Capítulo 40

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Carla

    Eu sempre tentei ser calma e compreensiva com os meus filhos, porque eu acredito que a confiança e a comunicação é chave das boas relações. Eu amo os meus filhos e sempre quis manter uma boa relação com eles.

Quando a Anastasia me disse que estava grávida, claro que foi um choque, mas eu não poderia deixar de apoiar a minha filha, não poderia deixar de fazer o que a minha mãe fez um dia comigo. Claro que a minha história com o Raymond foi completamente diferente, eu engravidei antes do casamento, mas nós já estávamos noivos e ele assumiu a paternidade.
Então quando tudo isso nos atingiu eu já sabia que iria apoiar a minha filha antes mesmo de saber o que aquele moleque inconsequente faria.

Antes de saber que ele agiria como um verdadeiro cafajeste.

Raymond tinha razão nesse quesito, no quesito de querer Christian longe da nossa filha.

Apenas nesse quesito.

Porque é claro que a Ana não está tão abalada assim só por causa da gravidez. Aconteceu alguma coisa muito mais séria nessa história, eu tenho certeza.
Anastasia está magoada, deprimida, até o olhar da minha filha mudou.

Esfrego o rosto.

E pra piorar, o Raymond vem agindo de uma maneira totalmente errada. Ele vem sendo grosseiro e ignorante com a nossa filha, comigo, com a nossa família.

Ouço quando as chaves são jogadas no aparador do quarto. Saio do closet, encontrando um Raymond bêbado e jogado na poltrona.

Reviro os olhos.

Deplorável.

— Finalmente lembrou que tem casa, Raymond?

Ele abre os olhos pra me olhar.

— Você diz isso como se eu tivesse perdido alguma coisa importante.

— Perdeu, perdeu a oportunidade de agir como um pai. A cada vez que você faz isso você perde mais da nossa filha.

— Eu não tenho mais filha.

— Olha o que você diz Raymond, por Deus!

Ele ri.

— O que? Olha a vergonha que a sua filha está nos fazendo passar!  — ele da ênfase na palavra. — Pelo amor de Deus, Carla!

— Que vergonha? Que coisa ridícula e antiquada.

— Antiquado? Eu? — Raymond se levanta. — E o nosso sobrenome? A nossa honra? — ele altera o tom de voz.

— Que se dane tudo isso! O bem estar dos meus filhos é muito mais importante do que tudo.

— Bem estar? Mãe solteira! É isso que ela vai ser! — Raymond esfrega o rosto. — As pessoas vão falar, e com razão!

— Que se foda o que as pessoas falam!

— Anastasia se comportou como uma puta qualquer! Uma puta bem debaixo do nosso teto! Na nossa casa! Você deveria estar pensando em como dar um fim nisso, você deveria incentivar Anastásia a tirar essa vergonha!

O interrompo.

— Você está se ouvindo? Você está sugerindo que eu incentive a nossa filha a fazer um aborto, Raymond?! É isso? — ele não responde. — Você está sugerindo que eu peça pra nossa filha fazer um aborto?!

— Você sabe que é o melhor a se fazer.

— Pelo bem do nosso casamento eu acho bom você calar a boca e pensar muito bem no que você diz. Eu vou considerar que você está bêbado e completamente fora de si, porque o homem com quem eu me casei jamais seria capaz de sugerir algo assim com tanta frieza. Nós estamos falando da nossa filha, Raymond! Da nossa menina! — eu grito. — Do nosso neto! Sangue do nosso sangue. Uma gravidez não planejada não é o fim do mundo, por Deus. Você deveria aprender a pensar antes de sair falando essas barbaridades por aí.

É inacreditável que o Raymond esteja sugerindo um aborto como a solução para essa situação, nessa frieza.

É nojento, é baixo da parte dele.

Ele sequer está considerando em como Anastasia ficaria com isso. Ouvir o próprio pai falar assim, no estado que ela está não faria bem a saúde mental da nossa filha.

— Sua filha, seu neto. Não sou avô de um bastardo.

Respiro fundo.

Eu não posso mais permitir que vivamos assim.
Estou cansada de tudo que vem acontecendo nas últimas semanas. Não há necessidade de que Anastasia e eu fiquemos nessa situação desgastante, principalmente agora que ela está grávida.
Não posso permitir que Raymond humilhe a nossa filha assim, ele é pai, mas deixa de ser a cada vez que age dessa forma tão cruel.

— Tudo bem, você fez a sua escolha. Semana que vem Anastasia e eu estamos indo para Boston. A minha filha e eu vamos embora.

Raymond franze o cenho.

— Você vai apoiar mesmo essa vergonha? Por Deus Carla!

— Vergonha? Vergonha é como você vem se portando. Raymond, não seja hipocrita, eu engravidei antes mesmo de nós estarmos casados.

— Engravidou, mas nós nos casamos.

— Você está agindo como o meu pai, por Deus. Você agrediu a nossa filha com palavras e fisicamente, como o meu pai fez comigo. — meus olhos ficam marejados. — Faz o que você quiser, pense o que você quiser, Raymond, mas não ouse sugerir algo assim para a minha filha, eu nunca te perdoaria se você a magoasse assim. O nosso casamento definitivamente acabaria. — eu cuspo as palavras e saio sem olhar para trás.

Hoje vou dormir no quarto de hóspedes, como vem sendo nos últimos dias.

Amanhã vou começar a fazer as minhas malas, e mandar Anastasia fazer o mesmo.

Chega, está na hora de dar um fim nisso tudo. Está na hora de dar tchau a Nova York, pelo menos por agora. Não há mais nada para nós nessa cidade.

















{...}

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