Capítulo 68

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Nós entramos no escritório, onde Feyre e Rhysand estão lado a lado, com a postura formal e a feição séria. Ela vestindo um vestido azul escuro em saia escorrida, e ele em seu típico terno preto com detalhes violeta, bordados ondulados como magia.

Imaginei que a sua aura mais séria fosse toda direcionada a mim, uma perda justa refletida em um orgulho ferido, mas essa certeza ficou balançada ao perceber que, sua atenção está mais direcionada ao espião, do que a mim.

— Percebi que a tatuagem do acordo sumiu. — Feyre quebrou o silêncio trazendo a atenção até mim, vindo na minha direção sobre passos pacatos, apesar da plena vitalidade.

Eu assenti, movendo o queixo positivamente dentro de uma feição serena, mas não disse nada. Quero analisar mais o comportamento formal dela, pra saber como eu devo agir. Após alguns segundos em silêncio, apenas me encarando, esboçou um sorriso fraco.

— Fico feliz que esteja totalmente recuperada. — Apesar do tom levemente cordial, soou suave, e não encontrei desonestidade em seu tom de voz.

Achei estranho, então procurei em suas iris um tanto azuis e um pouco cinzas, em cada marca de seus olhos um indício que está minimamente irritada com a minha partida. Uma comprovação do meu erro, ou do meu acerto. Mas encontrei apenas as estrelas cadentes que vi desde a primeira vez que nos encontramos.

Deveria ser mentira, uma artimanha para esconder o quão revoltada está por perder sua proteção, isso se eu sentisse que realmente algo não está certo. Meu único incômodo no momento é pensar que não estou partindo nesse exato momento pra Vênetos, e dentre os tantos ensinamentos de Marion, um que tenho certeza que aprendi, foi a ler os olhos dos feéricos.

— Obrigada. — Me rendi, baixando a guarda.

— Ainda que seja difícil acreditar na nossa palavra, saiba que nós dois estamos. — Disse Rhysand com convicção.

Um leve sorriso se delineou em meus lábios, e apenas um pouco sem jeito baixei o olhar para os pés por alguns segundos, ao perceber que até mesmo eles conhecem minha constante desconfiança. Quando não deveriam, eu desejo ser uma alma menos transparente de verdade, controlar melhor minhas feições, a linguagem corporal, mas ainda não conquistei essa habilidade, não o suficiente, então mesmo que me irrite bastante saber que alguém que acabou de me conhecer saiba das mínimas coisas, não poderia evitar que acontecesse.

Diante desse pensamento, e a intenção de me despedir, senti uma brisa suave e insistente brincando com meu coração, pedindo com firmeza para que eu desmanchasse a tensão entre nós. Afinal de contas, somos aliados, e mesmo após a última conversa, ainda não somos um time. Também não era o que eu esperava, as coisas não mudam do dia para a noite, são frutos de construção, e o próximo passo que darei é mais um tijolo pra sede do nosso time.

— Eu vim até aqui pra dizer que vou voltar pra Vênetos. — Começei, gradativa para estudar suas feições.

Em resposta, Feyre tornou a atenção até Rhysand, que a olhou de volta sob olhar conformado, a fêmea esticou a mão para ele, em seguida o Grão-Senhor se aproximou, entrelaçando seus dedos aos dela enquanto se aproximava de mim. Os dois trouxeram seus olhares até o meu, em resposta observei com atenção suas iris, encontrando paz, e nenhuma raiva.

— Não é segredo, você sempre nos avisou. — Respondeu em tom descontraído — Não se preocupe em se despedir, o acordo era esse afinal. — Elevou sutilmente a mão ao lado de seu tronco, demonstrando impotência apesar da aceitação.

— Não, nós tivemos tensões sim, mas isso não anula a maneira como lutaram pelo meu bem-estar, muito mais do que a propósito.

Um riso fraco irrompeu por entre os lábios rosados de Feyre.

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