Capítulo 26

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Anastásia

    Eu precisava me erguer de alguma forma, e ficar em casa chorando e lamentando tudo que aconteceu como uma garota tonta não resolveria as coisas.

Eu preciso seguir a minha vida e enterrar o que aconteceu.

O meu peito ainda pesa e eu ainda sinto vontade de chorar e me esconder do mundo quando eu lembro o que aconteceu e de como eu fui usada, mas eu não posso me esconder mais, eu não posso me esconder para sempre.

Eu preciso me reorganizar e focar nos meus estudos.
E vir para a faculdade hoje foi a minha melhor opção.

— Tudo bem, Ana? — a Kate pergunta. — Você parece tão desanimada hoje. Aconteceu alguma coisa?

A Mia também me olha com curiosidade. Ambas esperando a minha resposta.

Não contei pra elas sobre o que aconteceu, e nem pretendo.
Eu quero esquecer essa história, e se depender de mim ninguém nunca saberá sobre essa vergonha.

— Não aconteceu nada. Eu só estou cansada. — eu digo a primeira coisa que me vem a cabeça.

— Eu acho que sei o que aconteceu então. — a Mia olha séria sobre os meus ombros. Kate acompanha o olhar, seus olhos viajando para o meu rosto em seguida.

— Eu sinto muito. — Kate sussurra segurando a minha mão.

Levanto o rosto e me viro.

A cena me impacta mais do que deveria, principalmente depois do que aconteceu.

A Leila está pendurada no pescoço do Christian enquanto parece que ele vai engolir ela com um beijo.

Eu engulo em seco. Minha visão ficando turva pelas lágrimas.

A cena me lembra do sábado e de todas as palavras que foram cuspidas sobre mim. Meu peito dói, e a mesma sensação volta.

— Ele é um idiota! — digo, os olhos das minhas amigas param em mim.

— Eu sinto muito, Ana. Eu não sabia. — Mia diz, o tom de voz carregado. — Desculpa. Eu realmente não fazia ideia que o meu irmão estava saindo com essa aí.

— Você não precisa se desculpar, Mia. Tudo bem. — eu limpo as lágrimas e me levanto. — Preciso ir, tenho mais algumas aulas, vejo vocês depois. — me afasto delas o mais rápido possível. Me doeria ainda mais precisar ficar me forçando a inventar explicações.

Não há o que explicar.
E não há porque falar o que de fato aconteceu, isso não vai mudar as coisas.

Nada vai mudar as coisas.

Sinto um aperto no meu braço e sou puxada para um corredor mais vazio.

— Nós precisamos conversar.

Christian.

— Eu não tenho nada pra falar com você! — tento sair, mas o Christian entra na minha frente, impedindo a minha passagem.

— Ana, olha, eu...

— Eu não quero falar com você! Eu não tenho o que falar com você! Me deixa em paz!

Eu não quero sequer olhar para a cara dele agora.

— Eu quero te pedir desculpas, ok? Foi mal. — Christian ignora o meu pedido. — E pedir pra você não contar nada pra ninguém, principalmente pro seu pai. — ele diz de uma vez.

Eu franzo o cenho.

Ele não está me fazendo esse pedido idiota, está?

Deus! O Christian é ainda mais egoísta do que eu pensei que fosse!

Ele só está pensando nele. Ele só está pensando em como ele fica nessa história toda.

Você é um idiota. — é tudo o que eu consigo dizer.

— Você sabe como o meu pai é, ele não pode ficar sabendo disso.

Eu não consigo mais segurar as lágrimas, e eu me sinto ainda mais imbecil por fazer isso na frente dele.

— Eu errei, foi mal. Mas você não pode contar isso pra ninguém, principalmente para o seu pai, Ana.

Foi mal?

É tudo que ele tem para dizer?

— Saí da minha frente, ou eu vou gritar e as coisas não ficarão boas pra você. — Christian continua parado. — Sai agora! — ele tenta segurar o meu braço, mais uma vez, mas eu sou mais rápida e dou um passo para trás, puxando o meu braço para longe do seu toque. — Não encosta em mim, você me causa nojo, Christian.

Eu faço o caminho o mais rápido possível para a sala de aula, sem sequer olhar para trás.

***

Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento. Eu não consigo parar de pensar nessa história nojenta, e quanto mais eu penso mais tudo isso me enoja. Eu tenho repulsa, raiva.

E o pedido tosco que o Christian fez hoje só prova que ele realmente é um babaca que não se arrependeu nem um pouco.

Ele só pensa nele mesmo.

O Christian só não quer que o pai dele saiba sobre essa história nojenta, ele sabe que as consequências seriam pesadas, ele não quer que o meu pai saiba, ele sabe que o meu pai não deixaria isso barato.

Se o meu pai soubesse eu tenho certeza que ele promoveria uma verdadeira guerra contra o Christian.

Eu não vou contar, não por um pedido egoísta, mas porque eu não suportaria a decepção do meu pai, os olhares de decepção acabariam ainda mais comigo.
Eu sei o que o meu pai pensa sobre o Christian.

E agora eu concordo com absolutamente tudo.

Se o meu pai soubesse eu iria me sentir ainda pior, ele poderia até ir contra o Christian, mas eu tenho certeza que ele não me veria mais com os mesmos olhos. Eu sei que de certa forma fui contra ele.
Eu não escutei, não obedeci.

Eu iria me sentir ainda pior.

Eu fungo, limpando o rosto.

Respiro fundo.

Eu vou carregar essa história sozinha.

Eu preciso carregar essa história sozinha.

Ninguém precisa saber, ninguém vai saber.

Ninguém pode saber.

Eu vou enterrar isso, assim como vou enterrar o fato de já ter me envolvido com o Christian algum dia. Ele não merece que eu pense sobre isso, ele não merece que eu pense sobre ele.

Eu vou enterrar qualquer tipo de sentimento bom que eu já nutri sobre ele.

Essa história não vai ser capaz de me deixar marcada. Eu vou esquecer que isso tudo aconteceu, mesmo que o meu coração esteja sangrando agora, eu vou esquecer tudo isso e tratar como um pesadelo distante.

Algum dia.

Algum dia, eu espero.










{...}

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