeu erros em seu passado, não significa que não possa cometer agora.

Marion cerrou os olhos, curiosa e inquieta diante do rumo para onde as palavras da Grã-Rainha estão levando essa audiência.

— Vênetos não confia em Eduna, e Eduna não confia em Vênetos.

A única diferença é que nós jamais o enganamos, está na história.

— Aceito sua proposta, mas exijo uma garantia.

Garantia de que uma mensagem chegaria em breve no território de Eduna para anunciar a data da proclamação. Meu coração acelerou novamente, me deixando inquieta.

Vamos Alfard, apareça!

— Eduna exige a permanência da princesa em nosso território.

— Não. — O protesto de Marion foi imediato, e concreto — Exija outra coisa.

— E que graça teria? — Malak sorriu maliciosamente, contendo os risos que viriam em seguida.

— Isso parece algum número de bobo da corte para você? — Gretan se dirigiu a ele, ríspido.

— Quer mesmo saber minha opinião? — Provoca.

— Não me insulte, criança. — Caprichou no tom enojado.

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