Capítulo 37

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O resto da grande mansão estava escuro, mas conforme eu corria, uma série de clarões com um intervalo de trinta segundos ou quarenta iluminava os corredores, e por breves momentos assustadores voltava a ser dia. Meus pés se movem rapidamente, como em um campo de batalha, e mesmo assim não consigo puxar nem mesmo um fio estreito de ar pela garganta.
Sinto que a qualquer momento meu coração vai rasgar meu peito, e encerrar as chances mínimas que tenho de recuperar o fôlego.

BRRR-BUUUM
As paredes da casa tremeram, e diante de mim um quadro enorme de Feyre, Rhysand e Nyx despencou, por pouco não caindo sobre meus pés. Apenas porque desviei e bati tão forte contra a parede atrás de mim que senti minha coluna reclamar, no mesmo momento em que os corredores se iluminaram inteiros.

Estou entrando em pânico. Talvez eles estivessem vindo atrás de mim, mas na tentativa de fugir de uma besta invisível sobre passos ligeiros e rápidos como nunca antes, já estou fora do alcance deles.

Eu estou tremendo, todo o meu corpo está vibrando em pânico, e dói, cada tentativa frustrada de buscar fôlego, minha garganta queima, minha visão começa a ficar turva e minha mente se desconecta de mim. Eu não sou mais eu, de repente me tornei tão pequena, tão frágil...

BRRR-BUUUM
Um grito escapou por entre meus lábios me lembrando de voltar a correr, voltar a fugir do que quer que tal ser monstruoso fosse. Sem noção de direção, e meus reflexos, eu atravessei a primeira porta que encontrei aberta, buscando a escuridão das trevas como refúgio. Talvez as sombras me escondam e me salvem da fera dos céus.

Apressada eu segui a direção do abismo, atraída para a absoluta escuridão densa e palpável, adentrando cada vez mais no breu, torcendo para que ele me engolisse. Me escondesse.

***

O choro do bebê ecoou por toda a Morada do Fogo, pequenos pulmõezinhos inflando com a força de pulmões adultos, expressando medo.

"Shh" A mulher de pele negra em subtom frio, quase cinzento como seus olhos, e traços tipicamente Venetunianos, sobrancelhas cheias e escuras, lábios espessos, nariz redondo, e olhar fatal, adentrou o cômodo.

O choro da bebêzinha diminuiu minimamente ao ouvir a voz da mãe, mas ela estava na porta, distante, não era o suficiente.

"Senhora nós não sabíamos mais o que fazer" a serva correu até a Grã-Rainha, aflita.

"Está tudo bem" a fêmea com joias douradas balançando nas orelhas pontudas pegou a garotinha recém-nascida no colo após fazer um breve afago no braço da feérica, e rapidamente o choro forte e desesperado se tornou uma série de grunhidos desconfortáveis. "Muito obrigada pela ajuda, já pode ir." disse em um tom compassivo, incapaz de tirar os olhos de sua preciosa chama.

BRRR-BUUUM
A pequena se colocou a chorar de novo, mexendo os bracinhos e as perninhas peladas como se estivesse lutando contra um monstro invisível, com as mãozinhas fechadas em punho. Então Euphor não precisou de muito pra entender o que sua filha estava sentindo.

"Shhh" a Grã-Rainha levou a ponta do dedo até o pequeno narizinho de sua filha, idêntico ao seu, e o afagou de cima para baixo "Não tenha medo minha chaminha, jamais tenha medo" sussurrou, sem sucesso a princípio "Mamãe está aqui, e sempre estará" com a bebêzinha aflita em seu colo, Euphor começou a niná-la.

BRRR-BUUUM
A princesinha fez menção em chorar, mas sua mãe não deixou que acontecesse.

"Adormeça bebêzinha, em seu peito a chama brilha.
A faísca mais brilhante, te embala em um instante.
Adormeça bebêzinha, em seu ser o fogo reina.
O dragão que sobrevoa, vai fazer você ninar."

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