Capítulo 36

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Anastasia

Eu estou pálida e com olheiras enormes. Eu simplesmente não consigo mais dormir, a minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento com tudo que vem acontecendo.

Eu não consigo dormir, não consigo comer, não consigo viver em paz. O jeito que o meu pai vem agindo nos últimos três dias está acabando comigo.

Eu cogitei a ideia de não seguir com essa gravidez, mas nem isso eu tenho coragem de fazer.

Eu fui burra e ingênua, e agora estou sendo covarde e fraca.

— Tudo bem, Ana? Quer comer alguma coisa? — Eva pergunta preocupada quando chego na cozinha.

— Estou sem fome, Eva.

— Mas você precisa comer alguma coisa, você precisa se cuidar melhor agora. Pelo menos um suco, que tal? — eu concordo aceitando o copo com suco de uva que ela me oferece. — Vou ao mercado comprar algumas coisinhas, e vou trazer chá, vai te ajudar a ficar mais calma e menos ansiosa. Sua mãe também pediu para comprar um remédio pra ansiedade.

Minha mãe está sendo incrível. E isso tem custado muito no casamento dos meus pais, eles brigam todos os dias e por qualquer motivo, e eu me sinto péssima por isso, é a primeira vez que eles brigam assim.

— Quer alguma coisa em especial?

— Não, obrigada, Eva.

— Quer vir comigo? Sair um pouco pode te ajudar a se distrair.

— Não, prefiro ficar em casa.

Prefiro me esconder do mundo lá fora.

Eva sorri e agarra a bolsa e a carteira. Ela beija a minha testa e sai me deixando sozinha.

Esfrego o rosto e faço o meu caminho para a sala. Me jogo no sofá e fecho os olhos.

***

O barulho da campainha me faz despertar do cochilo e abrir os olhos.

A pessoa é insistente.

Bufo e reviro os olhos.

Quando abro a porta a única reação que eu tenho é tentar fechar.

Christian.

Ele é a última pessoa que eu quero ver ou conversar agora.

Por ele ser obviamente mais forte que eu, ele consegue abrir a porta com tudo, me fazendo ir para trás com o impacto.

— Sai daqui, vai embora! — ele se aproxima e agarra o meu braço.

— Você está fodendo com tudo. — ele parece estar bêbado. O cheiro do álcool me enoja, e eu sinto vontade de vomitar.

— Você é um idiota, egoísta.

Christian me empurra com brutalidade. Minhas costas batendo com tudo contra a parede, o impacto me fazendo perder o ar e gemer de dor. Eu aperto os olhos com o impacto e com a dor.
Eu levo algum tempo para conseguir voltar a respirar.

— Você pensa que eu sou idiota? Usando uma gravidez para me prender. Você fez isso de propósito.

Meus olhos ficam marejados.

— Você é um idiota, eu nunca faria isso. Eu não queria isso. — não consigo controlar as lágrimas.

— Você não quer, eu também não, então procura uma clínica e tira. Vai ser melhor pra todo mundo. Se livra logo disso.

Ele está sugerindo um aborto sem a menor sensibilidade.

Uso toda a força que consigo reunir e o empurro, acertando um tapa no seu rosto.

Christian esfrega a bochecha e agarra os meus braços. Ele volta a me empurrar com tudo contra a parede. Eu gemo de dor, dessa vez a dor é ainda mais forte, ele aperta mais o meu braço.

— Eu não vou assumir, vai ver nem é meu. Você estava a todo risinhos com outros por aí.

— Eu te odeio!

Ele aperta o meu braço ao ponto da dor.

— Você engravidou pra tentar me prender, engravidou de outro pra acabar com a minha vida.

De outro?

— Abriu as pernas tão fácil pra mim que deve ter aberto pra outros também.

Não consigo controlar as minhas lágrimas.
Além de ser um idiota, ele está insinuando que eu sou uma qualquer.

— Você além de egoísta, é baixo, em todos os níveis.

— E você além de ter sido uma puta fácil, está querendo foder com a minha vida.

— Eu não preciso disso! Eu não preciso de você pra nada!

— Se livra logo disso.

Ele está me machucando, e não só fisicamente.

Ele aperta o meu rosto, eu tento empurrar o seu peito.

— Eu não vou deixar você acabar com a minha vida!

— Solta ela agora.

Eva.

Respiro aliviada.

— Eu ainda não falei com nenhuma empregada.

— Moleque, eu acho bom você fazer o que estou mandando, porque eu não vou exitar em te denunciar por agressão e invasão de privacidade.

Christian olha para mim uma última vez e me solta. O meu alívio é instantâneo.

Ele vai embora sem olhar pra trás.

Eva me puxa para um abraço, não consigo controlar as lágrimas.

***

Me sento na cama e respiro fundo. O meu estômago revirando violentamente, a cólica de mais cedo ainda mais forte.

Eu estou na pior mesmo.

— Ana. — a minha mãe entra no meu quarto. — A Eva disse que você não quis comer nada. Tudo bem?

Concordo.

— Eu só estou enjoada.

— Isso é normal. — ela se aproxima e senta do meu lado. — Principalmente porque você ainda está no início da gestação. Precisamos marcar uma consulta.
Quer um remédio?

Nego.

— Eu só quero ficar quietinha, mãe. — me ajeito na cama, eu sinto como se eu tivesse levado um soco no estômago, tento esconder a careta de dor.

Não quero preocupar mais a minha mãe.
Chega de dar dores de cabeça.

— Tudo bem mesmo, Ana?

Aperto a minha barriga, as minhas costas queimam, a minha pélvis dói como nunca, e eu não consigo respirar.
Mordo o meu lábio inferior, tentando conter o grito.
Uma lágrima rola na minha bochecha.

A minha mãe olha para a minha barriga, ela puxa o meu edredom.

— Ana! Você está sangrando. — a minha mãe olha pra mim com os olhos arregalados, o seu rosto pálido.

Eu olho pra baixo, a minha calça moletom está completamente suja de sangue.

— Mãe... — eu me curvo, a dor ficando ainda mais forte. Os meus olhos queimando pelas lágrimas.

A minha visão fica turva, e os gritos da minha mãe cada vez mais distantes.

Eu luto tentando manter os olhos abertos, mas é em vão, o meu corpo pesa, a minha língua embola e eu não consigo sequer gritar.
A escuridão é como uma névoa que me carrega para um buraco profundo.


























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