Capítulo 50

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- Tem café. - Sua voz límpida e grave soou sonolenta, chamando minha atenção.
Está um pouco mais intensa do que o comum, não rouca como a do general, mas impactante em seu teor de Lorde. Levou minha mente a vagar de novo por consequência.

Percebi meus batimentos acelerando, minha mente em contraponto assumiu sentimento de frustração, ao passo que um arrepio acompanhou o peso na boca do meu estômago. Impaciente, mais um suspiro brusco irrompeu por entre meus lábios. E reconheço que também carrega inquietação primitiva.

Eu sei como isso se parece, mas não vou admitir, existem muitos machos atraentes no mundo, não irei ficar impressionada após um episódio embaraçoso e não intencional. Além de que foi uma situação incomum, tenho o direito de estar sendo assombrada pela noite passada.

O espião trouxe sua atenção até mim pelo canto de olho, interessado em meu silêncio com a caneca em mãos. Só então reparei que está com uma espada embainhada na cintura. Mesmo com o movimento sutil, o cabo dessa se moveu, atraindo minha atenção para algo diferente de seus traços.

Apertei os olhos em curiosidade, ele por sua vez voltou a atenção até a janela como se sua pergunta tivesse sido respondida, bebendo um gole longo de café até finalmente retomar a palavra. Quase como se estivesse criando coragem, engolindo os receios junto ao café.

- As suas estão sobre a mesa.

E realmente estavam, não só limpas mas polidas, e intensamente afiadas. Meu par de espadas, com lâmina vulcânica, banhada em magia da Terra Viva, aço forjado do fogo do núcleo da Mãe.

"Você quem fez?" eu perguntaria, mas a surpresa engoliu as palavras da minha boca enquanto me aproximava delas.

- Sugiro que vista algo mais seguro. - Sob tom sereno, tornou totalmente a atenção até mim, recostando o quadril no balcão e apontando a caneca pro suéter.

Passei os dedos pelo cabo, sentindo tranquilidade repousar em meu peito, matando a saudade ao sentir o relevo de suas runas sob a pele, com uma ideia vaga do que poderia acontecer.

- Achou ele? - Escondi a esperança crescente em minha voz. Não quero que veja além da máscara de guerreira firme e talvez um pouco irônica, mas só um pouquinho.

Como de costume, demorou a responder, mantendo as iris beijadas pelo sol presas às minhas, como se me encarar valesse todo seu tempo. Após alguns segundos simplismente mexeu o queixo positivamente, antes de beber mais um gole de café.

Dentro de suas iris cor de avelã está guardando uma espécie de receio e inquietação, está mais comedido do que o normal. Curiosidade dançou agitada dentro de minha mente.

Corrigi a postura, e mantive os meus olhos sobre ele.

- Está com medo?

Sutilmente, contraiu as sobrancelhas discordando, agindo como se fosse o maior absurdo que já ouviu em sua vida. O que mais eu poderia cogitar? É o único motivo lógico para estar tão retraído essa manhã, costuma me provocar mais do que isso.

Dei de ombros e peguei minhas espadas em mãos, e as imagens de seus bíceps inchados e contraídos próximos ao meu pescoço arrebatou minha mente.

Movi o queixo negativamente, na esperança de que afaste as lembranças, como o vento faz com as nuvens. E de imediato funcionou, mas não durou muito.

Foi a vez do peitoral saliente coberto por tatuagens, então da lembrança da força exercida sobre mim acompanhada de tanta firmeza, capaz de não me machucar apesar da eficiência...

Percebi que estava voltando a ficar dispersa, então puxei o ar profundamente, na esperança de que mais oxigênio limpasse meus pensamentos. Por fim, me voltei até o espião, encontrando seu olhar ainda atento em mim.

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