Capítulo 34

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Aedon soltou a garganta da besta albina, e em câmera lenta eu assisti a mim mesma, me afastando da vitória do meu povo para salvar o norte da pequena ilha.

Meu coração bate pesado, me puxando pra baixo com a força de toneladas influenciadas pela gravidade, talvez por isso eu tenha descido tão rápido.

Erone me salvou, impediu que eu fosse violada, deu uma chance a Vênetos e é assim que eu retribuo? Aquele canalha estupidamente atraente foi contra nossa rivalidade e fez o certo. E é assim que eu retribuo.

Bastou um olhar para a direção com o aglomerado de seres congelados para que Aedon aterrissasse esmagando a todos. Grande parte do pequeno grupo convocado foi eliminado pela certeza das toneladas da dragoa, nenhum cidadão de Velaris foi atingido.

- Que merda você trouxe pra minha casa?! - Rhysand se aproximou, encharcado com os resíduos das criaturas.

- Queriam conhecer o responsável por minhas cicatrizes, não queriam? - Escorreguei até o chão, avançando ao primeiro ser abominável que avistei.

O Grão-Senhor não disse mais nada, e eu busquei o máximo de minha força para atingir o alvo no centro do que deveria ser sua face. A lâmina adentrou até a metade, e foi o suficiente para atordoá-lo, mas eu sempre termino o trabalho.

Acendi a palma da mão e o derreti, sabendo que usaria muito da minha magia quando a criatura se desfazendo molhou meus pés.

Uma pressão forte nas costas me acometeu em uma pancada, e ainda que eu tivesse me mantido firme, tive certeza de que meu pulmão não, a falta de fôlego confirmou.
Escorrego a perna para trás porque por hora é o máximo que posso fazer, e em consequência desequilibro o ser, forçando minha respiração a se estabilizar enquanto isso.

Então me virei em um impulso e em um só golpe decaptei a criatura, sentindo cada gota de magia lutando contra o metal da espada. Sua cabeça gelada em processo de aquecimento rolou pela neve até as botas de couro illyriano a minha frente.

Os fios negros com ondas extremamente sutis estão molhados, assim como todo o resto do seu corpo robusto, digno de um soldado illyriano. Ele manteve seus olhos em mim, analisando, voltando a antiga tarefa de desvendar o que quer que estivesse procurando antes. Em suas iris cor de avelã, iluminadas como uma folha sob a luz do sol, identifiquei curiosidade.

A mais pura confusão tomou conta de mim, mesclada com um pouco de indignação dentro da adrenalina, há uma batalha acontecendo e eu estou lutando ao lado de seu povo mas ele insiste em procurar por uma ameaça. Esquece a porra do suéter!

Uma das criaturas monstruosas de Khorse apareceu atrás dele, assim como outra se aproximou de mim. Meu coração pesado acelerou, e meu corpo entrou em estado de euforia nociva ao pensar que poderia deixá-lo morrer. Um inocente, como todos eles são, inegavelmente vulnerável, já que certamente não consegue abater tantos quanto eu.
Pude sentir a respiração gelada e mórbida do ser próximo, concentrada em minha nuca.
Antes que ele pudesse me atacar, avancei deslizando pelo gelo até aquela que estava prestes a surpreender alguém que parece ser muito valioso pra Corte. Alguém que eu não poderia admitir que morresse na minha frente. Surpreendentemente o illyriano fez o mesmo, e se lançou para a direção oposta da minha em posição de ataque, deslizando da mesma maneira que eu.

O tempo pareceu passar em câmera lenta por alguns segundos, nossos olhos se cruzaram e eu tive certeza de que os meus estavam dizendo "o que você está fazendo?!" praguejando enquanto o chamo de imbecíl com as iris, ao passo que os dele, intensos e indecifraveis, pareciam intrigados.

O relógio voltou a rodar em seu ritmo natural, eu elevei a perna em um chute que o ser não poderia interceptar, e quando entramos em contato a criatura derrapou para trás. Eu não tinha tempo, se quisesse executar um ataque eficiente e usar o golpe anterior como vantagem tinha que prosseguir e matá-lo agora, mas hesitei, precisava saber se o soldado promissor e incapaz continuava respirando, o sentimento fez com que eu ignorasse o abate rápido e me virasse até o illyriano.

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