Capítulo 74

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Foi a sua voz que me obrigou a parar antes de fechar a porta na sua cara. Eu já tinha até entrado dentro do quarto, estava com pressa de me afastar, sóbria o bastante para não desejar tê-lo por perto, e obviamente abominar a ideia dele perceber que talvez eu possa sentir qualquer mínimo tipo de atração por ele, e então ele começou a recitar a carta. Palavras das quais eu nem mesmo me lembro.

— , em suma, francamente é um grandíssimo idiota.

Fui obrigada a tornar o corpo até ele, lentamente, para não ter que contemplar seu rosto confiante e soberbo diante de mim de novo, orgulhoso por esfregar na minha cara que não era um simples blefe. Agora que está tão escancarado que perdi essa disputa, sinto que Azriel voou aos céus, e anunciou para toda a ilha que ele me sacaneou, me colocou em uma posição de completa vulnerabilidade por descuido meu.

Acredita mesmo que pode começar essa rivalidade comigo e sumir do nada? Bagunçar os meus dias, meus pensamentos, causar tanta turbulência em minha chama, despertar outras sensações além de dor, ódio e auto desprezo em mim mesma, me fazer esquecer ao menos por alguns momentos que fui abatida, a guerreira mais formidável dentre os continentes derrubada, e sem mais nem menos, sumir?! Puf! Como a fumaça de Koschei o fazendo desaparecer, ou melhor, suas sombras causando seu sumiço.

Diante de cada palavra, me vi incapaz de puxar o fôlego e respirar normalmente. A sensação foi como se mãos estivessem pegando meu fôlego de meus pulmões, e estivessem guardando pra si por tempo indeterminado. O que falta para enterrar o corpo morto agora, é eu começar a tremer. Não é sensação de desamparo, mas de vergonha e arrependimento. Entendo o quanto me expus, e o quão vulnerável estou diante dele agora. É uma merda, me sinto como uma vítima indefesa implorando por misericórdia. Ou uma boba, uma garotinha sincera demais.

Pode deixar que eu respondo pra você, não! Não mesmo! Qual é Azriel, você é um espião admirável e não consegue somar dois mais dois? Não deveria ter desaparecido do dia pra noite, ainda mais quando eu estava te devendo um pedido de desculpas. É, pois é, eu sei que está duvidando, se tratando de nós dois eu também duvidaria se estivesse lendo, mas era um pedido de desculpas sincero por ter vomitado todos os meus problemas em cima de você sem pensar, fui egoísta e insensível, deveria ter me lembrado que alguns espiões também têm coração. Mas me enganei pelo visto, porque você não tem. Por ser o único que trouxe algo genuinamente bom depois de Eduna, adrenalina e um propósito que não me levaria a morte no fim, e em seguida ter ido embora sem se despedir, você é um idiota.

Finalmente criei coragem para tornar meus olhos até os seus, estava pronta para me justificar e desviar da sua prepotência cortante, mas me contive para a surpresa dos dois. Porque não a encontrei, então fui obrigada a mudar de rota imediatamente. No rosto impecável do espião, em suas iris repletas de salpicados mais intensos, tudo que posso contemplar agora, é humor descontraído, e ouso dizer, que certa admiração. Ou pena, a essa altura do campeonato não saberia distinguir, minha mente já está embaralhada demais para raciocinar com perfeição, e a culpa é dele.

Quer saber a verdade? Eu sinto a mais sincera das raivas por você, se estivesse aqui agora eu estaria te batendo. Até mesmo me impediu de vasculhar os seus pertencentes em busca de informações sobre você. Ou melhor, fraquezas. Já que você está tão obcecado por me desvendar, sim o Cassian abriu a boca, eu também ganho o mesmo direito automaticamente, mas mesmo longe, e mesmo sendo um completo imbecíl, você é capaz de interferir nisso também! É por isso que sinto tanta raiva de você, ou melhor, ódio! Você é desprezível, que tipo de rival abandona uma disputa sem mais nem menos?! Eu deveria agradecer por você estar longe, não desejar a sua volta com todas as minhas forças como estou desejando agora, isso é injusto pra caralho. Exatamente isso que leu, odeio você e seu cérebro desprovido de inteligência, seu rosto impecável sem um único poro dilatado, sua mandíbula forte e sedutora, seus traços retos e realmente impressionantes, o seu cabelo idiota, indeciso e cheio de brilho, o olhar misterioso e atraente que é capaz de fazer eu esquecer meu próprio nome, odeio como suas asas são enormes e cativantes, odeio os músculos robustos e tão extremamente hipertrofiados. E pode ter certeza que odiei a noite em que me prensou tão firmemente contra o colchão, porque ter você por perto é um verdadeiro pesadelo, me lembrar daquela noite me faz suar em arrepios brutais. O seu cheiro envolvente e amadeirado envolto em sombras e masculinidade me enjoa, gostaria mesmo de nunca mais ter que sentir esse aroma.

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