Capítulo 29

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Anastásia

Eu ouço um zumbido, e é como se tudo a minha volta perdesse a cor, que as paredes desabassem bem diante dos meus olhos, o chão se desfizesse, e eu caísse em um poço fundo, vazio, escuro.

Eu pisco algumas vezes, lutando contra os pequenos pontos pretos.

Os testes...

Os três testes estão positivos.
Os três malditos testes positivos.

Eu não consigo respirar direito. A minha visão fica turva pelas lágrimas, e o meu coração fica ainda mais acelerado.

E de repente o meu estômago embrulha violentamente.

Eu me debruço no vaso e vomito compulsivamente, o meu corpo inteiro treme.

Respiro fundo em meio as lágrimas.

Os testes positivos significam um bebê.

Um bebê.

Eu não quero um bebê.

Eu não posso ter um bebê.

Um bebê do Christian, um filho do Christian.

Um filho do desgraçado que partiu o meu coração em milhões de pedaços, do desgracado que me enganou, do desgraçado que só me usou e riu de mim com os seus amigos idiotas.

O Christian debochou de mim, me enganou, mentiu, me traiu de todas as formas possíveis.

Eu não quero ter um filho dele.
Eu não posso carregar um filho dele.
Eu não consigo fazer isso.

O que eu fiz?

Corro para o meu quarto e deito na cama em uma posição fetal. A minha cabeça latejando.

Eu acabei com a minha vida.
Eu não posso ser mãe agora, eu não quero isso pra mim!

O meu corpo inteiro treme. Eu fecho os olhos e choro como uma idiota.

A idiota que eu sou.

Isso tudo é culpa minha.

Eu nunca deveria ter permitido que Christian sequer se aproximasse de mim.

Eu destruí tudo.

***

— Ana. — é a minha mãe. — Ana, querida? — ela insiste em bater na porta do meu quarto.

Eu fecho os olhos e tento ignorar o barulho insistente.

Depois que cheguei da farmácia me enfiei dentro do meu quarto para fazer os testes, e eu simplesmente não consegui sair mais daqui.

Não tenho forças sequer para responder.
Eu não quero ver ninguém, não quero sair desse quarto nunca mais.

Eu não consigo sequer pensar em como a minha vida vai ser daqui pra frente, em como as coisas mudarão.

Tem a faculdade, os meus pais, a minha vida...

O que as pessoas vão falar?
Como o meu pai vai reagir a isso?

O meu pai nunca mais vai me ver da mesma forma. Eu não posso contar sobre isso para os meus pais, seria uma vergonha, eu acabaria com eles.

E o pior, tem o Christian.
Eu não consigo sequer olhar para ele sem sentir dor.

E agora isso vai me marcar para sempre...

Eu não consigo.
Eu simplesmente não consigo.

***

O meu rosto está inchado, os meus olhos estão vermelhos, e eu estou mais pálida do que de costume.

Ontem eu não tive forças para sair do meu quarto, para encarar os meus pais... Eu não consigo pensar em como falar sobre isso com eles. Eu sei bem como o meu pai vai reagir, e isso está acabando comigo.

Ele vai me odiar. Vai me odiar pra sempre.

Eu desço as escadas. A casa parece vazia, o que me conforta. Não quero ter que me explicar, não quero explicar porque não vou a faculdade a dois dias, não quero ter que explicar porque passo a maior parte do tempo trancada no meu quarto.

Não quero falar nada.

— Ana. — eu tomo um susto.

— Oi, mãe.

— Tudo bem? — pergunta preocupada. — Meu Deus, filha, você está pálida demais. Está se sentindo bem?

Engulo em seco.

Me sentindo bem?

A dor e a angústia estão rasgando o meu peito e acabando comigo. Eu não aguento mais, me sinto sufocada, presa nos meus próprios pensamentos.
Os pensamentos mais negativos.

Eu quero sumir.

— Está tudo bem. — a minha voz vacilando.

— Anastásia, o que está acontecendo? Conversa comigo, filha.

Eu abraço o meu próprio corpo e respiro fundo, olhando para o rosto da minha mãe.

— Não quero conversar, mãe.

— Então está acontecendo alguma coisa? — ela insiste, mas eu respondo com o silêncio. — Quem cala consente. — a minha mãe se aproxima. — Eu sempre digo isso, mas é porque eu quero que você entenda. Ana, eu sou a sua mãe, eu quero o seu bem, sempre. Você sabe que pode contar comigo, porque eu sempre vou te apoiar em tudo.

Não, mãe. Você não vai. E isso acaba comigo. Eu vou te decepcionar de uma forma ou de outra. E mais cedo ou mais tarde você vai descobrir isso.

— Mas eu te respeito e vou entender se você não quiser conversar agora. Mas uma hora precisaremos conversar, estou preocupada e eu odeio te ver assim, sei que você não está bem, eu sei que você estava chorando. Mas vou esperar e respeitar o seu tempo para termos uma conversa. Eu te amo, meu amor. — mamãe me puxa para um abraço e beija a minha testa. Deito a cabeça no seu ombro e deixo as lágrimas escaparem. — Tudo bem, meu amor.

Não, mãe. Não está tudo bem. Eu não estou bem.
Na verdade não está nada bem.

Não está e não vai ficar tudo bem.











{...}

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