Capítulo 45

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Rapidamente passei por qualquer feérico que pudesse servir como distração em suas auras felizes e serenas, atravessando até Aedon quando cheguei em um local afastado o suficiente para passar despercebida.

O ambiente continua o mesmo, mesmos pinheiros no horizonte, mesma neve acumulada no chão, e Aedon continua no mesmo lugar onde a vi da última vez. O que mudou foi a inquietação em mim, meus batimentos descontrolados, minha mente carregando um trilhão de receios. A dragoa percebeu.

No momento em que me materializei diante dela, seus olhos se abriram bruscamente, então as iris gigantes e douradas, como as minhas, com a única diferença que tem um subtom avermelhado nelas, pareceram iluminar o lugar frio e escuro como grandes e altos faróis no oceano.
A impressão da luz de seus olhos, repletos de chamas como sua alma semelhante a minha, ofuscou até mesmo o brilho das estrelas no céu.

Pensei em agir rapidamente, dar o primeiro passo e começar a escalar a dragoa que monto, mas meu queixo caiu de imediato até a região da tatuagem que surgiu após o acordo, e mesmo coberta pelo tecido vermelho, pareceu sorrir pra mim de maneira cínica.

Nossa mente é tão poderosa quanto magia, usando simplesmente sua natureza biológica, então foi inevitável me perguntar se se trata apenas o meu receio, como um alerta da minha mente pra que eu tome cuidado com forças que não conheço, ou se a marca na região realmente está aquecendo.

— Não vai conseguir partir. — A voz de sombras esvoaçantes soou convencida vindo de dentro da escuridão.

Meus batimentos já acelerados dispararam, imediatamente procurei pela voz familiar, em posição de ataque, e mesmo com a impressão da luz dos olhos de Aedon, não parece tão real agora já que não consigo achá-lo entre as árvores. Mas assim de longe, não vou encontrar um espião de qualquer maneira, é treinado para ser sorrateiro. Então me aproximei da mata atrás de mim.

Empenhada em encontrá-lo, acendi as palmas das mãos e prossegui sobre passos cautelosos e firmes no chão, me aproximando da direção da voz por absoluta intuição. Estou preparada para qualquer golpe, venha da direção que vier.

Caminhei até aquelas diante de mim, mas encontrei apenas mais árvores se estendendo para o fundo do território. Aproximei em seguida a mão acesa em uma chama ondulante da curva em meu lado direito, e contemplei a mesma imagem. Mesmo caminhando sobre passos vagarosos, e me aproximando um pouco mais por fim, na intenção de analisar o perímetro meticulosamente, não encontrei nada. Faltou apenas uma região da mata onde não chequei.

— Apareça, espião covarde. — Lentamente, me virei até a região que faltava, a encontrando estranhamente mais escura que as demais — Não me diga que está com medo. — Minha voz envolta em malícia ecoou entre as folhas, fazendo-as balançar mesmo sem a presença de vento. Como se acompanhassem meu tom de voz.

Ainda em ritmo cauteloso, prossegui diretamente até a região, sem medo apesar do coração disparado. Depois de todos os erros que cometi, se tenho uma única certeza, é de que não me submeterei mais ao que passei. Jamais sofrerei daquele jeito em minha vida, assim como não vou permitir que inocentes sofram também.

Ainda que esteja a beira da morte, não serei derrotada sem lutar. A Kenna antes imprudente, se tornou de uma vez por todas, genuinamente corajosa e inquebrável.

Perto o bastante, aproximei apenas minha mão da região, encontrando algo diferente do que a extensão de pinheiros pelo território. Uma massa negra em névoa maciça está diante de mim, alta, nítida e única, destacando-se em meio a mata. Ou melhor, cobrindo parte dela. Mas sem qualquer formato, é completamente abstrata.

Curiosa, apertei os olhos aproximando as chamas da massa sombria para que elas a tocassem, se forem apenas sombras então irão se dissipar com o beijo do fogo, significa que não me oferecem qualquer ameaça. Na mínima menção ao toque do elemento à elas quando minha mão se aproximou, esguias e ligeiras como aves de rapina, dividiram-se em inúmeras partes menores, todas elas vindo ao mesmo tempo para cima de mim.

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