Capítulo 52

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Uma única faísca rancorosa foi capaz de incendiar meu ser na mais genuína ira, imediatamente senti as chamas assumirem minhas iris, assim como minha alma. Violência e brutalidade foram as únicas a assumirem a predominância da minha mente.

— Koschei, o acordo não incluía uma segunda presença. — Esbravejou entre dentes. Sua revolta não foi nem direcionada a mim, mas fez com que eu corrigisse a postura, na necessidade de ficar à altura de seu vasto poder ainda que esteja do meu lado. Foi exatamente como um trovão, a diferença é que esse não me deixa em pânico.

— Não fiquem agitados. — Como a névoa de uma geleira, sua voz ecoou, segundos antes da megera aparecer, saindo da mata em desfile. O salto agulha amassa as folhas mortas e galhos como patas impiedosas.

— Kenna, Prythian está sob minha responsabilidade no momento, vamos acabar com isso agora. — Se aproximou, sussurrando em meu ouvido ao passo que trouxe a mão pra perto, mas rapidamente me afastei.

— Se eu fosse citar os motivos pelo quais tenho certeza de que é uma vadia mentirosa, passaríamos séculos nessa floresta. — Levantei a espada na altura do meu rosto, segurando o cabo com as duas mãos em posição de ataque.

— Quanta cordialidade. — Sua voz sonsa está rodeada por frustração.

— Não há nada que Eduna tenha que Vênetos não possa oferecer, e cumprir com sua palavra no fim.

— Kenna... — Senti os dedos de Azriel em meu braço mais uma vez. Ele continuaria a falar, se não fosse pela magia de Koschei agindo contra ele dessa vez, o paralisando do pescoço para baixo.

Baixei a guarda, me tornando totalmente até ele enquanto Koschei começava a levitá-lo. Baixei a espada, mudei essa para a mão de apoio e aproximei a direita de seu peitoral robusto para tentar invadir seu campo mágico, mas ele me repeliu, irredutível.

O espião está com o queixo pra cima como se estivesse se afogando, se recusa a assumir feição sofrida, mas a maneira como seu pescoço oscila e seus olhos estão trêmulos, a dor irradiando pelo seu corpo é nítida.

— Deixe os adultos conversarem, menino da ilha. — O desprezo em sua voz pacata foi palpável.

Me voltei para eles a tempo de me afastar da proximidade absurda que Koschei havia assumido durante minha distração.

— Solta ele. — Ordenei firmemente, sem usar o tom da guerreira, nem mesmo ergui minha espada, tampouco o timbre diplomático da princesa, mas sim o da futura Grã-Rainha de Vênetos.
As chamas em meu ser tremoluziram, rugindo furiosas em absoluto poder, crescentes sem a mínima menção em interromper o próprio trajeto rápido para a superfície.

Sim, a negociação é infinitamente mais importante que a vitalidade do espião. Se ele morrer, só terei que lidar com Prythian, que é um pequeno inseto em comparação com Vênetos, Velaris não é um empecilho, Feyre, Rhysand, Cassian, Azriel são todos descartáveis quando colocados ao lado do meu povo.

Por isso praguejei ao perceber que sou incapaz de não lutar por ele. Deixá-lo pra trás também não é uma opção. Joguei a razão no lixo quando coloquei tudo a perder por uma alma insignificante. Mesmo assim, a ideia dele sofrendo é desconfortável como alfinetes perfurando minha cicatriz.

Não pude ver a reação de Koschei diante da minha ordem, com o rosto escondido, mas vi a Khorse, com a feição em espanto sutil.

— Você fala como eles. — Baixou o queixo sutilmente, como se expressasse luto.

— Solte. — Dentro de meu ser, pude ouvir minhas voz reverberar como um rugido feroz e reptiliano, implorando pra sair.

— E quanto à negociação, Princesa? — Perguntou, cínico.

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